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Nando Reis lança primeiro trabalho sem contrato com uma gravadora

Compositor lança Sei, seu primeiro álbum independente e cujo preço é dado pelos fãs no seu site oficial. Nas canções, o paulista, dono de vários sucessos na MPB, aborda questões afetivas e recebe Marisa Monte como convidada numa faixa

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  • Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2012 às 09:00

Salvatore [email protected]

O cara ao lado, com ar relaxado, dispensa apresentações para quem acompanha a cena pop e rock brasileira dos últimos 30 anos. Mas vamos lá, porque não custa nada dar uma forcinha para a memória e considerar, ainda, os leitores mais jovens. O cara é Nando Reis, 49 anos, ex-integrante da banda Titãs, cantor com elogiada carreira-solo e dono do dom de fazer canções de sucesso.

Mas o lado tranquilão, que ele de fato tem, é apenas uma face do artista. Como todo pai falando de seu filho, alterna momentos mais ásperos, como um protetor que defende uma parte de si, com outros mais doces, ternos. Nono maior arrecadador de direitos autorais no Brasil entre 2001 e 2011, ele fala de sua produção com o vigor de um iniciante. Mas sempre cuidando sobre o que diz. Sobre drogas e bissexualidade, já está cansado de falar. Melhor seguir em frente.

O Mundo Completo A cria, agora, é profissional, não biológica. O álbum Sei, com 15 músicas inéditas, é o décimo de sua carreira-solo e o primeiro que ele lança de forma independente, bem longe das amarras das grandes gravadoras. No site oficial www.nandoreis.com.br, os internautas podem ouvir de graça as músicas. Depois, dizem quanto acha que o disco vale. Semanalmente, é feita uma média dos valores, que acaba virando o preço do disco. Quem resolve comprar, recebe o produto em casa. É a forma que Nando está negociando agora, direto com ele.

Os fãs baianos, sempre fiéis, não precisam ficar alvoroçados. No próximo domingo, Nando faz o show da nova turnê em Salvador,  19h, na Concha Acústica do TCA (R$ 60/R$ 30), com apoio da Globo FM.

Em Sei, Nando continua tratando a música como uma espécie de narrativa de sua própria vida. Fala da família, mulher, filhos, de lugares por onde andou enquanto procurava por si mesmo e resgata antigos amores – mas sempre fiel à mulher, Vânia, homenageada na faixa Back in Vânia. Do passado, surge a estrela Marisa Monte. A ex-namorada de Nando já gravou algumas das suas composições, como Diariamente e Ainda Lembro. Agora, canta na faixa Pra Quem Não Vem. Essa é a primeira vez que os dois dividem os vocais.

O convite surgiu de Nando. Ele estava nos EUA, onde foi gravar o disco. Passando algumas músicas de madrugada, sentiu a necessidade de uma voz feminina. Na hora, pensou em Marisa.

“Liguei logo para ela. Nem pensava nessa faixa que ela acabou gravando. Mandei uma outra. Depois, ela me disse que achou linda, mas que a música não tinha gostado dela (risos). Mandei outras quatro e ela escolheu Pra Quem Não Vem. Achei que fez todo sentido”. A letra diz: “Nem a dor dessa saudade/ Futura flor que não abriu/ Nem a distância entre as cidades/ Podem te afastar de mim”.

Seattle  O disco foi gravado em  Seattle, berço do grunge. Nando e a banda trabalharam com Jack Endino, que já assinou a produção do Nirvana (anos 90), a banda mais famosa da cidade. “Sempre gravo em outra cidade (ele mora em São Paulo). Preciso me distanciar de minha vida cotidiana. Foi ótimo gravar com Jack, ele já produziu outros trabalhos meus, sozinho e com os Titãs. Pensamos da mesma forma, ensaiamos muito e gravamos rápido”, explica.

Sobre essa nova fase, independente, Nando mostra determinação a não voltar ao modelo antigo, por enquanto, pelo menos. Quando perguntado se acha o modelo arriscado, interrompe. “Quer algo mais arriscado que a gravadora botar um disco caro nas lojas e não incluir seu trabalho no catálogo?”, questiona. E está de empresário novo também. “Demiti o empresário antigo porque era um incompetente”, dispara, sem entrar em mais detalhes.

