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Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2022 às 15:46
O compositor e poeta Luiz Galvão, membro fundador do grupo Novos Baianos, teve uma piora em seu já debilitado estado de saúde e precisou ser entubado na enfermaria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na madrugada desta sexta-feira (16).
Galvão já vem de um histórico de emergências médicas após sofrer um infarto em 2017 que deixou sequelas. Na segunda-feira (12), ele foi vítima de um novo infarto em sua casa na capital paulista, contou sua esposa Janete Galvão.
"A primeira coisa que apareceu nele foi a diabetes, há quinze anos, mas a gente vinha controlando, tanto que ele nunca foi dependente de insulina. Aí ele teve depois ele teve um infarto [em 2017] por conta de uma obstrução na carótida esquerda. Colocou dois stents e estava sob controle, sendo medicado. Aí depois ele teve dois AVC's e ficou com algumas sequelas", relata Janete.
Agora, nesta semana, o músico de 87 anos "começou a ficar fraco", sem conseguir andar direito e foi levado pela família ao hospital, onde foram descobertos o novo infarto e um caso de anemia, que culminaram na sua internação nesta sexta.
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Dificuldades financeiras
A esposa de Galvão conta ainda sobre as dificuldades de arcar com despesas médicas, estimadas em R$ 20 mil mensais, além da falta de condições para contratar um plano de saúde.
Nos últimos cinco anos, Galvão recebeu tratamentos hormonais, técnicos - tudo tecnologia de ponta, que justifica o alto valor. Mas de um ano pra cá, as coisas se tornaram mais difíceis. A família já vendeu carro, tenta vender um sítio na Bahia e se vira com o que tem. Segundo Janete, uma advogada foi contratada para atualizar os contratos que garantem os repassem de direitos autorais de discos como o Acabou Chorare e o Novos Baianos F.C. lançados em 1972 e 1973, respectivamente.
Para minimizar as despesas, familiares e amigos estão realizado uma campanha que inclui um bazar com 5 livros escritos por Galvão - incluindo produções que não estão mais nas livrarias - e estão à venda por R$ 150, cada. Também é possível doar outras quantias pelo pix poetaluizgalvã[email protected]. A compra dos livros é feita pelo mesmo e-mail.
Os livros são Geração Baseada (1982), Ovos do Brasil (1987/poemas), Anos 70: Novos e Baianos (1997), Novos Baianos: a História do Grupo que Mudou a MPB (2013) e João Gilberto, A Bossa (2021), seu livro mais recente, no qual biografa a trajetória do amigo e conterrâneo João Gilberto. O bazar é realizado em colaboração com a jornalista e fotógrafa Lúcia Correa Lima.
Direitos autorais
“Os contratos dos Novos Baianos são de 1973, como o do Acabou Chorare e o Futebol Clube, que as músicas tocam mais. Na época não tinha internet, streaming e canal fechado, essas coisas, então não estão ajustados os valores atuais”, diz Janete.
Ela completa: “A gente colocou uma advogada para resolver essas e outras questões que não estão bem definidas em relação aos Novos Baianos, principalmente depois que Moraes [Moreira] morreu. Quando ele estava aqui, as coisas funcionavam de uma maneira mais justa, adequada, agora ficou um vácuo de liderança e direcionamento correto para ele receber o que é de direito”, afirma.
Janete declara que Baby do Brasil tomou conta do gerenciamento e finanças da banda desde que Moraes Moreira faleceu, em 2020, e não tem prestado contas à família de Galvão.
A advogada responsável pelo caso é Deborah Sztajnberg, especialista em direitos autorais, que trabalhou em casos como o do processo movido por Roberto Carlos contra o pesquisador Paulo Cesar de Araújo no caso das biografias não-autorizadas. Ela também já defendeu artistas como Raul Seixas e é autora do livro Cala Boca Já Morreu: A Censura Judicial das Biografias, lançado pela Editora Multifoco.
“Sempre tentamos resolver os problemas de uma maneira que não seja necessária judicializar as questões. Temos uma série de documentos, estou conversando com todos os autores e vamos continuar nessa toada até o final da semana. Ir para o judiciário é muito caro e desgastante, no momento o que queremos é priorizar o bem-estar de Galvão e seus direitos”, resumiu a advogada em entrevista ao CORREIO no dia 30 de junho deste ano.
O caso, no entanto, acabou sendo judicializado no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em agosto deste ano. Inclusive, em recente decisão, foi indeferida a gratuidade de justiça requerida por parte de Galvão "depois da imensa comprovação de documentos no processo", segundo Janete.
No final da década de 1960, em Salvador, Galvão se juntou a Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Paulinho Boca de Cantor para formar um dos grupos mais aclamados por críticos e público. Das músicas mais famosas da banda, Galvão escreveu a maioria, entre elas as clássicas "Acabou Chorare", "Preta Pretinha" e "Mistério do Planeta".
*Com informações de Vinícius Nascimento