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Da Redação
Publicado em 21 de julho de 2018 às 16:20
- Atualizado há 2 anos
O Goethe-Institut (Instituto Cultural Brasil Alemanha - Icba), localizado no Corredor da Vitória, não abriu as portas neste sábado (21). De acordo com a assessoria de comunicação do espaço cultural a decisão de não abrir e reforçar a segurança deu-se por conta da convocação de uma manifestação convocada pelo Movimento Brasil Livre (MBL) contra a exposição Cu é lindo, assinada por Kepler Reis.
Cerca de 10 homens da Polícia Militar, por volta das 14h, estavam na frente do espaço além de seguranças particulares. A assessoria de comunicação do espaço confirmou que por conta do fechamento do Icba neste sábado dois lançamentos de livros que aconteceriam nesta noite foram transferidos para o Instituto Cervantes. Seriam lançados os livros Eu Canto e Conto, de Adriano Carozo, e Se for preciso eu pulo de João Fernando Gouveia.
O Icba informou que na segunda-feira (23) o espaço retormará com todas as atividiades, inclusive com a exposição Cú é lindo. A exposição é destaque dentro da mostra “Devires”, projeto artístico que propõe um exercício de desnaturalização das relações entre sexo, gênero, visualidade, raça e poder. Em sua primeira edição, a mostra teve início no dia 12 de julho e segue com diversas atividades em Salvador até o dia 12 de agosto, das 9h às 19h, com entrada gratuita e com classificação de 18 anos.
"O Goethe-Institut tem recebido mensagens negativas referentes ao projeto “Devires”, que propõe um exercício de desnaturalização das relações entre sexo, gênero, visualidade, raça e poder. Em nenhum momento foi intenção do projeto ou do Instituto ofender. Respeitamos todas as crenças, manifestações e liberdade de expressão. O Goethe-Institut, como instituição cultural presente em mais de 90 países, dialoga intensamente com as sociedades locais e fomenta o debate, participação e atuação artística e cultural. Lamentamos manifestações que incitem o ódio e as ameaças à liberdade de expressão. Continuaremos com nossos esforços de incentivo à discussão e ao intercâmbio entre culturas, visões artísticas e diferentes formas do pensar. Continuamos a acreditar que a melhor forma de lutar contra a intolerância é a educação e a promoção do diálogo", afirmou o Icba, por nota. "Vamos abrir na segunda a partir das 9h. Foi só hoje. A possibilidade de ter a manifestação aqui fez com que tivéssemos esta atitude de fechar a casa para garantir a segurança do prédio, nossos funcionários e clientes", afirmou ao CORREIO o diretor do Icba, Manfred Stoffl.Na tarde de sábado, o médico Fernando Dias foi um dos que foram ao Instituto mas não conseguiram acessar a exposição. "É uma manifestação ridícula e provinciana contra uma exposição artística. Quem não tiver interesse não venha. É de uma intolerância e conservadorismo muito perigoso para o momento que estava vivendo", disse. Fernando ia visitar a exposição pela segunda vez: "Já vi antes e achei contundente. Cada um consome a arte que acha interessante".
A direção do Instituto pediu o reforço da Polícia Militar alem de uma empresa de segurança patrimonial. "Em nenhum momento foi intenção do projeto ofender. Respeitamos todas as manifestações artísticas e culturais. Lamentamos tudo que está acontecendo. A melhor forma de combater a intolerância é com educação e diálogo", acrescentou Stoffl.
Em nota, a Polícia Militar (PMBA) informou que acompanhou o ato. "Havia a presença de manifestantes no local e houve o acompanhamento da PMBA durante a mobilização, contudo a direção da instituição não abriu acesso ao público e os manifestantes decidiram encerrar o movimento", destacou. Devires “Devires” é um projeto artístico que propõe um exercício de desnaturalização das relações sociais relacionadas a sexualidades, gênero, visualidade, raça e poder. Reunindo artistas da Bahia, de outros estados e de fora do país, o evento apresenta performances, exposição, mesas de debate, oficinas e outras atividades correlatas, na abordagem de questões que censuram a liberdade da diversidade de corpos existentes. “Devires” acontece em três etapas: de 12 a 17 de julho, de 9 a 11 de agosto e de 27 a 29 de setembro, no Goethe-Institut Salvador-Bahia.
Contemplado pelo Edital de Dinamização de Espaços Culturais, tendo apoio financeiro do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia, “Devires” tem orçamento total, para todas suas etapas, trabalhos artísticos e infraestrutura, de R$ 131 mil, conforme aprovado no edital público, mecanismo democrático de fomento a práticas artístico-culturais de toda a Bahia.
A exposição “CU É LINDO” é apenas uma das ações deste projeto maior, sem apoio financeiro direto a ela, e tem custo total de R$ 1 mil, incluindo frete de transporte, impressões, materiais, montagem e desmontagem da exposição, o que representa 0,7% do investimento total de Devires.
Como amplamente divulgado nos canais da mostra, nas comunicações sobre ela e no local da exposição, “CU É LINDO” tem classificação indicativa de 18 anos. Realizada numa sala fechada, a mostra é acompanhada todo o tempo por um mediador que orienta sobre a classificação indicativa e demais questões do trabalho artístico.
Com sete anos de desenvolvimento, tendo seu percurso construído com recursos do artista independente Kleper Reis e seus afetos criativos, “CU É LINDO” é um projeto multiartístico que “revela um processo de cura, a cura gay. O profícuo suspirar de um mergulho nas raízes que suscita a aceitação do si mesmo. A emoção de lidar com a censura, as memórias das violências e dos espancamentos sofridos, as discriminações e os preconceitos sociais, as imagens do inconsciente e as notícias diárias transmutadas em potência autocurativa e em veículo de integração. Fecunda-se como autopoiese, passagens e subjetivação. Vida em ação!”, diz descrição da mostra.
A mostra divulgou, nas redes sociais, um manifesto: