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Gil Santos
Publicado em 14 de maio de 2020 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
As 3 mil vagas da modalidade digital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) disponíveis para a Bahia foram preenchidas já no primeiro dia de inscrição do exame, na segunda, 11/5. Esse será o primeiro ano da versão online da avaliação. Salvador e Feira de Santana são as únicas cidades baianas que terão essa novidade.>
O Ministério da Educação (MEC) informou que as inscrições para fazer o exame vão até o dia 22 de maio, e que 1,5 milhão de candidatos já se inscreveram. O cartão de confirmação da inscrição, com o local de prova, será entregue aos estudantes em outubro. Já as avaliações serão aplicadas em novembro e os resultados individuais estarão disponíveis em janeiro.>
Pela primeira vez, 100 mil candidatos vão responder as questões pelo computador. Essa modalidade tem a mesma estrutura logística do modelo impresso. As provas irão ocorrer em postos aplicadores credenciados nas cidades definidas pelo edital e as máquinas serão disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).>
Na Bahia, apenas as cidades de Salvador e Feira de Santana vão oferecer Enem Digital. São 2,5 mil vagas na capital e 500 na Princesa do Sertão, mas todas já foram preenchidas. Segundo o MEC, até às 10h desta terça-feira (12), quase 93 mil pessoas tinham escolhido a modalidade online do Enem e as vagas acabaram primeiro em localidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Além da Bahia, não há mais vagas nos estados de Alagoas, Amazonas, Ceará, Goiás, Maranhão, e Pará.>
A estudante Juliana Oliveira, 18 anos, ficou chateada ao saber que perdeu a oportunidade de responder a prova digital. “Eu queria fazer para ver com é e também porque fico mais a vontade respondendo aos simulados no computador do que no papel. O Enem é uma prova muito cansativa, são horas e horas debruçada sobre a carteira, e ano passado fiquei com dor nas costas. Pena que não me inscrevi logo”, lamentou.>
Todas as 27 capitais do país vão oferecer o Enem Digital. São Paulo tem a maior quantidade, com 15 mil exames desse tipo, e Boa Vista (RR) a menor, com apenas 50 provas. No Nordeste, a Bahia tem o mesmo número de Pernambuco, 3 mil vagas. O estado mais contemplado foi a Paraíba com 3,7 mil, sendo seguida por Ceará (3,3 mil), Rio Grande do Norte (2,3 mil), Alagoas (2 mil), Maranhão (1,5 mil), Piauí (1,5 mil), e Sergipe (1 mil).>
Enquanto Juliana pretende fazer a inscrição no Enem até o próximo final de semana, outros candidatos foram mais ligeiros. Em 2020, o número de inscritos para as duas modalidades no primeiro dia foi maior do que no ano passado. O Inep registrou um total de 1.548.671 inscrições às 10 horas de terça-feira, sendo 1.455.736 para a versão impressa. No ano passado, o sistema tinha 1,3 milhão de candidatos até o final do primeiro dia.>
Justiça>
A decisão do MEC de manter as datas do Enem para novembro deste ano tem gerado polêmica. Nesta terça-feira, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) ingressou com uma ação civil pública no Tribunal Regional Federal (TRT) pedindo que seja suspenso o calendário do Exame. O coordenador-geral da entidade, Rui Oliveira, disse que a pandemia do novo coronavírus ampliou a desigualdade entre os candidatos.>
“Não podemos tratar de forma igual quem é desigual. Não dá para em tempos de pandemia, quando os colégios particulares de excelência estão tendo aulas normais remotas, aulas, não atividades, aulas para se preparar para o Enem, enquanto 70% dos 55 milhões de estudantes brasileiros não tem acesso a nenhum tipo de recurso. Como podemos tratar de forma igual quem é tão desigual? Nessa perspectiva é que entramos com uma ação civil pública, pedido a suspensão da data das provas”, afirmou.>
Rui também é membro da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e disse que a entidade também entrou com um pedido de prorrogação das datas das provas. As entidades aguardam a resposta da justiça.>
Na Bahia, as aulas na rede pública estão suspensas desde março. A medida foi tomada para frear o avanço da contaminação do novo coronavírus. Os estudantes estão sem aulas e atividades desde então.>
Em abril, uma decisão judicial em São Paulo determinou a suspensão do Enem, mas o Ministério da Educação recorreu. O MEC alterou a data das provas digitais de outubro para novembro, mesmo mês em que vão acontecer as avaliações impressas, mas não pretende suspender o exame. A Defensoria Pública da União (DPU), partidos políticos e entidades de classe também estão pedindo que a data das provas seja alterada.>
Adiamento>
A abertura das inscrições do Enem retomou a discussão sobre as implicações da realização do exame em meio ao cenário de pandemia. Confira entrevista com Ademar Celedônio, diretor de Ensino e de Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação:>
CORREIO: Quais são as implicações da manutenção do Enem em novembro?>
