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Da Redação
Publicado em 16 de fevereiro de 2019 às 08:54
- Atualizado há 2 anos
O ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, escolheu o texto do escritor baiano Edgard Abbehusen para fazer um desabafo na sua conta no Instagram na madrugada deste sábado (16). “O desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça”, diz um dos trechos da mensagem.
O texto publicado por Bebianno exalta a lealdade nas relações humanas. “A lealdade constrói pontes indestrutíveis nas relações humanas. E repare: quando perdemos por ser leal, mantemos viva nossa honra”, diz o trecho da mensagem. Sem mencionar ninguém a postagem diz que a lealdade “conduz os passos das pessoas que jamais irão se perder do caminho”, “nas turbulências” e “circunstâncias.” “Uma pessoa leal, sempre será leal. Já o desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça”, encerra o texto. Bebiano, que está envolvido no centro da crise do governo de Jair Bolsonaro, não cita nominalmente ninguém na postagem onde ele usa o texto do escritor nascido em Muritiba, que tem mais de 500 mil seguidores no instagram. Ao CORREIO, na manhã deste sábado, Abbehusen confirmou que o texto publicado pelo ministro é de sua autoria, mas ressaltou que não teve inspiração política na escrita. “O texto surgiu como quase todos da página, entre conversas com os amigos, no dia a dia. Sempre abordo esse tema de amizade, fortalecimento de vínculos, relacionamentos, etc”, afirmou o escritor que é autor do livro ‘Quem tem como me amar não me perde em nada” (ED. VILLARDO, 2017). O texto sobre a lealdade foi publicado no instagram de Abbehusen na sexta-feira (15). Foto: Reprodução Crise de Bebiano Após dois dias de espera, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, foi recebido ontem pelo presidente Jair Bolsonaro, entretanto a sua permanência no cargo ainda é considerada incerta. Interlocutores do governo não descartam que Bebianno seja demitido do cargo até segunda-feira. A reunião entre eles foi descrita como tensa, mas de acordo com as palavras de um amigo do ministro, “foi um encontro necessário”. Pessoas próximas ao ministro dizem que, caso a demissão se confirme, ele sairá “atirando”. Antes do encontro com Bolsonaro, ele fez chegar ao presidente que até aceitaria deixar o governo, desde que se negociasse uma “saída honrosa”. Gustavo Bebianno foi convidado a ocupar a diretoria de uma estatal, mas não aceitou, segundo o relato de auxiliares diretos do presidente ao jornal O Globo. Esses auxiliares ponderaram, no entanto, que o assunto continuará sendo tratado no fim de semana. A permanência de Bebianno no governo tinha sido costurada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no decorrer do dia, mas Bolsonaro não ficou satisfeito. Queria rebaixar o auxiliar de posto, o que não foi aceito por Bebianno. Segundo os auxiliares de Bolsonaro, o presidente e o seu ministro teriam combinado uma nova conversa na segunda-feira. Encontro Ao longo da semana, Bebianno tentou ser recebido por Bolsonaro diversas vezes, mas vinha sendo ignorado. Ontem à tarde, o presidente resolveu atendê-lo. Em um primeiro momento, a conversa teve a participação do vice-presidente, Hamilton Mourão, de Onyx e de Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Ao final, o ministro e o presidente se reuniram sozinhos em um diálogo ríspido, com ataques de ambos os lados. A gota d’água, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados, exclusivos da Presidência, entre Bolsonaro e Bebianno ao site O Antagonista e à revista Veja, segundo informações da coluna Painel, da Folha de S. Paulo. Envolto numa crise provocada pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, o ministro passou os últimos dias tentando se segurar no cargo. Bebianno enfrenta um processo de desgaste provocado por denúncias envolvendo irregularidades na sua gestão à frente do caixa eleitoral do PSL, partido dele e do presidente Bolsonaro. Durante a crise, Bebianno recebeu o apoio de ministros palacianos, militares do governo e parlamentares, incluindo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Eles consideraram grave o envolvimento de familiares de Bolsonaro com o governo e atuaram para segurar Bebianno no cargo e, consequentemente, evitar a imagem de que o rumo do país é ditado pelos filhos do presidente. Ao desabafar anteontem com integrantes do governo, Bebianno disse que “não se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado. É preciso ter o mínimo de consideração com quem esteve ao lado dele o tempo todo”. Dia de reviravoltas No decorrer do dia, o ministro chegou a ser informado pelo seu colega da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de que permaneceria no cargo. Entretanto, não houve qualquer manifestação oficial sobre o assunto ontem. No início da tarde, o ministro da Secretaria-Geral afirmou que não havia “crise nenhuma” no governo, apesar de afirmar que não sabia se iria permanecer no cargo. Ao deixar o Palácio do Planalto para almoçar, Bebianno foi questionado pela reportagem da TV Globo sobre uma suposta crise no governo e respondeu: “Para mim, não tem crise nenhuma”. O ministro, que estava acompanhado da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), disse também que não sabe se permanecerá no comando da pasta. “Estou aqui, não estou?”, disse o ministro ao ser indagado sobre o assunto. Estopim da crise No último fim de semana, o jornal Folha de S. Paulo informou que o PSL repassou R$ 400 mil a uma candidata a deputada federal de Pernambuco que recebeu 274 votos, quatro dias antes da eleição. Ainda segundo o jornal, o repasse foi feito no período em que Gustavo Bebianno era presidente do partido. De acordo com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, a Polícia Federal investigará as suspeitas de irregularidade nos repasses. A controvérsia agravou-se quando o vereador Carlos Bolsonaro desmentiu o ministro da Secretaria Geral da Presidência em uma rede social, depois de este dizer que havia conversado com o presidente sobre o caso. Para sustentar o que chamou de “mentira”, o filho do presidente divulgou uma gravação em áudio do pai na qual ele supostamente conversa por telefone com Bebbiano. A gravação reproduz somente a voz de Bolsonaro. Desde anteontem, a avaliação entre aliados de Bebianno era de que, após o desgaste provocado pelos ataques de Carlos, seria difícil que os dois permanecessem juntos no governo, o que faria com que o presidente tivesse que escolher entre um deles. Apesar do cargo de vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos possui aliados no Planalto e influência nas decisões. Bolsonaro chegou de surpresa ao Palácio do Planalto no meio da tarde, apenas poucos minutos depois de Bebianno deixar o prédio. O desencontro, segundo aliados de Bebianno, não teria sido proposital. De acordo com eles, o ministro não sabia que o presidente estava a caminho quando saiu. Diante do clima de incerteza em torno da permanência no cargo, Bolsonaro chegou a cogitar fazer um pronunciamento público sobre o assunto, mas desistiu.