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Paulo Leandro
Publicado em 15 de setembro de 2021 às 05:00
- Atualizado há um ano
O Ajax de Amsterdam ganhou adesão mundial de torcedores inclinados a praticar virtudes, ao propor uniforme especial em homenagem ao reggae ‘Three Little Birds’ (Três Passarinhos), parte do gigantesco legado do bem deixado por Bob Marley.
Partiu cedo o mensageiro de Jah, aos 36 anos, mas sua invicta revolução cultural repercute ao infinito, cada uma de suas criações, tendo associado-se originalmente o jamaicano aos seus vizinhos rude boys de Trenchtown, bairro-favela de Kingston.
Coube aos holandeses a sabedoria de acolher Três Passarinhos, música-tema em seus momentos de louvor, entoando todo o estádio Johan Cruijff (você pode ler Cróif) a canção, uma das mais belas entre outras da playlist da arca do tesouro do reggae.
Associado ao sentimento maior do amor, em ‘One Love, One heart’, o reggae tem o efeito de sol a iluminar todo recanto no qual se pode apreciar o ritmo suave, tomando forma de catecismo para todas as idades e povos.
Os álbuns Catch a Fire, Burning, Uprising, aquele das bandeirinhas – Survival! –, Confrontation... teriam sido as sementes do bom convívio a frutificar em tantas nações quantas possam escutar com o coração seus acordes e harmonias.
Curiosamente, o Ajax floresceu na Era Marley, quando o time holandês inventou o carrossel, tática na qual os jogadores trocam de posição a todo momento, dificultando o trabalho dos marcadores.
Liderado pelo camisa 14, Johan Cruijff, capaz de deslizar com e sem bola, o Ajax foi base da seleção-orquestra holandesa com Suurbier, Krol, Neeskens, Rep, Rensenbrink, sendo Cruijff o maestro.
Nomeado em reverência a Ájax, com acento agudo no primeiro A, “o mais belo e o mais valente guerreiro” da Odisseia, em poemas homéricos da Antiguidade, o clube dutch teve suspiro de arte autêntica, única e dotada de aura própria, uma beleza!
Na Idade Média, para Amsterdam acorriam os judeus, salvando-se o pensamento de Baruch Spinoza, ao dobrar a esquina dos dogmatismos, fugindo das fogueiras do Santo Ofício em seu país de origem, Portugal.
Por lá, encontrou sossego para duvidar de tudo e de todos o craque francês do racionalismo René Descartes (você poderia ler De-cárt, por favor), aquele do ‘Penso, logo existo’, o Cogito, do qual somos tributários.
Lord of lords, king of kings, Hallelujah, o Ajax conta com a torcida dos melhores regueiros baianos, hoje, ao estrear na Liga dos Campeões contra o Sporting de Lisboa, considerando a adoração a Bob Marley em nossa Boa Terra.
Não adianta os cartolas mandarem tirar os passarinhos do padrão porque as cores da Mãe Etiópia de Selassie, amarelo-vermelho-verde, estampam bandeiras no íntimo das pessoas de boa vontade e esta é a revolução do reggae, imune a repressão física.
Quem é veterano jamais esquecerá de Zé Bim levando Ricky perto da torcida do Vitória, ali à esquerda das cabines de rádio da velha Fonte, para ele cantar, em inglês, com sotaque nigeriano: “No woman, no cry...”, traduzida por Gil, “não chore mais!”
Licença aqui, Vitória, dá-lhe meu Ajax dos Três Passarinhos, a letra até lembra o ‘Breu-zil’: “don’t worry about a thing, cause every little thing is gonna be all right” (TUDO VAI FICAR BEM!). Jah bless o Ajax de Cruijff e Marley!
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor de Cultura e Sociedade.