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Mancha de óleo já matou pelo menos 10 filhotes de tartaruga, diz Projeto Tamar

Projeto Tamar recebeu 10 filhotes do animal mortos devido ao contato com o óleo

  • D
  • Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2019 às 05:30

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Maurício Cardim/Divulgação

Filhotes de tartarugas mortos e encharcados de óleo, peixes asfixiados e crustáceos cobertos de preto. As manchas de óleo que atingiram a região Nordeste no mês de setembro e atingiram a Bahia na última quinta-feira (10) não deixaram rastros apenas na areia das praias.

Segundo um levantamento do Projeto Tamar, os primeiros registros de tartarugas mortas começaram na semana passada, na Bahia. Desde a última sexta-feira (11), foram recolhidos 10 filhotes mortos nas praias de todo o estado. Outros dois foram resgatados com vida e passarão por uma reabilitação antes de serem soltos no mar.

Já o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tem outros dados. Segundo o órgão federal, foram registrados 14 animais marinhos mortos na região, sendo duas tartarugas na Bahia. Outras três tartarugas foram resgatadas sujas de óleo no estado, mas com vida e também passarão com reabilitação.

De acordo com o Projeto Tamar, o processo para recuperar esses animais envolve a retirada dos resíduos, além de submetê-los a fluidoterapia e utilização de anti-tóxicos. No caso dos filhotes, o cuidado precisa ser ainda maior, porque eles são mais frágeis e suscetíveis aos efeitos físicos e tóxicos das manchas de óleo, por estarem iniciando o seu desenvolvimento.

O biólogo Maurício Cardim explica que o óleo é muito viscoso e, por isso, se torna uma espécie de barreira para os filhotes que tentam chegar no mar. “Eles ficam presos no óleo. Com esse contato, estão expostos a gases emitidos pelo petróleo cru, principalmente quando expostos ao sol”, diz. Segundo ele, o material esquenta muito rápido e a temperatura elevada desencadeia um processo químico que gera intoxicação.

Em nota postada no site do Projeto Tamar, a instituição afirma que as equipes têm intensificado o monitoramento da situação para garantir que os filhotes que eclodem em ninhos nas praias não fiquem presos no óleo. Nos locais mais afetados, as tartarugas são retidas e liberadas ao mar a partir de uma avaliação diária da situação das praias, fornecida pelos órgãos responsáveis. Assim, os animais são levados a áreas de menor risco para serem soltos.

A equipe do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) que esteve ao local coletou 18 animais mortos para realizar a necrópsia, como lagostas, camarões, mexilhões, lesmas do mar e corais. Segundo o diretor da unidade, Francisco Kelmo, 80% destes bichos morreram por asfixia, pois o óleo se liga às brânquias e às guelras, e os corais ficam recobertos pelo resíduo.

Outros animais devem ser recolhidos durante a semana. Segundo Kelmo, o instituto deseja fazer o sobrevoo dos mangues para localizar os pontos mais críticos, para quantificar o número de vivos e mortos, e medir o impacto do óleo. O diretor afirmou que manguezais já foram atingidos na Bahia.

Kelmo aponta ainda a importância dos mutirões de limpeza voluntário. Para ele, é necessário unir os esforços para conter os danos ambientais. “A ação da população é muito bem-vinda. Quanto mais rápido, menos difícil vai ser a recuperação. O instituto não vai parar enquanto não resolver o problema”, garante. Tartarugas foram encontradas com manchas de óleo no corpo (Foto: Maurício Cardim/Projeto Tamar) Atenção perto do óleo O contato de banhistas e voluntários com o óleo pode ser bastante prejudicial à saúde. De acordo com o dermatologista Ricardo Pessoa de Sá, as substâncias presentes na substância podem causar reações alérgicas, que se manifestam através de sintomas como vermelhidão, coceira e bolhas d’água, a depender do tempo de exposição.

Um contato prolongado pode fazer com que a pessoa tenha tonturas e enjoos, especialmente idosos e crianças, que têm a pele mais fina. Em casos de exposição aos resíduos, é ideal que a pessoas saia imediatamente do local contaminado e lave a região do corpo com água e sabão.

Caso o resíduo grude na pele, a indicação é passar alguma substância oleosa para que desgrude, como óleo de cozinha ou algum hidratante.

Segundo o especialista, é indicado procurar um médico nos casos mais intensos, ou seja, quando o contato provoca bolhas, tonturas e enjoos. Além disso, todo mundo deve evitar o banho de mar nos locais afetado pois, na água, a área de absorção do corpo é maior. 

A população deve se atentar também para a ingestão de ostras e crustáceos. Por serem animais que filtram a água, as substâncias contaminantes ficam concentradas na pele desses animais. “A ingestão de alimentos contaminados pode provocar inflamação no sistema digestório e provocar cólicas, diarreias e dor no estômago”, indica. Nos peixes, a contaminação é menor, pois as substâncias se concentram mais nas guelras.  Óleo na Bahia Até o momento, há registros de oito cidades baianas afetadas pelo petróleo cru. Com a extensão da mancha de óleo, o governo da Bahia decretou situação de emergência no estado, na tarde desta segunda-feira (14). Com o decreto, seis cidades oleadas podem receber recursos e contratar serviços sem licitação: Camaçari, Conde, Entre Rios, Esplanada, Jandaíra e Lauro de Freitas.    Nesta terça (15), os ministérios Públicos Federal (MPF) e do Estado da Bahia (MP-BA) ingressaram com uma ação civil pública contra a União e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).   Os órgãos solicitam que a Justiça determine, em liminar, a adoção de medidas de contenção, recolhimento e destinação do material poluente, com “foco na proteção de áreas sensíveis do Estado da Bahia”.   Em Salvador, a Empresa de Limpeza Urbana (Limpurb) informa que foram atingidas as praias de Ipitanga, do Flamengo, Piatã, Itapuã, Placaford, Jardim de Alah, Jardim dos Namorados e Buracão (Rio Vermelho). A Marinha do Brasil aponta ainda que a orla de Ondina também já está com resíduos.   Mesmo sem novas manchas na orla da capital nas últimas 24 horas, a Limpurb continua de plantão dia e noite. A empresa continua monitorando as praias até que todas as possibilidades de chegada de mais material sejam descartadas pelas autoridades competentes.

* Com orientação da subeditora Fernanda Varela