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Priscila Natividade
Publicado em 4 de fevereiro de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Depois de trabalhar por quase 30 anos em uma agência de turismo e acumular bagagem também em companhias aéreas, o aposentado Jorge Gomes, de 69 anos, abriu há um ano seu próprio negócio. E a área para empreender não poderia ser outra: “Não queria ficar parado. Montei minha agência de viagens home-office, mantive os meus contatos e apostei na oferta de pacotes para pequenos grupos, seguros de viagem e passagens aéreas”, afirma.
Aposentado há um ano, o gerente de atendimento acostumado a acompanhar excursões para a Disney agora cuida da sua empresa, que vai muito bem, obrigado. “O único investimento que precisei fazer foi a compra de um notebook. Comecei devagarinho, mas hoje a JB Tour já responde por 60% da minha renda mensal”. Jorge é um dos mais de 98 mil microempreendedores baianos com idade acima dos 50 anos. Segundo dados do Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae-BA), até janeiro deste ano, são 432.712 MEIs no estado. Pelo menos 21,8% deles passam dessa faixa etária. “Em alguns casos, abrir uma empresa era, inclusive, algo planejado antes, mas por algum motivo ainda não tinha saído do papel”, destaca a gerente da Unidade de Atendimento Individual do Sebrae-BA, Fernanda Gretz.
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As principais áreas e segmentos estão relacionados às afinidades que a pessoa identificou ao longo da vida ou associadas às experiências como empregos em outras empresas, conforme acrescenta Fernanda. “Nessa fase, muitas pessoas procuram investir em segmentos e atividades que possuem maior afinidade pessoal. A bagagem profissional poderá ser utilizada para ajudar na gestão”.
Por opção
Quem também enxergou oportunidade logo que se aposentou foi a artesã Yeda Matos, 79 anos. Ex-chefe de departamento da antiga Copene (hoje Braskem), ela trabalhou por 30 anos na indústria. “Como comecei aos 18 anos, com 50 anos me aposentei. Quando me vi dentro de casa, sem nada para fazer, achei que ia parar no hospício. Então busquei o artesanato como um hobby e ele se transformou em uma atividade que surpreendeu”.
Yeda investiu, fez cursos na área e se especializou em patchwork com a produção de panos de prato, jogos americanos, caminhos de mesa, puxa-sacos e almofadas. Todos os finais de semana ela é presença garantida nas feiras de artesanato que acontecem na cidade e também tem peças expostas nas lojas do Centro de Economia Solidária (Cesol). “No início, o maior desafio era entrar no mercado e apresentar o meu trabalho. Por isso foi muito importante buscar treinamento e aprender a vender”, diz.
É justamente esse o caminho para quem pensa em empreender após se aposentar, como aconselha o especialista em empreendedorismo e mercado José Nilo Meira. “Antes de começar, estude a ideia de negócio, pesquise, converse com outros empreendedores. Não deixe de visitar empreendimentos similares e depois elabore um bom plano de negócio. Conheça também os riscos e estabeleça estratégias”, destaca.
Outra orientação é utilizar a experiência acumulada ao seu favor: “A principal motivação é se manter em atividade. Por isso, aproveite o momento para realizar seus sonhos empreendedores”, completa Meira.
FRANQUIAS E STARTUPS SE MOSTRAM COMO TENDÊNCIA
O interesse no segmento de franquias e até mesmo em startups está ganhando espaço entre os aposentados. Segundo o consultor de negócios e criador da Escola de Criatividade, Allan Costa, a demanda é cada vez mais crescente.
“A maior demanda se localiza nos segmentos de serviços e franquias, pela facilidade de colocar o negócio operacional com um prazo mais curto e bom suporte operacional. Entretanto, já existem inúmeros exemplos de empreendedores ‘maduros’ criando startups que usam tecnologia intensamente”.
Mentor e investidor-anjo da Contabilizei, Costa acumula a experiência de cofundador do grupo de investidores-anjo Curitiba Angels. Ainda de acordo com o empresário, os empreendedores maduros são movidos por propósitos. “São empreendedores dispostos a adequar a mentalidade necessária para um novo negócio. Nessa fase da vida, ele deve aproveitar na segunda carreira a sua experiência para fazer um estudo de mercado, que permita identificar oportunidades reais a serem exploradas e problemas concretos a serem resolvidos”.
Cada vez mais antenados, os negócios passam bem longe da ociosidade. “Nos casos dos que optam por franquias ou startups, os riscos estão ligados a uma eventual empolgação com ideias que não representam, necessariamente, uma boa oportunidade de negócio. Por outro lado, a capacidade de se renovar e a vontade de se manter ativo em algo que tenha significado aumenta a disposição desse empreendedor para percorrer caminhos inexplorados, só que uma com maior maturidade”, afirma o especialista.
Aí a estratégia é se preparar o quanto antes para entrar nesses segmentos. “Se antecipe, estude e, quando se aposentar, já tenha tudo pronto. Se cerque de pessoas mais jovens e com ‘sangue no olho’. Elas serão o complemento perfeito para a sua experiência”.
PARA ABRIR UM NEGÓCIO APÓS A APOSENTADORIA
Planejamento Antes mesmo de se aposentar é importante elaborar o planejamento do novo empreendimento de maneira cuidadosa. Avaliar o mercado, as oportunidades, pensar o negócio, os possíveis fornecedores, estudar a concorrência e entender as necessidades do público-alvo que pretende alcançar. Monte seu plano de negócios. Por meio do planejamento é possível antecipar cenários e previsões da empresa e com isso minimizar os riscos do negócio.
Aposte na sua experiência Sem dúvida, isso vai ser um diferencial. A maturidade conquistada nos anos de trabalho vão ajudá-lo a pensar alternativas, formatar os processos, administrar as finanças e desenhar melhor o negócio.
Opte por um negócio que caiba no seu bolso Com a aposentadoria, é preciso planejar bem o custo de empreender. Não faça nada além do seu alcance. Avalie bem os custos, o tempo de retorno financeiro do negócio e coloque tudo isso na planilha, antes de tomar as decisões. Não sacrifique totalmente suas finanças pessoais. Busque também parceiros ou fontes de financiamento para viabilizar sua ideia de negócio.
Se qualifique A experiência conta bastante, mas não é tudo. É importante se requalificar todos os dias. Seja receptivo ao aprendizado. A dinâmica de administrar um negócio próprio vai exigir muito conhecimento. Não basta apenas vender um produto ou serviço, é fundamental entender de gestão: os processos para se abrir uma empresa, suas finanças, como inovar ou chegar até o seu cliente. Há muita literatura disponível e também curos gratuitos que podem ajudar. Consulte o Sebrae.
Prazer Escolha uma atividade ou uma área de atuação na qual você tenha prazer de trabalhar. Que cada dia te motive mais a se envolver com aquilo que escolheu.
Contatos Use extensivamente sua rede de contatos acumulada ao longo da carreira. Ela será determinante para o sucesso do novo negócio. Converse também com outros empreendedores e troque experiências.
Não tenha medo de errar Reavalie seus critérios e não espere ter o sucesso no negócio de imediato. É preciso disposição para percorrer caminhos inexplorados.
Maturação Somente comece a atividade depois de estudá-la com toda a cautela possível - esse tempo varia de acordo com a complexidade do negócio. Procure conhecer os riscos do negócio e verifique se é possível estabelecer estratégias para mitigá-los. Não deixe de estabelecer metas e prazos para cumpri-las a fim de ter resultados que possam ser medidos e avaliados.
Diferenciais é necessário avaliar quais os diferenciais que o produto ou serviço possuirá para que os potenciais clientes venham a escolher a nova empresa e deixar de consumir em outros locais, por exemplo. Essa também é uma análise fundamental para o sucesso do negócio.