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Paulo Leandro
Publicado em 1 de junho de 2022 às 06:04
A biblioteca esportiva ganhou duas belas joias: Enciclopédia do Futebol Baiano, por Victor Thiago Porto dos Santos; e Memórias do Esporte Clube Vitória, por Tiago Bittencourt, Milton Filho, Allan Correia e Lucas Gramacho.>
Na melhor tradição iluminista de Voltaire, Diderot e D’Alembert, o enciclopedista baiano reuniu em 226 páginas o sumo de nosso futebol, desde o primeiro campeonato em 1905.>
Valeu o esforço, como semeadura para futuras edições mais frondosas, oferecendo o autor serviço arquivístico diferenciado das ditaduras acadêmicas, muitas vezes de linguagem hermética e nada acessível.>
Victor nos traz os maiores clássicos, desde o Ajuste de Contas (Vitória x São Salvador), e reinterpreta a chegada da bola, com a iniciativa de Zuza Ferreira, em outubro de 1901, entre outras preciosidades.>
As maiores goleadas e a metamorfose da arte de desenhar as taças estão presentes, mas também uma lacuna a ser preenchida: a relação completa de artilheiros de todas as disputas.>
Todas as campanhas de clubes baianos na Série A e, em perspectiva cidadã, a publicação do Estatuto de Defesa do Torcedor, além de estádios, distintivos, fundadores e a história dos ídolos estão no livro.>
O trabalho evidencia ser o nosso futebol muito maior em relação às representações limitadas a Bahia e Vitória, municiando nossos atuais gestores a promover maior integração com o interior desassistido.>
Coincide com a feliz iniciativa de transmissão pela tevê do Campeonato Baiano da Segunda Divisão, antes um mero torneio de acesso, hoje uma competição bem organizada com 12 agremiações.>
Já o Memórias do Esporte Clube Vitória, com lançamento para amanhã à noite, 2 de junho, na Loja do Leão do Shopping Capemi, superou as projeções mais otimistas para a publicação elaborada em 12 anos de trabalho.>
O método de viabilizar a interpretação da trajetória do clube pioneiro revelou-se acertada, ao permitir aos entrevistados narrar detalhes curiosos e ilustrativos da metamorfose em 123 anos de Vitória.>
A carência de material esportivo levava os jogadores mesmos a lavar os uniformes e nem sempre dava tempo de enxugar; a alimentação era escassa, cabendo a dona Tidinha armazenar os bifes na conta certa.>
Vale a pena conhecer esta transformação, considerando as condições de hoje, quando já não se precisa treinar num campo chamado Perônio, nomeado assim como ironia pelas lesões provocadas pelos buracos.>
Do atraso no pagamento dos ordenados à atual era dos empresários, fica a impressão de não terem razão os atuais jogadores de queixarem-se de falta de estrutura ou oportunidade de fazerem seu pé de meia.>
São expostas dúvidas na escolha das revelações, pois o descarte de talentos em condições de gerar receita para o clube contrasta com a insistência em atletas com maior potencial de lucro para procuradores.>
A leitura atenta revela a dedicação da rubro-negra Isaura, a ponto de bancar a aquisição de uniformes para garantir a viagem dos times de base em torneios no exterior, quando a diretoria parecia esquecidinha.>
O livro nos revela um Vitória mais próximo do que é, tomando como premissa ser a “realidade a representação mais fidedigna possível dos fatos e das coisas como são”. Parabéns para os autores!>
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.>