Acesse sua conta

Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Recuperar senha

Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Dados não encontrados!

Você ainda não é nosso assinante!

Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *

ASSINE

Jovem é 1ª aluna com Síndrome de Down a se formar pela Ufba

“A minha deficiência não pode me diminuir”, diz Letícia Azevedo, 27 anos

  • D
  • Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2021 às 07:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Leo Silva/Divulgação

Dançar sempre foi uma paixão para Letícia Azevedo Santana Silva. Aos sete anos de idade, a mãe a matriculou no balé, de onde só saiu recentemente, por causa da pandemia (a ideia é voltar em breve). Agora, aos 27, ela acaba de se graduar em Dança pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Letícia realiza um feito histórico, sendo a primeira aluna com Síndrome de Down a se formar pela Ufba. 

Bem que isso poderia servir de vingança contra a diretora de uma escola regular que se recusou a aceitá-la, ainda criança, na instituição de ensino. Mas, a vida dessa conquistense está mais para a beleza do espetáculo ‘O Lago dos Cisnes’ do que para o peso do filme ‘Cisne Negro’. “A minha deficiência não pode me diminuir”, assegura.

O empoderamento de Letícia foi adquirido com o apoio da família. Principalmente do pai, seu Agripino, e da mãe, dona Lindamar, que identificou na filha o talento para a dança. Descobrir que sua caçula tinha Síndrome de Down quando a recebeu nos braços logo após o nascimento, não foi fácil. Ainda mais há quase três décadas, quando a síndrome era considerada praticamente uma doença. Isso não desencorajou a professora de seguir em frente: “Foi um momento de emoção, angústia e insegurança com o novo. Fui do luto à luta”, relembra ela, que também é mãe de Patrícia e Daniel, e avó de Isabela, Gabriel e João Vitor. 

Desde então, o potencial de Letícia tem sido incentivado. Além do balé, ela faz aulas de piano e participa de grupos formados por pessoas com Síndrome de Down, onde desenvolve diversas atividades - de dançar a cozinhar. “Nós a estimulamos para ter uma vida normal, estudar, viajar. Agora, estamos ajudando a preparar seu currículo e inseri-la no mercado de trabalho”, conta dona Lindamar. A única coisa que Letícia não gosta é de acordar cedo. “Ela tem uma personalidade muito forte. Quando não quer fazer algo que não lhe satisfaça, desista, porque é resistente”, brinca a mãe.  

Suporte 

Como mora em Vitória da Conquista, município localizado a 515 Km de Salvador, o curso na Escola de Dança da Ufba foi realizado na modalidade EAD (Ensino a Distância). Sua maior dificuldade foram as aulas teóricas. Para isso, ela contou com o suporte de uma tutora, que acompanhava as lições de forma presencial. Ariane Chagas nunca havia trabalhado com alunos com deficiência e não sabia o que teria pela frente. “Costuma-se falar muito sobre inclusão, entretanto eu não tinha a dimensão dos desafios de um processo com este. Todas as atividades tiveram que ser adaptadas para a realidade de Letícia”, ressalta.

Justamente ensinando foi que a educadora mais aprendeu. Paulo Freire teria orgulho. “Eu me reinventei como professora, tive que pesquisar outros métodos de ensino, ter um outro olhar sobre tudo que nos cercava e, nesse processo, me transformei como ser humano. Lety me ensinou a ter mais empatia, a saber o real significado das palavras paciência, compreensão, respeito ao próximo e às suas individualidades. Ela me ensinou a ensinar com mais amor, carinho e cuidado”, emociona-se. 

Dona Lindamar é só gratidão: “Encontramos uma pessoa extremamente capacitada e preparada para ajudar nossa filha. A professora Ariane Chagas foi uma orientadora maravilhosa”, elogia.Formatura virtual A tutora foi uma das poucas convidadas para a formatura de Letícia, que aconteceu em sua casa, em Vitória da Conquista, no mês de agosto. Ainda como reflexo da pandemia, a festinha teve as presenças apenas dos pais, irmãos e sobrinhos da formanda. O clima era de alegria e emoção, como lembra dona Lindamar. 

A cerimônia de colação de grau foi realizada de forma virtual e contou com a participação de mais 41 alunos e dos profissionais e professores da Ufba que, de alguma forma, também conduziram Letícia neste processo, como o vice-diretor e coordenador da Escola de Dança, Antrifo Ribeiro Sanches Neto, e a coordenadora do Colegiado da Licenciatura em Dança EAD, Isabel Souza, entre outros. Participaram, ainda, o reitor da Ufba, João Carlos Sales, e a diretora da Escola de Dança, Carmen Paternostro. 

Para o pró-reitor de Graduação da Ufba, Penildon Silva Filho, Letícia Azevedo é a comprovação de que a universidade pública é um espaço de inclusão e diversidade. “Além de ser uma instituição voltada para a qualidade na formação, com muita dedicação à pesquisa e à extensão, também se configura como promotora da inclusão social, desde as primeiras cotas, em 2005, até os dias de hoje. Nossos parabéns e reconhecimento pela dedicação de Letícia", celebra ele.

“Durante o curso, não sofri nenhum tipo de preconceito. Todos me acolheram com muito carinho e respeito”, destaca a ex-aluna. E, ao contrário da personagem Odette, de ‘O Lago dos Cisnes’, que precisou encontrar um príncipe para libertá-la, a futura professora de dança tem outras expectativas, muito mais modernas: “Quero trabalhar, me sentir útil”. Para além de útil, Letícia se tornou uma figura histórica. “Gostaria de dizer para vocês que nunca desistam dos seus sonhos, todos nós somos capazes”, assegura.