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Da Redação
Publicado em 22 de março de 2021 às 14:48
- Atualizado há 2 anos
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro deflagrou nesta segunda-feira, 22, a Operação Gárgula para investigar suposta organização criminosa responsável pela movimentação financeira e lavagem de dinheiro do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020 pela PM da Bahia. A ofensiva busca cumprir mandados de prisão preventiva contra a mulher de Adriano, Julia Emilia Mello Lotufo, o soldado da PM Rodrigo Bitencourt Fernandes Pereira do Rego e Daniel Haddad Bittencourt Fernandes Leal.>
Promotores e agentes da Coordenação de Segurança a Inteligência do MP fluminense cumprem ainda 27 mandados de busca e apreensão em diversos endereços do Rio, Niterói e Guapimirim. A Justiça do Rio também determinou o sequestro do Haras Fazenda Modelo e de automóveis, além do bloqueio de R$ 8,4 milhões, correspondentes ao valor constatado em movimentações dos investigados.>
Ao todo, nove pessoas foram denunciadas junto à 1ª Vara Criminal Especializada da Capital por crimes de associação criminosa, agiotagem e lavagem de dinheiro, indicou o MP do Rio. Os acusados são integrantes da rede de apoio de Capitão Adriano, responsáveis por lavar o dinheiro obtido pelo miliciano.>
Segundo a denúncia, integravam tal rede de apoio os três alvos das preventivas - Rodrigo Bitencourt, Julia Emilia e Daniel - e o sargento da PM Luiz Carlos Felipe Martins (vulgo Orelha). Este último também teve a prisão decretada, mas foi morto no último sábado, 20, em Realengo, "em circunstâncias ainda a serem esclarecidas".>
Também foram denunciados, com medidas cautelares diversas de prisão deferidas pela Justiça, Carla Chaves Fontan, Carolina Mandin Nicolau, Jefferson Renato Candido da Conceição (vulgo "Sapo"), David de Mello Lotufo e Lucas Mello Lotufo.>
Segundo a Promotoria, a ação é um desdobramento da Operação Intocáveis, que mirou em integrantes da milícia de Rio das Pedras, liderada por Adriano da Nóbrega. O miliciano, que é apontado como um dos fundadores do Escritório do Crime, também está no centro das investigações do caso das supostas "rachadinhas" no gabinete de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) à época em que o filho do presidente Jair Bolsonaro era deputado estadual no Rio.>
Em setembro de 2005, Adriano recebeu a Medalha Tiradentes da Assembleia Legislativa, por iniciativa do então deputado e hoje senador Flávio Bolsonaro. A ex-mulher e a mãe de Adriano, um ex-policial militar que se envolveu com o crime e era conhecido como Capitão Adriano, eram funcionárias em cargos de confiança no gabinete de Flávio no Legislativo fluminense. Era lá que, segundo o MP, funcionava um esquema de desvio de dinheiro de salários, pela contratação de servidores "fantasmas".>
Como funcionava o esquema A denúncia do MP do Rio indica que entre 2017 e fevereiro de 2020, Rodrigo Bittencourt, Julia Lotufo, Carolina Nicolau, Daniel Haddad, Carla Fontan e Luiz Carlos Martins, sob as ordens de Adriano, atuaram na "concessão de empréstimos a juros exorbitantes a terceiros (até de 22%), utilizando-se de empresas de fachada. O dinheiro investido para esses empréstimos era oriundo dos lucros auferidos pelo miliciano com as práticas criminosas da organização paramilitar em atuação na comunidade de Rio das Pedras e adjacências, além de seu envolvimento na contravenção", explicou a Promotoria em nota.>
O Ministério Público do Rio detalhou o esquema sob suspeita, indicando que uma das empresas utilizadas na lavagem de dinheiro de Capitão Adriano era a Cred Tech Negócios Financeiros Ltda. A companhia tinha como sócios o PM Rodrigo Bittencourt e Carolina Mandin. Segundo as investigações, a suposta empresa de fachada movimentou R$ 3.624.531,00 entre 1º de agosto de 2019 e 28 de abril de 2020.>
Já Jefferson da Conceição e Daniel Haddad Leal teriam atuado como "laranjas" no esquema de lavagem de dinheiro, indica a Promotoria do Rio. Os bens dos devedores da Cred Tech eram confiscados por eles e passados para seus nomes, apontam os investigadores.>
Daniel foi alvo de busca e apreensão em fevereiro de 2020 quando foi apreendido em seu poder R$ 124.600,00 pertencentes à organização criminosa. A Cred Tech foi mantida após a morte de Adriano, mas não foram identificadas operações financeiras suspeitas após o dia 9 de fevereiro de 2020.>
O homem de confiança e a viúva Luiz Carlos Felipe Martins, morto no último sábado, é descrito na denúncia como "homem de confiança" de Adriano. Segundo os investigadores, ele auxiliava o miliciano na administração dos valores que seriam disponibilizados a título de empréstimos. Ele também era responsável por levar valores a familiares e prestadores de serviços de Adriano e pelo pagamento das despesas pessoais do miliciano com aluguel, carros e cartões de crédito. A ação penal será extinta em relação a ele, informou o MP.>
Já Julia Lotufo, mulher de Adriano, é apontada pela Promotoria como responsável pela contabilidade e gestão financeira do miliciano. O MP-RJ diz ainda que Rodrigo, Daniel e Luiz Felipe se reportavam a ela para prestar contas sobre os valores pertencentes a Adriano - que eram investidos a título de empréstimos ou para a constituição de outra empresa usada na lavagem, a Lucho Comércio de bebidas, cujos sócios eram Rodrigo Bittencourt e Carla Fontan.>
Ainda segundo a Promotoria, alguns meses depois da morte de Adriano, Rodrigo e Carla transferiram todo o capital social da Lucho Comércio de bebidas a Lucas Lotufo e David Lotufo, irmãos de Julia. "A alteração contratual evidencia, segundo os investigadores, que a denunciada Julia permaneceu agindo com o intuito de ocultar e administrar o patrimônio de Adriano, beneficiando-se diretamente do proveito dos crimes por ele praticados", avalia a Promotoria.>
A investigação identificou ainda que Julia, assim como Luiz Carlos Felipe, supostamente atuaram na dilapidação do patrimônio de Adriano com a venda imediata de ativos de alta liquidez.>