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Januário Garcia, fotógrafo e militante do movimento negro, morre de covid no Rio

Ele tinha 77 anos. Ilê Aiyê e personalidades lamentam morte. Januário fez fotos para LPs de artistas como Tom Jobim, Caetano, Chico Buarque, Belchior e Leci Brandão  

  • D
  • Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2021 às 20:45

 - Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

O fotógrafo e militante do movimento negro Januário Garcia morreu na noite de quarta-feira (30) vítima da Covid-19. Autor de capas de discos históricas da música brasileira e reconhecido pela atuação no movimento negro, Januário tinha 77 anos e estava internado no Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio.   Figura atuante no movimento negro, Januário Garcia participou de livros como "25 anos do Movimento Negro", "Diásporas africanas na América do Sul" e "História dos quilombos do estado do Rio de Janeiro".   Durante as décadas de 1970 e 1980, Januário Garcia fez fotos para álbuns  históricos de grandes nomes da música brasileira como Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Fagner, Belchior, Fafá de Belém, Leci Brandão, Raul Seixas e Edu Lobo. Acervo de Januário conta com registros históricos (Fotos: Januário Garcia) Recentemente, Januário Garcia havia lançado o “Instituto Januário Garcia: Documentos e Fotografias de Matrizes Africanas”, com mais de 100 mil imagens de acervo de fotografias, incluindo imagens históricas de Mãe Stella, Abdias Nascimento, Lélias Gonzalez e outras importantes figura da luta antirracista no Brasil.   Ele trabalhou como fotógrafo nos jornais "O Globo", "Jornal do Brasil" e "O Dia". Januário Garcia deixa quatro filhos. O corpo será cremado, mas, informações sobre a cerimônia não foram divulgadas.Repercussão   A morte de Januário foi lamentada por diversas personalidades e entidades, especialmente ligadas ao movimento negro, à arte e o jornalismo.   "Perdemos um grande homem negro. O Ilê Aiyê deseja conforto no coração de todos os familiares e amigos", lamentou o Ilê Aiyê.   A jornalista amazonense radicada na Bahia Wanda Chase agradeceu pelo legado. "Obrigada, Januário Garcia", escreveu.    A também jornalista e comentarista da Globo News Flávia Oliveira lamentou a morte do profissional de comunicação e disse que Januário foi um gênio. Para Flávia, o fotógrafo foi quem melhor registrou a diáspora.   "A Covid-19, a peste insaciável alimentada pelo desgoverno, nos tirou Januário Garcia, grande fotógrafo brasileiro. Ele nos deixa aos 77 anos. Dedicou meio século ao ofício. E nos lega um acervo de mais de cem mil fotos, sobretudo de pessoas, momentos e cenas marcantes do movimento negro, da arte, da cultura e das religiões afro-brasileiras. Januário foi quem melhor registrou nossa diáspora. Sozinha, essa obra o agiganta. Mas ele fez mais: assinou alguns dos álbuns mais importantes da história da música brasileira, a começar por “Alucinação”, de Belchior, passando por discos de Gilberto Gil, Tim Maia, Martinho da Vila, Roberto Ribeiro, Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim, Leci Brandão, Fafá de Belém. Expôs em países como Canadá, México, Bélgica, Senegal, Togo (República Togolesa), Nigéria, Estados Unidos, Áustria e Japão. Presidiu o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN). Januário era um gênio, nossa memória em imagem. Vai nos fazer muita falta. É mais uma morte imperdoável dessa temporada terrível. Que possamos celebrar diariamente sua obra para honrar sua existência", esscreveu a comentarista. Artista plástica Anna Bella Geiger também lamentou a morte de Januário."Januário Garcia é meu amigo desde os anos 1970, e também um ótimo fotógrafo. Quando eu pensei no meu trabalho que denominei de "O Pão Nosso de Cada Dia" (1978), logo me veio a ideia de que fossem fatias de pão fotografadas. Fui ao estúdio dele levando um pacote de pão de forma e lá comi o miolo do pão que esvaziado ficava com a forma do mapa da América Latina e na outra fatia criei a forma do Brasil. E o Januário conseguiu além do registro desses meus atos, uma dramaticidade nas fotos. Querido Januário, sentirei muito a sua falta".