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Instituições públicas de ensino superior da Bahia não voltarão às aulas presenciais em 2021

Crises sanitária e orçamentária são principais justificativas

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 10 de agosto de 2021 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

As aulas presenciais em modelo híbrido já são realidade nas redes municipais, estaduais e privadas da Bahia, que voltaram a receber estudantes após queda nos indicadores da covid-19 no estado. No entanto, as universidades públicas e instituições de ensino superior instaladas em território baiano não devem fazer o mesmo. Procuradas para informar a previsão de volta integral das atividades com discentes, pelo menos, em modelo híbrido, a maioria delas se mostrou pessimista quanto a um retorno pleno e descartam essa possibilidade para 2021.

A negativa pela volta às aulas presenciais mesmo depois da Bahia registrar uma queda de quase 40% no número de óbitos e casos confirmados, no mês de julho, em comparação a junho de 2021. Para Universidade Federal da Bahia (Ufba), que vai manter o semestre de 2021.2 em modelo remoto, esses números não anulam o fato de que ainda existem riscos. "A crise sanitária causada pela pandemia ainda persiste, mesmo que em aparente declínio", declarou a Ufba através de nota, mantendo decisão pelas atividades não presenciais que tinha sido feita ainda em junho.

Com isso, seguirá o modelo de aulas remotas. Ufba e Uneb iniciaram o semestre 2021.2 na segunda-feira (9), completamente online assim como foram os últimos três.

A Ufba informou que mantinha o semestre remoto para não colocar docentes, discentes e servidores em risco por conta dos indicadores da covid-19 e disse que a volta também dependeria da disponibilidade de vacinas para todos os membros da comunidade universitária. Hoje, a universidade mantém esse critério como essencial para uma volta segura. "Entre as condições estabelecidas, está a da vacinação do grupo discente da Ufba, na faixa etária dos 18 a 25 anos em sua grande maioria, o que ainda não ocorreu", afirmou a universidade.

Outra universidade que não tem previsão para retorno às aulas presenciais também por conta da crise sanitária é a Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob). Segundo Adma Kátia Lacerda, pró-reitora de graduação da universidade, a volta está condicionada não somente ao atendimento dos protocolos de biossegurança, mas também à imunização da comunidade acadêmica. "As universidades são 'micro cidades' com um número significativo de pessoas e um retorno presencial integral impacta a exposição da maior parte da comunidade que ainda não está vacinada. E, neste momento, o cenário epidemiológico não permite uma decisão institucional que coloque em risco a comunidade", explicou, destacando a preocupação com estudantes de idade não contempladas pela campanha de imunização contra a covid-19.

Quem segue o mesmo caminho é a Universidade Federal do Reconcâvo Baiano (UFRB), que até elaborou uma minuta com orientações e protocolos de segurança para acesso e uso dos laboratórios e áreas de campo na pós-graduação, mas não vai retornar com as outras atividades nos campi. "A UFRB ainda não tem previsão de retorno total das atividades presenciais. A retomada de atividades presenciais deve acontecer quando autorizado no CONSUNI, com base nas orientações e recomendações das autoridades da saúde pública e da Vigilância Sanitária", informou a universidade.

Decisões que, para o infectologista da S.O.S Vida,  Mateus Todt, são acertadas e presam pela saúde das comunidades acadêmicas do estado já que, de fato, a crise sanitária e a possibilidade de uma nova onda de aumento de casos da doença ainda existem. "A atual condição sanitária ainda não é favorável ao retorno de atividades que possam aumentar a chance de contágio pela Covid-19. Teríamos que ter cerca de 70% da população vacinada com as duas doses e baixas consistentes nas taxas de transmissão, mas ocorre que apenas estamos em 50% da população com a primeira dose da vacina e ainda uma taxa de transmissão e mortalidade elevada, mesmo com as baixas recentes", salientou Todt.

No entanto, o infectologista alerta também que, dentro do contexto em que atividades que não são essenciais já estão em flexibilização, como bares e restaurantes, a educação deveria ser tratada como uma prioridade, o que não tem acontecido “O que se poderia fazer neste caso é avaliar as atividades acadêmicas e escolares que podem ser feitas à distância sem prejuízo e aquelas, como as práticas, que não podem. Talvez um modelo híbrido pudesse ser a melhor solução”, diz Todt, que entende que lógica de prioridade foi invertida nesse processo de retomada.

A Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) também disse que acompanha ainda o cenário da pandemia e não sabe quando deve voltar. "Aqui na UFSB não temos previsão de retorno de aulas presenciais, por enquanto. A instituição segue acompanhando o cenário regional e nacional da pandemia, contando com o trabalho do Comitê Emergencial, e divulgará quaisquer novidades às comunidades acadêmica e externa, sempre prezando pela saúde dos alunos, servidores e terceirizados", declarou a UFSB, por meio de sua assessoria de comunicação.

As outras universidades federais da Bahia também foram procuradas, mas tanto a Universidade Federal de Feira de Santana (Uefs) e a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) não responderam até a conclusão desta reportagem. No entanto, nenhuma delas acenou para uma previsão de retorno presencial em suas redes e publicações.

Estaduais também não voltam

A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) também se posicionou afirmando que não retornará às atividades presenciais em 2021 e que apenas irá avaliar, de forma individualizada, as solicitações de disciplinas práticas que exigem o formato presencial feitas por cada colegiado de curso, nos campi de Itapetinga, Jequié e Vitória da Conquista. "Conforme resolução aprovada pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), no último mês de junho, a Uesb manterá, majoritariamente, o Ensino Remoto Emergencial para 2020.2,  semestre letivo que teve início no dia 19 de julho deste ano", informou a Uesb.

Mesma posição da Universidade Estadual De Santa Cruz (Uesc), que até tem 95 disciplinas que serão ministradas presencialmente conforme protocolo criado pela Comissão de Biossegurança, mas não tem previsão para uma volta total. "Não temos ainda protocolo para o retorno de 100% das aulas. A comissão de Biossegurança volta a ser reunir essa sexta-feira(6) e o Consu tem reunião agendada para no dia 12. Não está em pauta a discussão sobre o retorno total das aulas que continuam on-line", explicou por meio de nota. A Universidade do Estado da Bahia (Uneb) também foi procurada para falar sobre a previsão de retorno, mas não respondeu até a conclusão desta reportagem.

Crise orçamentária

E até quem já tem um protocolo de retorno total não deve voltar ainda em 2021. O Instituto Federal da Bahia (Ifba), por exemplo, uma minuta de um plano de contingência de retomada. Minuta que precisa ser aprovada pelo conselho superior da instituição e estabelece as quatro fases até a volta plena das atividades.

Porém, não há data para que a quarta fase - de retorno total - seja colocada em prática. Jancarlos Lapa, pró-reitor de ensino da instituição, explica que a volta das atividades presenciais em qualquer um dos 22 campis do Ifba em 2021 é improvável, principalmente, pelo custo que ela demandaria da instituição, que sofreu com cortes do Governo Federal. "Temos os indicadores baixos o suficiente para que cada fase do plano se inicie. Porém, vivemos uma crise orçamentária. O Governo Federal fez uma série de cortes para os institutos e, por aqui, temos um cenário de 23% de corte, o que reverbera muito nos nossos campi. Isso dificulta e muito o retorno às atividades presenciais no ano de 2021, não dá para projetar", afirmou Lapa.

A situação se repete na Ufob, onde, segundo Adma Kátia Lacerda, os cortes orçamentários obrigaram a instituição a limitar serviços fundamentais para o funcionamento presencial das atividades pedagógicas e administrativas. "Os cortes provocaram uma redução dos serviços terceirizados essenciais para a manutenção dos campi, adequações físicas, realização de atividades de campo, oferta dos serviços do Restaurante Universitário,  atividades que terão os custos elevados com o retorno das aulas presenciais", declara Adma.

Instituições como a UFRB e Ufba já tinham manifestado o impacto dos cortes no funcionamento das universidades.  A universidade do reconcâvo, que sofreu um corte de 22,8%, já tinha dito que teria dificuldade com o pagamento de serviços básicos que são essenciais para uma volta presencial às aulas. "Essa redução é preocupante, uma vez que o corte no orçamento da UFRB compromete diretamente o pagamento de despesas essenciais, tais como: energia elétrica, água, serviços terceirizados, compra de materiais, manutenção predial e de equipamentos, bolsas e auxílios estudantis", disse por meio de nota.

A Ufba, que já havia informado anteriormente que os cortes orçamentários obrigaram a instituição a adotar medidas de contenção até no investimento em assistência estudantil, foi perguntada se a situação orçamentária é um dos motivos para não ter previsão de retorno presencial, mas preferiu não falar sobre. 

*sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro