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Priscila Natividade
Publicado em 2 de fevereiro de 2020 às 05:10
- Atualizado há 2 anos
Iemanjá ganhou um fim de semana inteiro. O dia 2 de Fevereiro ficou pequeno para tantas homenagens a rainha do mar. A véspera da festa lotou de admiradores antes mesmo da data oficial da festa. Alguns fazem isso para fugir da fila do dia seguinte. Outros preferem entrar a madrugada entre um pedido e outro. Mas há também um balaio inteiro de bons motivos, como afirmou a coordenadora de produção, Bárbara Moura: “No dia 2 de Fevereiro é muita muvuca, um empurra-empurra, uma quentura só. Na véspera o axé é mais leve”. Bárbara e Mônica acham que no dia anterior ao 2 de fevereiro, 'o axé é mais leve' e a 'muvuca' é menor (Foto: Priscila Natividade/ CORREIO) Junto com a amiga Mônica Aparecida, Barbara trouxe muita alfazema e flores de presente. “Iemanjá é nossa paz, nosso sossego. Nós viemos agradecer”, completou Mônica. Elas até tentaram curtir o ‘axé mais leve’, mas na verdade, já tinha muita fila desde as 22h para colocar o presente no balaio da Colônia de Pescadores, descer as escadas para a praia, e, acredite, até engarrafamento de balaios, como contou a artista multimídia Ana Dumas, que junto com seu carrinho multimídia traz todo ano, muita música e um balaio de presentes para Iemanjá:
“É o melhor engarrafamento de balaios do mundo. Comecei a montar esse balaio há 20 anos com meus amigos e se tinha muito, eram três ou quatro na véspera da festa. Hoje os balaios engarrafam antes mesmo do 2 de fevereiro. Dia primeiro já virou festa. É o momento que a gente foca no significado e reverencia Iemanjá por ela representar toda esta força da água. O balaio desceu lindo este ano”, disse Dumas. Ana Dumas faz há 20 anos a entrega do balaio para Iemenjá que leva também presentes de amigos (Foto: Priscila Natividade/ CORREIO) Junto com Dumas, o artista visual e jornalista Gil Maciel é um dos amigos que a ajudam na montagem do balaio que levou para Iemanjá muitas flores. “Temos todo um ritual de comprar as flores e o balaio sempre no mesmo lugar da Feira de São Joaquim. São tradições que a gente mantém e aqui nesse balaio, com certeza, nossos colocamos junto com as flores, o melhor dos afetos”.
A radialista Daniela Souza todo ano deposita suas flores para Iemanjá no balaio de Dumas. Daniela é paulista, mas mora em Salvador há 17 anos e desde então, rende suas homenagens para Iemanjá. "É uma festa muito linda, muito feminina. É o acolhimento, que o mundo precisa".
Flores e bençãos
E por falar em flores, quem também rende agradecimentos a rainha do mar é o encanador Renato Borges. Há 42 anos ele vende flores logo ali bem em frente da colônia de pescadores. Este ano, das 3 mil que comprou, antes de meia-noite já tinha vendido metade. Seu Renato vende flores na festa de Iemanjá há mais de 40 anos. Mal tinha virado meia-noite metade das rosas já estavam vendidas (Foto: Priscila Natividade/ CORREIO) “Já sei que vou correr doido logo de manhã cedo para comprar mais flores. Minha alegria é ser abençoado por ela e ter lucro também”. Para agradar tanto o freguês, quanto Iemanjá, Seu Renato tem um segredo: “eu jogo um perfume nas rosas e nas mãos de quem vai entregar as flores para a Rainha do Mar”, revelou.
Uma das flores vendidas por ele levaram para o mar todas as preces da assistente social Emanuele Saad. “Para ela, a orixá protege a todos, independente de qual seja a religião. "Eu acredito muito na força dela, mesmo sendo católica. Para mim, Iemanjá representa a figura da mulher e traz proteção para todas nós".
Mais axé
Na tradição do candomblé, a festa em homenagem a Iemanjá ainda rende reverência para as orixás da água doce. Um balaio de flores brancas e amarelas saiu do Dique do Tororó, por volta de 1h da madrugada para entregar o presente para Oxum. "Ela é a rainha da água doce. Oxum também merece. Esse presente tem que agradar a todas", é o que afirma Heloisa Santos, do terreiro Ilê Axé Jbayê, de Itinga, um dos templos que depositaram sua oferenda nas águas do Dique. Nélia é filha de Oxum e sempre faz sua oferenda a sua mãe, antes de prestar homenagens a Iemanjá (Foto: Priscila Natividade/ CORREIO) A assistente social Nélia Ribeiro é filha de Oxum e fez questão de render suas homenagens a ela, antes da festa de Iemanjá: "Foi a criatura que me raspou. Com fé e com Oxum eu alcancei muitas coisas que queria. Cada um com a sua fé, se acreditar, vem".
No caminho para o Rio Vermelho, o estudante Maurício Lobo decidiu participar pela primeira vez, da entrega do balaio de Oxum: "Vim mais para sentir a emoção de perto, antes de ir para o Rio Vermelho. É uma energia muito forte. Me arrepiei o tempo todo".
Reverência feita, obrigação cumprida. E hoje tem mais festa de Iemanjá. A partir das 5h, uma alvorada de fogos marca a chegada do presente principal, mantido em sigilo pela colônia de pescadores. Ainda no Rio Vermelho, às 15h30 deste domingo, acontece a procissão com cerca de 500 balaios que levarão mais presentes para saudar a rainha do mar.