Desde a terceira semana de março, a gente tem a maioria das escolas fechadas no Brasil, entre públicas e privadas. As escolas particulares, de alguma maneira, na sua maioria conseguiram minimizar esse impacto através de atividades remotas, videoaulas e outros projetos de tecnologia. Já as escolas públicas algumas delas decretaram férias, alguns estados decretaram férias para ter tempo de se organizar e inclusive algumas estão voltando agora. Outros estados não conseguiram. Houve um prejuízo na continuidade dos estudos em pelo menos 20 dias e ainda hoje algumas redes de ensino de alguns estados não estão conseguindo ainda desenvolver 100% das atividades remotas. A gente tem exemplos muito bons, como o do estado da Amazônia, que já tinha um centro muito bem desenvolvido de distribuição de aulas. Virou um dos cases do Brasil. Mas a gente tem estados da federação que ainda não conseguiram. Então, na medida em que esses jovens estão sem o mínimo básico, que é o que tinha antes no ensino presencial, há uma tendência de, quando voltarem, a gente não conseguir fazer com que eles revisem os conteúdos até o exame. >
Há uma expectativa, inclusive, olhando para organismos internacionais, de que a volta das aulas deverá ser de forma parcial, então provavelmente a gente não vai ter a turma toda voltando, serão rodízios. Isso mostra que mesmo voltando presencial, a gente vai ter um ano difícil para se completar o conteúdo programático. O que se está pedindo é um alargamento das datas para tentar diminuir o prejuízo em que o aluno vai ter sem essas atividades. É claro que quando voltar as redes podem colocar uma aula a mais por dia, usar sábados e feriados para minimizar o impacto, mas a gente já tem nove semanas com as atividades letivas no Brasil paradas, com expectativa de irmos para 14 ou 15 semanas sem aulas. É muita coisa, é um vácuo. Sem falar que o ano de preparação já é um ano diferente, com muitas tensões. >
A Medida Provisória 934 determinou que não precisa ter 200 dias de aula em 2020, só precisa cumprir 800h letivas. Para a educação básica é uma boa ideia, mas para quem está no 3º ano do ensino médio é quase inócua porque precisa cumprir um cronograma. Quando o aluno está na 7ª série, ele consegue repor o conteúdo que não viu nas séries seguintes. Quando se tem 15 semanas sem aulas, se a gente multiplicar por cinco dias letivos são 75 dias, multiplicando por quatro aulas que a pessoa está deixando de assistir, são 300 aulas sem ver nesse período. É um prejuízo significativo e, se prova fosse um pouco mais à frente, poderia minimizar e daria mais conforto. >
Alguns alunos que têm acesso a internet conseguem, de fato, aprender nesse momento. Mas alguns alunos não porque a rotina do presencial, do calor do professor, dos colegas, do aprender em colaboração, não é a mesma coisa da forma remota. Então são experiências diferentes e provavelmente pode ter desigualdades nesse processo. Tem desigualdades tanto do ponto de vista sócio-econômico porque eu tenho comunidades que conseguem neste momento estudar porque têm condições financeiras e recursos tecnológicos suficientes, e temos a outra ponta, que são alunos que não conseguem estudar porque não têm o acesso à infraestrutura básica de internet — seja banda larga, seja um dispositivo, um computador ou smartphone com capacidade. Como todo mundo está em casa, estamos descobrindo que a internet está sobrecarregada. Então a gente imagina que mesmo quem tem acesso a um 4g tá com dificuldade hoje porque não está sendo tão rápido quanto nos dias comuns. >
Quais informações sobre os estudantes brasileiros indicam que um adiamento seria mais prudente?>
Uma coisa que acho que pouca gente está mencionando é que dentro do Enem temos categorias diferentes. Há vagas de cotas e ampla concorrência, que normalmente são os alunos de escola privada que se inscrevem. Os alunos de escola privada eles representam 15% desse universo e escolas públicas são 85%. Então, eu tenho dentro da escola privada camadas sociais A, B, C e D. Alunos de camadas A e B têm mais condições, estudam em melhores escolas, têm mais acesso à internet, aparelhos melhores. Dentro da rede pública tem estados que são muito bons tecnicamente e tem estados que não estão conseguindo ainda levar as aulas. Dentro desses dois nichos de concorrência ainda pode se gerar uma desigualdade se a prova for aplicada em novembro. Os alunos de camadas que estão mais adaptados e com acesso à internet vão conseguir provavelmente melhor êxito na prova. Você tem recortes diferentes onde se pode aumentar a desigualdade dentro dos próprios grupos. O aluno da classe A e B pode ter, além do seu professor que está dando aula pela escola, comprar outros cursos online e outras atividades que complementam o seu estudo.>
Videoaulas gratuitas>
O sistema SAS de educação lançou um programa gratuito de aulas ao vivo transmitidas pelo Youtube para estudantes que estão se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Novas aulas são transmitidas diariamente às 14h. Todas as mais de 700 aulas já exibidas para segundo e terceiro anos, bem como informações sobre a grade de disciplinas e um plano de estudo complementar, ficam disponíveis na rede social através do link www.aovivo.saseducacao.com.br/ >
Confira onde será aplicado o Enem Digital no Nordeste:>
Bahia Salvador – 2,5 mil vagas Feira de Santana – 500 vagas>
Alagoas Maceió – 1,5 mil Arapiraca – 500>
Ceará Fortaleza – 3,1 mil Quixadá – 100 Sobral – 100>
Maranhão São Luís – 1,2 mil Imperatriz – 300Paraíba João Pessoa – 2,3 mil Campina Grande - 1,4 mil>
Pernambuco Recife – 2 mil Caruaru – 500 Petrolina – 500>
Piauí Teresina – 1,4 mil Parnaíba – 100>
Rio Grande do Norte Natal – 2,3 mil>
Sergipe Acaraju - 1,4 mil>