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Bruno Wendel
Publicado em 10 de fevereiro de 2020 às 17:30
- Atualizado há 2 anos
O miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-policial militar carioca e conhecido como Capitão Adriano, morto pela Polícia Militar baiana na cidade de Esplanada, no Litoral Norte da Bahia, lavava dinheiro com a compra de gado e terrenos no estado. Ele foi morto dentro de um sítio, pertencente ao vereador da cidade Gilson Lima (PSL), irmão do vice-presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, o deputado estadual Alex Lima (PSB).>
“Ele estava lavando dinheiro em nosso estado, comprando gado e terrenos e isso passou a ser interesse nosso”, declarou o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Teles Barbosa, em entrevista à TV Bahia, sem dar mais detalhes sobre o assunto. >
Adriano da Nóbrega é citado na mesma investigação sobre uma suposta "rachadinha" no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), hoje senador. De acordo com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), a suspeita é de que as contas de Adriano foram usadas para transferir dinheiro a Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio. >
Pelo menos duas pessoas ligadas a Adriano foram empregadas no gabinete de Flávio - as duas teriam sido contratadas através de Queiroz. Foram justamente a ex-mulher de Nóbrega, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega (2007 a 2018), e a mãe do miliciano, Raimunda Veras Magalhães (2016 a 2018).>
Ex-Bope e líder de milícia Capitão Adriano, ex-Bope, é acusado de liderar uma das maiores milícias do Rio de Janeiro, o Escritório do Crime, e estava foragido desde janeiro de 2019. De acordo com informações da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), ele começou a ser monitorado por equipes de inteligência da pasta após a informação de que havia buscado esconderijo na Bahia.>
De acordo com a SSP-BA, primeiro os policiais foram até uma casa, onde encontraram um homem com três armas — um revólver e duas espingardas. O indivíduo confessou aos agentes que estava com Adriano da Nóbrega e indicou a localização do miliciano carioca. Adriano, que é ex-tenente, foi encontrado pelos policiais numa casa vizinha à primeira. O homem que delatou Adriano foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo e está detido em Salvador. Por restrições da Lei de Abuso de Autoridade, a SSP não informa o presídio e nem a naturalidade do preso.>
Ainda segundo a SSP-BA, Adriano resistiu à abordagem e disparou contra os policiais. Houve troca de tiros e ele acabou ferido. Levado para um hospital da região, não resistiu. O corpo dele permanece no Instituto Médico Legal (IML) de Alagoinhas à disposição da família.>
Segundo os policiais baianos, ele estava com uma pistola austríaca calibre 9mm — o que a defesa nega. Ele teria, de acordo com a versão oficial da morte, trocado tiros com os agentes.>
O miliciano estava numa casa no distrito de Palmeiras, na zona rural de Esplanada. O imóvel está dentro do sítio que pertence ao vereador da cidade Gilson Lima (PSL). Há uma semana Gilson e a família estão em Recife, mas por telefone falou com o CORREIO, na manhã desta segunda-feira (10).>
Ele disse que tomou conhecimento do fato através da imprensa. “Soube do ocorrido por meio dos vizinhos, informando que houve uma perseguição, que houve uma troca de tiros e que entraram no sítio. Liguei para uma pessoa ir lá e já não tinha mais ninguém. A partir daí, tomei conhecimento através da imprensa, que houve uma operação, que se tratava de um bandido”, declarou.>
Ele contou que ligou para polícia. “Depois liguei para o delegado da cidade e disse que o sítio pertence a mim, se ele precisava de alguma informação e ele me falou que era uma operação da polícia especializada com o apoio da Secretaria da Segurança Pública, que ele não tinha participado, que soube depois da ocorrência, que não sabia de detalhes”, declarou. (Foto: Reprodução) 'Eu não sei' Gilson não soube explicar como Adriano foi parar em sua propriedade. “Eu não sei. O que estou sabendo é pela imprensa, que havia uma perseguição, que a polícia vinha monitorando e ele foi encontrado no lugar (sítio). Eu não tenho uma precisão porque ainda não falei com ninguém da operação, entendeu?”, respondeu ele ao CORREIO.>
Sem dar detalhes da propriedade, ele disse que o sítio é uma área pequena, que vez e outra vai lá para levar alguns gados, e que não há uma segurança no local. “Como é uma área pequena, lá não tem morador, quando vou lá é esporadicamente. Há 20 dias estive lá. Nunca pus segurança lá porque nunca aconteceu de alguém pegar nada lá. De vez em quando coloco um gadinho lá, coisa pouca”, explicou.>
Sobre os comentários na cidade de que Adriano já estava em sua propriedade há bastante tempo, e que ele vinha participando de vaquejadas e cavalgadas na região, o vereador respondeu: “Não recebi nenhuma informação (de que ele estava há tempo lá). A única pessoa com quem falei foi com o delegado e o mesmo não tinha detalhes e não tive essa informação. Inclusive, liguei para um vizinho e perguntei se ultimamente tinha notado algo estranho e ele respondeu que não. Estou voltando para saber de fato o que aconteceu”.>
Em nota, a executiva estadual do PSL na Bahia esclarece que o vereador Gilsinho da Dedé foi eleito em 2016, momento em que o PSL Bahia era administrado por outro grupo político. "O vereador Gilsinho da Dedé, assim como outros vereadores que foram eleitos antes de 2018, está aguardando a janela partidária para migrar para outra sigla. O diretório estadual do PSL Bahia nunca teve contato com o edil", finaliza.>
Veja vídeo da casa onde Adriano foi baleado (imagens fortes)>
O irmão do vereador, o deputado estadual Alex Lima se manifestou na manhã desta segunda-feira (10) através de uma nota e pediu "rígidas investigações a fim de sabermos o que um criminoso foragido fazia numa propriedade particular. Confiamos no trabalho da Polícia, na Justiça e acima de tudo na verdade. Tenho certeza de que os fatos serão apurados e nós estaremos sempre dispostos a contribuir com as investigações”.>
O CORREIO procurou a SSP para saber, entre outras circunstâncias, há quantos anos Adriano vivia em Esplanada e o que fazia. A resposta da assessoria de comunicação é que tudo está sendo apurado. Foi perguntado se procede a informação de que uma prima de Adriano atua como veterinária na região de Esplanada e que ela também seria investigada. A assessoria respondeu que desconhece a informação.>