Um relicário  Nando nega boatos sobre outros shows com a ex-banda. “Nós fizemos uma apresentação pelos 30 anos dos Titãs. Queriam que eu fizesse mais, mas não vai dar por conta da agenda de shows de Sei”, afirma. Agora, pelo menos, ganha mais. Antes tinha de dividir o cachê com vários Titãs, brinca.

Encerrou agora a turnê do projeto anterior, Bailão do Ruivão, que esteve três vezes em Salvador. No DVD, gravou com Zezé Di Camargo e Luciano e a dupla Joelma e Chimbinha, da banda Calypso. “Ficavam perguntando o motivo do convite, se era provocação, se eu estava sendo irônico. Estou cagando para isso”.

Ele assina diversos hits que fizeram sucesso nas vozes de outros, como Onde Você Mora, hit do Cidade Negra nos anos 90. “Não me incomoda não ser conhecido por todos eles. Ninguém precisa saber de tudo. E até gosto desse certo mistério”, diz. Já com outras, a parceria é sempre lembrada, como a cantora Cássia Eller (1962–2001). Em Back in Vânia, diz que, em seu coração, moram a mãe, Cássia e Marcelo (Marcelo Fromer, guitarrista dos Titãs morto ao ser atropelado em 2001).

Em janeiro, Nando completa 50 anos. Conta que a data não tem peso para ele. “Se assusta? Sei lá. Lógico que ficar velho tem um lado estranho, o corpo muda. E sempre assusta saber que você vai morrer. Talvez, quando fizer 90 anos, olhe para trás e veja que me assustei por nada”.

Público raivoso Contrariando as respostas prontas, ele teria feito, sim, algumas coisas de modo diferente. “Adoro tudo que construi, são 30 anos de carreira, filhos. Tudo que conquistei e perdi foi por conta de minha profissão. Mas não gostaria de ter cometido alguns erros, alguns estúpidos. Eu não gosto de magoar ninguém. Mas isso faz parte”, diz, acrescentando ainda que, hoje, compõe muito menos.

Sobre Salvador, afirma que tem muitos amigos e parceiros por aqui e lembra um fato curioso na Concha. “Nos anos 80, com os Titãs, a Concha ainda não tinha palco coberto. O lugar estava lotado e começou a maior chuva. Na segunda música, o equipamento começou a dar pipoco. Tivemos que cancelar o show e o público começou a jogar coisas na gente”. Do episódio, a imagem da Bahia não saiu arranhada para ele, não. “O que saiu arranhado foram os equipamentos”, brinca. Verdades de afetos de um romântico, por Hagamenon BritoNando Reis é um daqueles artistas que você tem que gostar tipo pacote inteiro, com seus acertos e erros, belezas e feiuras, certezas e dúvidas, coerências e contradições - e que transforma sua vivência, da família aos amores e amigos, em canções vitoriosas muito acima da média do que faz sucesso no grande mercado musical brasileiro.

As letras que, às vezes, parecem espirais de frases sem nexo (como Pré-Sal: "Espadas de São Jorge sempre em guarda vigiam/ Inhames majestosos, negros caules que brilham/ Barras de lingote a caixa-forte continha/ As mãos de minha avó molhadas com glicerina/ Sirva-se por sortimento..."), mas que criam imagens poéticas originais, revelam os pensamentos de Nando sobre a vida e  são embaladas por  arranjos de folk rock que lhe dão uma identidade própria na música brasileira.Nando, como mostra novamente em canções como Sei e Pra Quem Não Vem (dueto com Marisa Monte), é, também, um romântico que sabe emocionar o público. 

Por ser um músico pop brasileiro de 49 anos, ele traz  também  um pouco da herança de Roberto Carlos, vide a bela balada Coração Vago, que evoca o melhor do soul’n’rock  do Rei dos anos 70:  "Eu sei que não basta simplesmente mais uma vez dizer I love you/ Até mesmo porque I love you nunca soa bem - meu inglês é péssimo/ Eu sei que eu gostaria de agir de um modo diferente/ Mas você nunca pediu pra que eu fosse outro/ Mas quem desejaria que outro alguém além do seu amor, pra sua dor fosse remédio?/ Sou um sujeito imperfeito/ Mas o lado esquerdo do peito/ Por inteiro te ofereço/ Meu coração vago...".

Produzido por Jack Endino e com uma boa dose de soul acrescida aos arranjos (vocais, inclusive), Sei reafirma Nando Reis como um dos grandes compositores do país.