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Mario Bitencourt
Publicado em 23 de março de 2019 às 17:13
- Atualizado há 2 anos
A União e o Estado da Bahia estão obrigados por decisão da Justiça Federal a dar assistência veterinária e garantir abrigo, alimentação e água a centenas de jumentos encontrados no final de janeiro deste ano em um confinamento ilegal na zona rural de Canudos, centro-norte da Bahia.>
A decisão, dada na terça-feira (19) pela juíza federal Arali Maciel Duarte, da 1ª Vara Federal Cível da Bahia e que também havia decidido liminarmente pela proibição do abate dos jumentos no estado em 30 de novembro de 2018, é em atendimento a pedido de ONGs que estão com a tutela dos bichos desde que eles foram encontrados.>
Prepostos das ONGs, que são representadas na tutela dos animais pelo Fórum Nacional de Proteção Animal, entidade com sede em São Paulo, informaram que enfrentam muita dificuldade para garantir o bem-estar dos jumentos e que estão recebendo poucas doações, diante dos gastos para realizar os cuidados. >
Atualmente, segundo as ONGs, há 427 jumentos, pouco mais da metade da quantidade encontrada no confinamento ilegal – cerca de 800 animais. Os demais morreram, ainda segundo as ONGs, devido a uma doença metabólica sem cura e desenvolvida por causa dos maus-tratos.>
Procurada para comentar o caso, a Advocacia-Geral da União (AGU) informou que “já foi intimada da referida decisão e está avaliando as medidas judicias que serão adotadas”. O Governo da Bahia, por sua vez, não respondeu ao CORREIO.>
Conforme a decisão, o Estado da Bahia deve “informar sobre a possível emissão de GTAs [guia de trânsito que atesta também a sanidade do animal] para deslocamento de jumentos no Estado da Bahia após deferimento da liminar ou qualquer outro tipo de autorização relativa ao jumento neste Estado”.>
Determina à União e ao Estado da Bahia adotar “providências necessárias ao cadastro e chipagem dos jumentos, de modo que possa haver um controle da quantidade e origem desses animais” e que “tomem providências no sentido de dar assistência e proteger os jumentos que estão na propriedade”.>
A bióloga Patrícia Tatemoto, representante no Brasil da The Donkey Sanctuary, ong britânica que atua de forma global na defesa dos jumentos e que está ficando entre Salvador e Canudos nos cuidados com os animais, disse que os animais estão sendo bem cuidados, mas os recursos estão ficando escassos.>
“Estamos com dois veterinários cuidando dos animais, fazendo exames. Há comida e água, mas os recursos estão acabando e dependemos muito de doações, que estão ocorrendo, mas por conta da grande quantidade de jumentos ainda precisamos de mais, e o que chega está sendo gasto”, disse.>
Doutora em equinos, a zootecnista Chiara Albano, professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e integrante do Fórum Nacional de Defesa Animal, informou que foram coletadas cerca de 600 amostras de sangue dos animais para realização de exames cujos resultados ainda não foram divulgados.>
“As amostras de sague ficaram no laboratório da Adab [Agência de Defesa Agropecuária da Bahia] aguardando os reagentes para que os exames fossem realizados”, escreveu Chiara Albano num relatório sobre os jumentos.>
Para ela “existe interesse do governo da Bahia em segurar os exames, por custo também, mas principalmente por questões comerciais com os chineses. Se houver caso de AIE [anemia infecciosa equina] o governo pode ter sérios problemas nas barreiras alfandegárias. Apesar de a AIE não ser uma zoonose, este exame é exigido para a exportação de carne ou pele de equídeos pela China”.>
Coordenadora da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, a advogada Gislane Brandão, de Salvador, informou que a falta de resultado dos exames está atrapalhando o processo de adoção que as ONGs querem fazer com os jumentos. “Sem ter informações sobre a saúde dos animais, não tem como fazer as adoções”, ela declarou.>
Uma campanha ocorre na internet para arrecadar fundos e custear o arrendamento rural, empregados, alimentação, água, veterinários, castrações, remédios, vacinas, exames e transporte para adoções, as quais ocorrerão quando os animais estiverem bem de saúde.>
O endereço para doação é https://www.catarse.me/salvem-os-jumentos. Cerca de R$ 20 mil já foram arrecadados, mas tiveram de ser gastos com os cuidados com os jumentos, sobretudo com o arrendamento da área onde eles estão, que custa R$ 10 mil. “As doações que temos recebido são muito válidas, mas os custos são grandes. Por isso, precisamos que o Estado e a União arque com os custos”, disse Gislane.>