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Mario Bitencourt
Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 20:40
- Atualizado há 2 anos
Cerca de 270 moradores de Jacobina, no Centro-Norte da Bahia, participaram nesta sexta-feira (22) de uma atividade simulada de emergência para prevenção contra desastres semelhantes aos que ocorreram em barragens de rejeitos de minério em Mariana (MG), em 2015, e em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro deste ano.
Na cidade de 80 mil habitantes, há um sistema de barragens de rejeitos da Jacobina Mineração e Comércio (JMC), da multinacional canadense Yamana Gold, cujo reservatório tem capacidade para armazenar 27 milhões de metros cúbicos. Há duas barragens no sistema, uma desativada desde 2011 e a outra com 24% da capacidade.
A mineradora explora ouro na região, e suas barragens de rejeito, construídas com o método linha de centro e alteamento à jusante, viraram motivos de preocupação desde o rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana, onde 19 pessoas morreram por conta da tragédia.
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Perigo As barragens de rejeitos em Jacobina estão entre as 34 existentes na Bahia, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), e são consideradas como as mais perigosas do estado, porque o modelo de construção é semelhante ao da Mina do Córrego do Feijão (em Brumadinho), cujo rompimento deixou 177 mortos e 134 desaparecidos.
As semelhanças é que as duas barragens foram construídas em locais elevados, o que torna mais violenta a queda do material em caso de rompimento, e que elas foram construídas com material dos próprios rejeitos. Outro ponto em comum são os moradores nas proximidades das barragens, maior motivo de preocupação.
Já a diferença entre as duas é que, enquanto a de Jacobina foi construída à jusante, a de Brumadinho foi a montante, modelo mais antigo de construção de barragens de rejeito no Brasil. Na quinta-feira (21), o governo federal determinou que barragens de rejeitos à montante sejam extintas no país até 15 de agosto de 2021.
A Yamana Gold garante que “em nenhuma das barragens há pontos críticos ou condições que denotem alguma anomalia” e que “o comportamento e a performance das barragens encontram-se dentro do esperado, com pleno atendimento aos requisitos técnicos e legais”.
As reuniões sobre a situação da barragem já vinham sendo realizadas pela empresa Jacobina Mineração e Comércio (JMC), da Yamana Gold, desde o ano passado, mas, devido a tragédia em Brumadinho, as ações foram intensificadas, com a cobrança maior por parte das autoridades e da população.
Foi descoberto que sequer havia sirenes para avisar aos moradores sobre eventual rompimento. A JMC, então, investiu R$ 1,5 milhão na aquisição de quatro sirenes, as quais foram inauguradas nesta sexta durante o simulado. Uma sirene fica nas proximidades da empresa e as demais em bairros da cidade.
Na simulação, um técnico informou o risco iminente de rompimento da barragem, e imediatamente as sirenes soaram. Um posto de comando foi montado, com um comitê de gestão de crise onde as decisões eram tomadas a partir as informações que chegavam dos oito pontos de encontro preestabelecidos nas comunidades do entorno.
A ideia da JMC era mobilizar ao menos 400 moradores dos bairros Canavieiras, Couro Velho, Pontilhão e Pontilhão de Canavieiras, os quais ficam a 7 km da barragem, mas a quantidade de pessoas que apareceu nos oito pontos de encontro foi de 270. Não houve correria, todos foram andando para observar bem o trajeto.
Simulado Moradora do bairro Pontilhão, a doméstica Zilda Matias dos Santos, 49, está entre os moradores que deixaram suas casas e foram até os pontos de encontro. Ela informou que ficou no ponto 7. “Achei muito bom o simulado, isso passa uma segurança maior para todos nós, em caso de ocorrer algum problema”, disse.
Ela informou que já participou de outras reuniões promovidas pela empresa e chegou a ir até a barragem para ver de perto a situação. “Vimos que não era aquilo tudo que se falava por aí, ver de perto me deixou mais tranquila, não estou mais com o medo que tinha antes”, afirmou.
A dona de casa Tayná dos Santos, 19, avaliou que o trajeto até chegar ao ponto de encontro “está bem sinalizado” e que “o fato de as placas estarem nos postes é bom também porque se ocorrer algo à noite podemos ver com mais facilidade”. Ela informou que levou 10 minutos de casa até o ponto de encontro, andando.
Outros envolvidos Além de moradores, o sumulado envolveu 60 colaboradores da JMC e 175 visitantes, entre órgãos apoiadores e empresas convidadas para aprender com a experiência. Relatório com o balanço do simulado ficará pronto em aproximadamente 40 dias, nesse tempo será avaliado o que precisa mudar no Plano de Ação de Emergência.
Promotor público em Jacobina, Pablo Almeida disse, ao avaliar o simulado, que “a Defesa Civil da cidade precisa realizar um plano de contingência municipal para que as pessoas possam ser atendidas a partir da evacuação”.
Já a JMC, na opinião do promotor, “precisa adequar os pontos de encontro, colocando nos locais placas de sinalização de acordo com o Ministério da Integração Nacional e medidas relacionadas às rotas de fuga”. Almeida disse que vai notificar tanto a prefeitura quanto a empresa sobre as mudanças a serem feitas.
Superintendente da Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia, Paulo Sergio Luz disse que o simulado possui pontos a serem corrigidos, “mas nada que pudesse comprometer o objetivo da ação, que atendeu plenamente ao objetivo, que foi preparar os moradores para situações de risco”.
“Os pontos onde elas foram encaminhadas são locais seguros onde a lama não chega, fora da mancha de inundação, então agora elas já sabem o que fazer”, declarou Luz, segundo o qual “esse simulado está servindo de modelo por ser o primeiro do Nordeste”.
“E não é o primeiro de barragem de mineração, é o primeiro de todo tipo de barragem, seja de hidrelétrica, de rejeitos, química e de água. Outra vantagem é que o modelo de plano de ação emergencial que a empresa criou poderá ser utilizado pelas cidades em outras situações de risco como enchentes e incêndios", afirmou.
O prefeito de Jacobina, Luciano Pinheiro (DEM), comentou que “hoje foi mais um dia em que forças se uniram pelo aprendizado, da nossa parte caminharemos juntos com os órgãos fiscalizadores, Ministério Público e Yamana, para que Jacobina seja uma referência em segurança de barragem”.
Gerente geral da JMC, Sandro Magalhães declarou que “é essencial promover uma consciência de segurança na sociedade, seguindo o exemplo de outros países, que já entenderam a importância da preparação como prioridade constante”.
“É um estímulo para todos incorporarmos a cultura da prevenção no seu cotidiano. Esse momento é mais que uma determinação legal, um marco importante para Jacobina, pois seremos pioneiros no Nordeste na realização de um simulado desse tipo”, disse.
A ação da empresa despertou o interesse de 43 órgãos e empresas para treinamento prévio ao exercício. Compareceram ao simulado e a uma palestra ministrada na quinta-feira, 21/02, membros da Defesa Civil de Alagoas, Sergipe, Ceará e outros 10 estados, além de representantes de instituições públicas e empresas privadas.
Sobre as barragens, a JMC declarou ainda que elas “integram um sistema corporativo de gestão que atende aos mais rígidos padrões de segurança, com riscos continuamente monitorados pela equipe interna e, periodicamente, por órgãos externos competentes”.
“Os dados também são compilados em relatórios quinzenais encaminhados mensalmente à Agência Nacional de Mineração (ANM). Ainda sob a perspectiva de controle interno, são realizadas análises de performance mensais, através de auditoria interna, em nível de diretoria internacional”, afirma um comunicado.