Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Geraldo Bastos
Publicado em 5 de novembro de 2021 às 06:08
- Atualizado há 2 anos
A mineradora Largo Vanádio de Maracás vai implementar, a partir do ano que vem até 2032, um robusto plano de investimentos na Bahia, contemplando recursos da ordem de US$ 590 milhões (cerca de R$ 3 bilhões). A maior parte do orçamento - US$ 360 milhões (R$ 1,836 bilhão) - será empregada na construção de uma fábrica para a produção de pigmento de titânio, material bastante utilizado nas indústrias química e de construção. A unidade, que ficará no Polo Industrial de Camaçari, entrará em operação em 2024 e vai gerar mais de 500 empregos. Paulo Misk, presidente da empresa, explica que a fábrica de Camaçari irá recuperar o titânio dos rejeitos de vanádio, ou seja, não irá aumentar os impactos ambientais na mina localizada no município de Maracás. "Nosso processo não terá impacto no meio ambiente, não jogará nenhum efluente na natureza. Todo o rejeito do processo de fabricação do pigmento de titânio, também vamos reclicar. Uma parte dele vai virar fertilizante", disse Misk. Neste momento, a Largo está finalizando a aquisição do terreno em Camaçari. Depois, irá aguardar a aprovação da localização por parte do governo do estado para, então, iniciar a construção da planta, o que irá ocorrer a partir do ano que vem. Esta fase vai demandar pelo menos 24 meses. A produção terá inicio no primeiro trimestre de 2024. Misk informou que o projeto terá três etapas. A primeira, com investimento de US$ 96,390 milhões (R$ 491,6 milhões) , entrará em operação em 2024, produzindo 30 mil toneladas. Na segunda fase, em 2026, a companhia terá capacidade de beneficiamento de 60 mil toneladas. Quando estiver operando a plena carga, em 2029, serão 120 mil toneladas anuais - mais ou menos o que o Brasil importa hoje. A produção da companhia será destinada, em sua maior parte, ao mercado brasileiro.
"Vamos fazer a fábrica em fases. Assim conseguimos diluir melhor os investimentos. Tudo será financiado com recursos próprios", afirma Paulo Misk. "A Largo vai investir na Bahia alinhando energia renovável (produção de baterias de vanádio) e recuperando titânio do rejeito", enfatiza o executivo. A notícia dos novos investimentos da Largo foi comemorada pelo presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antonio Carlos Tramm. "Temos defendido a todo tempo que a mineração tem que verticalizar a sua produção. Temos que exportar produtos com maior valor agregado. Cada vez que você verticaliza a produção você está gerando mais renda e emprego aqui dentro. Esta decisão da Largo é um grande avanço de mentalidade. Esperamos que outras empresas façam o mesmo", disse.
“O estado da Bahia é sem sombra de dúvidas um estado de oportunidades para novas empresas. A prova disso é que temos também a Vanádio de Maracás, uma das maiores mineradoras do estado, e a única a produzir a substância homônima no país. A Largo Resources em 2020 foi a 6º maior mineradora na participação da produção comercializada da Bahia, além de ampliar sua planta de beneficiamento para produção do trióxido de vanádio produto que tem um grau de pureza mais elevado, cuja maior demanda está na indústria aeroespacial, indústria química e eletrólito de vanádio para uso em baterias do tipo VRFB", ressaltou Nelson Leal, secretário de Desenvolvimento Econômico.Duplicação
O plano de investimentos do grupo para a próxima década prevê ainda um aporte de US$ 230 milhões (R$ 1,173 bilhão) na expansão da produção de vanádio para baterias. A meta é, a partir de 2030, alcançar na mina de Maracás uma produção anual de 15.900 toneladas, contra as atuais 12 mil toneladas. O vanádio é um material que tem como característica aumentar a resistência do aço, possibilitando um uso mais sustentável do metal. Além disso, o material é utilizado pela indústria aeroespacial. A planta de Maracás é uma das mais modernas em processamento do minério no mundo. O Pentóxido de Vanádio produzido lá tem um grau de pureza de 99,5%. O percentual de recuperação de minério é de 80%, o maior do planeta. "Hoje nos respondemos por mais ou menos 7% da produção mundial. Então a gente quer aumentar a produção de vanádio para atender as necessidades de baterias de vanádio, que é um mercado muito grande", afirma Misk. A produção de baterias é feita nos Estados Unidos. "Já fechamos um contrato com a Enel, na Espanha, e esperamos fechar um outros nos Estados Unidos ainda este ano", conta o executivo. A tecnologia de vanádio para baterias no mundo já existe, mas o uso em maior escala é esperado para os próximos anos. As baterias de vanádio permitem guardar energia por mais tempo e com menores custos frente às rivais fabricadas com lítio. As aplicações possíveis para os produtos incluem o uso associado a instalações de geração eólica ou solar, permitindo o armazenamento de excessos de produção para aproveitamento quando há falta de sol ou vento; e a instalação junto a sistemas de geração em regiões remotas e sem acesso à rede, por exemplo. E tem uma outra boa notícia: através de um estudo de viabilidade publicado, a companhia confirmou que suas reservas minerais se estenderam para 20 anos, um aumento de 12 anos em comparação com os parâmetros estabelecidos no relatório técnico da empresa de 2017. A Largo Vanádio de Maracás vai fechar o ano com uma produção de 11.600 toneladas. Deste total, 10% fica no mercado interno e o restante é exportado para os EUA, Europa e Ásia. A companhia emprega mil pessoas. Gera ainda 12 mil postos indiretos. "A receita que a gente obtém com a exportação é aplicada no Brasil. Nunca mandamos um centavo de dividendos para o Canadá (sede da empresa). O lucro é para fazer mais investimento, gerar mais emprego e continuar desenvolvendo a economia da Bahia", afirma Misk. "A Largo não vende minério do jeito que sai do chão. A gente agrega muito valor. O vanádio vai muito agregadopara o exterior", acrescenta.