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Inclusão digital e empoderamento: como sobreviver à era dos dados

No mundo digital, tudo que você faz deixa rastros, desde o uso do e-mail às redes sociais

  • Foto do(a) author(a) Marcela Vilar
  • Marcela Vilar

Publicado em 10 de dezembro de 2020 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Estamos na era do mundo digital e tudo que fazemos na internet deixa rastros: nossos próprios dados. Seja pelo uso do e-mail, das redes sociais ou de um aplicativo, as informações são coletadas e armazenadas em bancos de dados, os chamados data centers, que são analisados por empresas de tecnologia. É quase que um Big Brother, onde todos são monitorados. E não há como fugir dessa realidade, pois a tendência é o mundo ser cada vez mais tecnológico. Se não há como escapar, o desafio está então em trabalhar a inclusão das pessoas nesse ambiente digital e capacitá-las. 

Esse foi um pontos abordados no seminário virtual “Dados somos nós. E agora?”, realizado, nesta quarta-feira (9), como parte da programação da Agenda Bahia 2020, que está na 11ª edição. Com mediação da jornalista Flávia Oliveira, colunista do jornal O Globo e comentarista da Globonews e da CBN, a mesa de debate também discutiu como usar a tecnologia a favor de um capitalismo sustentável e no combate à desigualdade.

O palanque de palestrantes teve a presença do professor e fundador da consultoria IF Insight & Foresight, Paulo Carvalho, da programadora Gabriela de Queiroz, gerente-sênior da Machine Learning da IBM Califórnia e fundadora da AI Inclusive e R-Ladies - duas iniciativas que promovem a inclusão de mulheres e minorias de gênero no mundo da inteligência artificial - e o investidor Nana Baffour, CEO & Chief Culture Officer da Qintess, uma das dez maiores empresas de tecnologia da informação do Brasil. 

Capacitação digital O principal passo para a inclusão digital, segundo Gabriela de Queiroz, é tornar o ambiente da inteligência artificial mais representativo e inclusivo. “A inteligência artificial é um campo que não é diverso de maneira alguma, então a gente tem que pensar como a gente traz mais pessoas a área da tecnologia, principalmente mulheres e minorias de gênero, que são grupos sub representados”, constatou Gabriela. 

Foi a partir dessa vontade de democratizar esse ambiente que surgiram as iniciativas R Ladies (“R” é uma linguagem de programação e Ladies significa mulheres) e AI Inclusive (Inteligência Artificial Inclusiva). Essa inclusão, para ela, deve ser promovida a partir de capacitações, workshops, palestras, tutoriais e disponibilização de materiais sobre o tema, como promove nessas duas organizações. “Foi uma forma de eu dar de volta para a comunidade e fazer esse ambiente, dominado por homens brancos, mais diversificado”, contou a gerente-sênior. 

Criada em 2012, a R Ladies está hoje em quase 200 cidades do mundo, divididas entre 56 países, com esse propósito de inclusão e diversidade na tecnologia. Já a AI Inclusive, em parceria com a Dataquest, está atualmente com centenas de bolsas de estudos abertas, inicialmente para mulheres e minorias de gênero, para que essas pessoas se capacitem com uma plataforma de ciência de dados. 

A inclusão que ela defende também deve ser promovida a partir da construção de programas de softwares livres. Ou seja, programas de códigos abertos, que possam ser acessados por qualquer pessoa, gratuitamente. “Os dados têm que estar disponíveis para todo mundo, para que você como cidadão possa acessar. E mais do que disponibilizar os dados, é fazer com que eles tenham acessibilidade. Não adianta nada você disponibilizar, se ninguém consegue acessar, se a documentação é inexistente e ninguém consegue entender como funciona. Você tem que ter ferramentas para que as pessoas tenham condições de acessar esses dados”, argumentou Queiroz. 

Investir em capital humano Apesar de a tecnologia os algoritmos ditarem algumas regras, o maior investimento ainda é em capital humano, isto é, em pessoas talentosas, criativas e resilientes. É o que defende Nana Baffour. Ele ressalta ainda que, se as empresas quiserem ampliar sua capacidade de inovação, devem começar a investir nos lugares que menos foram investidos historicamente: nas periferias e comunidades. 

“O ativo mais importante é o capital humano criativo e resiliente. As empresas estão em busca desses talentos. E boa parte desses talentos estão na comunidades que historicamente não estavam participando do mercado de trabalho. Não adianta contratar os mesmos homens brancos. As empresas têm que entrar nas comunidade para pegar esse povo que já tem criatividade e a resiliência, por causa dos desafios da vida”, argumentou Baffour. 

Por isso, a empresa que ele preside, a Qintess, fez um investimento de R$ 10 milhões para os próximos cinco anos, em parceria com o Vale do Dendê. O objetivo é capacitar 2 mil jovens de periferias e empreendedores da comunidade de Salvador. Segundo Baffour, a primeira turma foi iniciada a dois meses e 80% dos alunos eram afrodescentes. “Fizemos esse compromisso, porque para nós é importante capacitar esses 2 mil jovens para serem desenvolvedores de software e data centers”, concluiu o investidor. 

Habilidades do futuro Outro aspecto abordado no seminário foram as habilidades que todos devem desenvolver no futuro, se quiserem ser inseridos no mercado de trabalho da tecnologia. Para o futurista Paulo Carvalho, da consultoria IF Insight & Foresight, as três principais competências que todo mundo precisará desenvolver são: pensar como um empreendedor, adquirir conhecimentos de design e ter agilidade estratégica. “Todos nós vamos ter que dominar o espírito de empreendedor, não só os que vão criar empresas, mas precisamos desse tipo de atitude, precisamos dominar certos conceitos, como o que é uma startup, um protótipo”, afirmou Carvalho. 

No âmbito do design, ele explica que o consumidor é quem deve estar em primeiro lugar e a empresa deve se adaptar aos desejos dos clientes ao desenvolver os produtos. Por fim, ele defende que a agilidade é principalmente ter a capacidade de trabalhar em equipe, em ecossistemas e redes. Para isso, o especialista em planejamento salienta que o cidadão do futuro tem que desenvolver a empatia, o poder de persuasão e comunicação. “Esta forte aceleração da inteligência artificial e da digitalização está mudando a forma dos empregos, em um ritmo mais rápido do que nunca. Por isso temos que investir nas soft skills, na capacidade de sermos empáticos, na relação com o outro, para lidarmos com essas transformações”, instruiu. 

O Fórum Agenda Bahia 2020 é uma realização do CORREIO, com patrocínio do Hapvida, parceria do Sebrae, apoio da Braskem, Claro, Sistema Fieb, Sindimiba, Battre e Consulado Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro e apoio institucional da Rede Bahia e GFM 90,1.

reveja a íntegra do evento: https://youtu.be/aeHdrqYPLYo​​​​​​​​​​​​​​

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro