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Kalven Figueiredo
Publicado em 21 de dezembro de 2017 às 08:06
- Atualizado há 2 anos
O Zoológico de Salvador é o segundo do Brasil a realizar a reprodução assistida de uma harpia, ou gavião-real, e o 59º no mundo. O nascimento é considerado um feito, porque o animal está ameaçado de extinção. Além disso, só mantê-lo em cativeiro já é uma tarefa difícil.>
Esses animais são exigentes quanto ao habitat em que vivem. Estão acostumados com matas fechadas e virgens, com árvores de até 40 metros de altura, onde quase não há presença humana. Além disso, os zoológicos precisam lidar com os visitantes, diferentemente das instituições que são focadas em preservação de espécies e reprodução assistida. É um mérito da equipe também ter feito a incubação de forma natural, ou seja, o ovo foi chocado pela mãe.>
A reprodução ocorreu graças à parceria entre a equipe veterinária do zoo baiano com a bióloga Ana Célly Lima, que cuida do filhote - uma fêmea de quatro meses - desde seu terceiro dia de vida, quando foi tirado do ninho.>
Hoje com 4 meses, Hope (esperança, em português) é um símbolo para a sua raça, que enfrenta um estado crítico de extinção, como explica a bióloga Ana Célly. O risco de desaparecer se explica por muitos fatores, mas o principal deles é a perda de habitat.>
“Esse, na verdade, é o principal fator que vem levando muitas espécies ao estado de extinção. O caso da harpia se torna especial porque esse animal necessita de árvores com mais de 40 metros de altura para a construção de seus ninhos. Com o desmatamento das árvores, essas aves ficam sem ter onde nidificar (construir ninhos). Muitas vezes, as árvores são derrubadas até com ninhos já instalados”, diz a bióloga.>
As harpias possuem ainda algumas especificidades, como a maturidade sexual tardia, atingida apenas aos 5 anos de idade, que acabam dificultando a reprodução natural. “É somente nessa fase que o animal troca as plumagens e busca um par para procriar”, esclarece Ana Célly. Por isso é que são desenvolvidos programas de reprodução assistida em prol da preservação dessas espécies.>
Família A vantagem de tirar o filhote do ninho e cuidar dele separadamente, como foi feito no Zoológico de Salvador, é poupar a energia da mãe, que, no ninho, estaria com as forças voltadas para o cuidado do filhote. Sem ele, logo ela volta a entrar no período fértil, possibilitando o cruzamento e novamente a incubação. Se a a harpia criasse o bebê, ela só estaria apta a colocar ovos novamente em 3 anos. O processo é, então, acelerado.>
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Sendo assim, a mamãe de Hope já está lidando melhor com a perda e já começou a confeccionar o ninho para a nova cria. O processo de incubação dura 60 dias. Dessa forma, segundo a bióloga, Hope, que já vive com os pais no zoo baiano, já poderá ganhar um irmãozinho em março do ano que vem. >
Como acontece com a maioria das aves de rapina, por mais que a fêmea coloque dois ou mais ovos, apenas um filhote sobrevive. Isso acontece porque a mãe só consegue dar atenção a um único filhote. O cuidado parental se dá por dois anos, o que é muito tempo para a ave.>
E, como se não bastasse, a caça do animal também é um elemento que contribui para o estado atual de extinção. Na maioria das vezes, a caça é motivada por status: assim como a onça, a harpia é um predador de topo de cadeia e seu único predador é o homem. A caça para qualquer fim é considerada crime ambiental e vai contra a Lei nº 9.605, que prevê multas e até mesmo a prisão do infrator.>
*Kelven Figueiredo é integrante da 12ª Turma do Correio de Futuro, orientado pelo chefe de reportagem Jorge Gauthier>