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Bruno Wendel
Publicado em 9 de junho de 2020 às 18:24
- Atualizado há 2 anos
(Foto: Divulgação) A faca deixada no jardim de uma casa em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), é o indício de que o crime foi planejado. O objeto, do tipo peixeira e até então nunca visto pelos moradores do imóvel, foi usado para matar o menino Pablo de Jesus, de 14 anos, que sofreu três perfurações nas costas.
O alvo do assassino, o ajudante de pedreiro Luiz Marques Ribeiro Correia, 36 anos, conhecido como Duca, era a mãe do garoto, a dona de casa Cremilda de Jesus dos Santos, 34. Ela e o criminoso tiveram um relacionamento, que acabou há um ano, após a mulher ter levado um soco no rosto por ciúmes.“Ele veio para me matar, mas meu filho não deixou que ele viesse até mim. Aí ele atacou Pablo”, desabafou Cremilda.Mesmo com o ataque a Pablo, Cremilda não escapou da ira do ex-companheiro. Ela foi esfaqueada na altura do peito quando tentava salvar o menino. O ataque contra mãe e filho aconteceu na última sexta-feira (5), no bairro do CIA I. Ambos foram socorridos para hospital municipal da cidade e o adolescente morreu no sábado (6).
Momentos antes das facadas, o criminoso havia escutado uma conversa de Cremilda com o pai dos cinco filhos dela, entre eles Pablo, o mais velho de todos.“Apesar de tudo, sempre tratei ele (Duca) bem. Na sexta, ele apareceu e ouviu uma conversa minha com o pai dos meninos e saiu. Depois, voltou e atacou meu filho”, contou a dona de casa ao CORREIO durante o trajeto à 22ª Delegacia (Simões Filho), na manhã desta terça-feira (9).Por volta das 10h, Cremilda chegou à delegacia, onde foi ouvida pelo delegado titular da unidade, Leandro Acácio da Cruz de Jesus. “Ela estava muito arrasada. Contou que o ex-companheiro foi quem matou seu filho, mas quando a gente tenta avançar nos detalhes, ela desabava. Detalhar a história é relembrar toda a tragédia, que está muito recente”, disse ele.
O delegado disse que não há dúvida que o crime foi premeditado. “A mãe da vítima não reconhece a faca como objeto da casa e o suspeito saiu e voltou depois e aplicou os golpes”, contou o delegado, que preferiu não falar mais sobre o caso para não comprometer a investigação.
Nesta terça, o acusado se apresentou na 23ª Delegacia (Lauro de Freitas), acompanhado de dois advogados. Ele foi ouvido por cerca de duas horas e liberado em seguida. "Fiz o interrogatório e ele foi liberado em seguida, pois não existe situação de flagrante e não temos nenhuma medida cautelar, de prisão temporária ou preventiva contra ele. Agora vamos prosseguir com as investigações e colher novos depoimentos, para tomar novas medidas", disse o delegado.
"Ele disse que acabou se desentendendo com o adolescente de 14 anos. Afirma que estava bebendo antes do fato e que aí brigou por besteira e acabou esfaqueando o menino. Sobre a faca, ele disse que inicialmente tinha saído para pescar e, por isso, estava com essa faca. Disse que não tinha intenção de esfaquear Cremilda, que não sabe o que aconteceu e que saiu desesperado com o que aconteceu", completou Leandro. Faca usada no crime foi deixada pelo acusado ainda na casa da vítima (Foto: Divulgação) Crime O crime aconteceu na Rua Raquel de Almeida, quadra VI, bairro do CIA I. Pouco antes de prestar depoimento na delegacia, Cremilda contou ao CORREIO que na sexta-feira, por volta das 15h, estava em casa com os filhos, a mãe dela e o irmão, quando Duca apareceu para mais uma tentativa de reconciliação.
“Eu terminei com ele, mas não o tratava mal depois disso. Não queria voltar porque há um ano ele me deu um soco no rosto. Não dei queixa na delegacia porque ele se desculpou. Nunca imaginei que pudesse chegar a esse ponto”, declarou ela.
Cremilda relatou que num determinado momento atendeu a ligação do ex-marido, pai de seus filhos. Ela acredita que isso tenha provocado a ira do acusado. “Só pode ter sido isso, porque eu vi que ele percebeu com quem eu estava falando, com o pai dos meus filhos, que queria saber como estavam as crianças. Depois disso, ele saiu às pressas”, disse ela.
Por volta das 17h30, o acusado retornou à casa da ex-companheira e deu de cara com Pablo, que estava sozinho na sala – a mãe, a avó, o tio e os irmãos estavam no fundo do imóvel. Cremilda disse que não viu as facadas, mas ouviu o final da conversa do filho com o algoz e, logo depois, os gritos.“Meu filho dizia: ’Não, você não vai, não vai’. Como se estivesse impedindo que ele chegasse até mim. Foi quando escutei os gritos de Pablo, corri para sala e pulei em cima dele (Duca) para salvar meu filho, foi quando também foi esfaqueada”, contou a dona de casa.A tragédia seria maior. O irmão de Cremilda, que também estava nos fundos da casa, percebeu a gritaria e também correu para a sala. Ele chegou na hora e impediu o acusado de aplicar outros golpes na dona de casa. “Segurei por alguns instantes, mas ele conseguiu se livrar e correu”, contou o tio de Pablo.
Números Este ano, segundo dados divulgados no bletim diário de ocorrências da Secretaria de Segurança Pública (SSP), 40 pessoas com menos de 18 anos foram vítimas de crimes violentos letais intencionais (CVLIs), que incluem homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, em Salvador e Região Metropolitana, de janeiro a maio. Foram cinco casos em janeiro, 10 em fevereiro, 10 em março, 9 em abril e 6 em maio. Em junho, há mais dois casos até o dia 8, mas os dados ainda não são considerados definitivos - o de Pablo, por exemplo, não aparece no boletim.
Também de janeiro a maio, 63 mulheres foram assassinadas na capital e RMS. O mês de março teve o maior número de casos - 18. Houve ainda 12 em janeiro, 13 em fevereiro, 9 em abril, 11 em maio. Em junho, houve mais um caso, nesse caso, um feminicídio em Boa Vista de São Caetano, no domingo: Lucidalva Maria Barbosa, 42 anos, foi morta com uma facada no peito pelo companheiro, preso em flagrante logo após o crime.