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Da Redação
Publicado em 3 de junho de 2020 às 05:20
- Atualizado há 2 anos
A partir desta quarta-feira, 03, a circulação de pessoas ficará restrita em Itinga, bairro de Lauro de Freitas que registra metade das mortes por covid-19 no município da região metropolitana de Salvador. A medida, anunciada pela prefeitura da cidade, vai vigorar até o dia 10 de junho.>
A medida tomou como base o número de casos de covid-19 registrados no bairro. Já são 134 confirmados, o que corresponde a mais de 24% dos casos confirmados em toda a cidade. No município já são 549 pessoas infectadas e 86 ainda aguardam resultado.>
De acordo com o decreto publicado pela gestão municipal, os moradores da Itinga só deverão circular pelas ruas do bairro em caso de extrema necessidade. Apenas estabelecimentos comerciais essenciais terão autorização para funcionar, e a aglomeração de pessoas em espaços públicos ou privados será proibida. Locais para estacionamento também serão limitados. A fiscalização será realizada em barreiras montadas nas principais vias do bairro.>
As medidas seguem desde o Largo do Caranguejo e alcançam um raio de dois quilômetros em direção à Avenida Fortaleza, Alto de Itinga, São Cristóvão e Parque São Paulo."O decreto, que compreende os períodos diurno e noturno, é uma resposta ao aumento no número de casos de contaminação pelo coronavírus no município, especialmente em bairros mais populosos", disse a prefeitura, em nota. Ainda segundo a administração, até esta segunda-feira, 01, só o bairro de Itinga tinha metade das mortes da cidade, que já chegam a 12. Depois de Itinga, as localidades de Caji (81) e Portão (54) ocupam o segundo e terceiro lugares, respectivamente, em número de contaminados. >
Quem for flagrado descumprindo o decreto poderá ser autuado em flagrante pela prática dos crimes contra a saúde pública e desobediência. Também ficam sujeitos à aplicação de multa, interdição e/ou suspensão da atividade comercial. As pessoas abordadas pela fiscalização devem apresentar comprovação de residência e da necessidade de circulação. >
Estão permitidos deslocamentos para unidades de saúde, estabelecimentos comerciais autorizados a funcionar, entrega de bens essenciais para pessoas dos grupos de risco, prestação de serviços emergenciais por órgãos públicos, e de assistência a idosos, crianças, e pessoas com necessidades especiais.>
O que ainda pode funcionar>
Durante a restrição, estão autorizados a funcionar apenas estabelecimentos comerciais essenciais, como supermercados, panificadoras, açougues, farmácias, postos de combustível, agências bancárias e lotéricas, unidades ou serviços de saúde humana ou animal, de urgência e emergência, além de serviços públicos essenciais, funerárias, segurança privada, imprensa, telecomunicações, logística e transporte de alimentos e medicamentos. Segue suspensa a atividade de vendedores ambulantes. >
A Prefeitura também vai realizar ações de apoio e proteção aos moradores do bairro, como a medição de temperatura e encaminhamento de casos suspeitos de covid-19 para avaliação clínica, ações de combate ao mosquito aedes aegypti, distribuição dos kits alimentos substituindo a merenda escolar e máscara para pessoas com vulnerabilidade social cadastrados pela Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (Semdesc), além da intensificação das ações de desinfecção de locais públicos, realizada pela gestão desde o início da pandemia.>
Em anonimato, um morador do bairro que segue em isolamento conta que nem mesmo tem colocado a cara na janela para ver o movimento nas ruas. “Tenho visto o que comentam nos grupos de WhatsApp e, pelo que falam, ainda tem muita gente na rua. O bairro é populoso e o comércio flui forte”, relata ele, que tem saído apenas para idas ao mercado.>
Efeitos na rotina>
Doutorando em Urbanismo pela UFBA, João Soares Pena defende que algumas medidas de restrição são capazes de mudar a rotina dos moradores de um bairro e tornam-se necessárias para uma menor exposição das pessoas ao vírus. Para o pesquisador, o fechamento do comércio não essencial é positivo para evitar o fluxo nas ruas. “As pessoas não precisam necessariamente de roupas e sapatos novos se não estão saindo de casa. O cabelo a gente consegue ficar sem cortar, sem dar uma progressiva. É difícil, mas é possível. Precisamos comer, beber e nos medicar porque esses sim são serviços necessários para a gente continuar vivendo”, defende.O urbanista explica que a vida num bairro envolve questões socioeconômicas, culturais e urbanísticas. Nos bairros populares, as ruas são como extensão da própria casa, é onde as crianças têm espaço para brincar e onde adultos socializam, diferente, por exemplo, de uma vida em condomínios, em que há espaços de convivência próprios como playgrounds. >
Tanto as ruas quanto os playgrounds estão com acesso não recomendado ou mesmo proibido, mas ainda há quem insista em frequentar. A adoção do toque de recolher, que impede a circulação em determinados horários, é umas das alternativas que vêm sendo adotadas para evitar comportamentos como esses.>
“Há uma pracinha em frente à minha casa em que as pessoas ficam jogando dominó, gente fazendo atividades físicas. Mesmo à noite, umas 22h, tem cinco a seis pessoas jogando dominó. Acho importante ter restrição de horário de circulação, é fundamental que a gente diminua o máximo possível de exposição na rua”, comenta. >
O pesquisador ainda aponta que foi graças à medidas como essas, adotadas tanto pela prefeitura de Salvador quanto pelo estado, que o colapso do sistema de saúde foi sendo adiado na capital e na Bahia.>
Casos por bairro em Lauro de Freitas:Itinga - 134 Caji - 81 Portão - 55 Centro - 51 Ipitanga - 40 Areia Branca - 35 Buraquinho - 33 Vida Nova - 21 Vila Praiana - 20 Pitangueiras - 17 Estrada do Coco - 11 Vilas do Atlântico - 11 Parque São Paulo - 7 Recreio Ipitanga - 7 Caixa D'Água - 7 Jockey Clube - 6 Jambeiro - 6 Miragem - 3 Capelão - 3 Aracui - 2>