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Grupo faz protesto em agência da Caixa após acusação de racismo; veja vídeo

Cerca de 100 pessoas participaram de ato; OAB repudiou ação da PM

  • Foto do(a) author(a) Tailane Muniz
  • Tailane Muniz

Publicado em 26 de fevereiro de 2019 às 21:29

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Um grupo de 100 manifestantes foi até a Caixa Econômica Federal do Relógio de São Pedro, na Avenida Sete de Setembro, Centro de Salvador, na tarde desta terça-feira (26), cobrar respostas sobre o episódio de violência sofrido pelo empresário Crispim Terral, 34 anos, que foi imobilizado por um policial militar com um golpe mata-leão no último dia 19.

O PM teria atendido à ordem do gerente geral da agência, que afirma, em vídeo, que "só sai com ele [Crispim] algemado". A ação foi gravada pela filha adolescente da vítima, que acompanhava o pai a um atendimento no banco, e já repercute em todo o país, desde a noite desta segunda-feira (25). 

Crispim, que é proprietário da Farmácia Terral, em Salinas da Margarida, no Recôncavo baiano, participou do manifesto. Ele acusa tanto a Caixa quanto a PM de racismo. À reportagem, o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Bahia (OAB-BA), Jerônimo Mesquita, repudiou a postura do gerente e a "violência excessiva da Polícia Militar'. O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) afirmou que vai apurar denúncia de racismo.

Em nota enviada ao CORREIO, a Caixa Econômica afirmou que apura as circunstâncias do caso. "A Caixa informa que está apurando e tomará todas as providências cabíveis. A CAIXA ressalta que repudia atitudes de discriminação cometidas contra qualquer pessoa", disse. Na quarta (27), a Caixa Econômica informou que afastou o funcionário.

O ato Liderança do coletivo CMA Hip hop, o militante Hamilton Oliveira, conhecido como DJ Branco, 37, disse que o ato foi organizado pela internet, em cerca de duas horas."Tínhamos que fazer hoje. Essa é uma das agências mais populares da cidade que tem uma quantidade enorme de negros, nós somos a maioria. Não podemos aceitar esse racismo institucionalizado, viemos dizer à sociedade que Crispim não está sozinho. O racismo mata o nosso povo de várias formas", comentou com o CORREIO.O ato, que durou cerca de uma hora, contou com a presença de representantes do movimento negro e chamou a atenção de clientes que aguardavam no local.

Ao CORREIO, Crispim contou que durante dois meses vem mantendo contato com a agência bancária para receber o comprovante de pagamento de dois cheques - um no valor de R$1 mil e outro no de R$1.056. Ambos foram devolvidos pela agência, em novembro do ano passado, sob alegação de que não havia saldo na conta para compensá-los.

'Tentaram impedir' O psicólogo e professor Walter Takemoto, 64, que também esteve presente no ato em defesa do empresário, afirmou que o gerente da loja pediu que não entrassem, mas, ao notar que o grupo não cederia, não impediu.

"Se tivessem impedido nossa entrada, a gente ia bloquear as entradas, seria pior. Então, o que fizemos foi entrar pacificamente e explicar aos clientes o porquê de estarmos ali, e que o que aconteceu com o Crispim foi, sim, racismo", comentou Takemoto.

Ainda segundo o psicólogo, a agência estava cheia no momento do ato."É uma agência caracterizada pela demora no atendimento, quem frequenta ali, sabe disso. Pediram que não filmássemos, mas também não aceitamos. Nosso objetivo foi mostrar o descaso com o qual administram a agência e a importância de discutir o racismo", disse. Crispim retornou à agência da Caixa nesta terça-feira (Foto: Betto Jr./CORREIO) O psicólogo, que também é militante, lembrou o assassinato do estudante Pedro Gonzaga, 19, por um segurança da rede de supermercado Extra, em circunstâncias parecidas, há 12 dias.

"Não tem nem 15 dias que vimos coisa parecida com Pedro. E eu penso que se Crispim fosse mais jovem, mais franzino, quem sabe não poderia ter acontecido coisa pior. O golpe foi o mesmo", destacou.

'Um abuso em todos os aspectos' Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB-BA, Jerônimo Mesquita explicou ao CORREIO que as imagens gravadas pela filha do empresário mostram uma sucessão de "abusos de poder".

Primeiro, O advogado destacou o fato de que a exigência por algemas, por parte do gerente da Caixa, já indica um ato exagerado para a situação. "Antes mesmo de chegar à violência, aquilo já é absurdo. Há uma súmula no Supremo Tribunal Federal (STF) que diz que o uso de algemas deve ser excepcional. A vítima apenas reivindica direitos, quer esclarecimentos".

De acordo com ele, a comissão recebeu o vídeo como forma de denúncia e já está em contato com o empresário."Ele é um rapaz negro, que foi tratado com aquela brutalidade, inclusive pela polícia. É injustificável, porque não aconteceria com uma mulher branca, em uma agência no Itaigara, por exemplo", considerou o advogado, sobre as agressões físicas.Jerônimo também comentou que o PM não poderia ter cedido ao pedido do gerente da loja, que exigiu a prisão do empresário. "Um servidor público tem o dever de se recusar a cumprir esse tipo de ordem, que chamamos de manifestamente ilegal, o policial tinha que ter se negado a cumprir. Crispim não oferecia risco à vida de ninguém ali", concluiu.Mata-leão Depois de se recusar a ser algemado, o empresário acabou recebendo um "mata-leão" - golpe de estrangulamento - de um dos PMs. O vídeo do momento em que Crispim é imobilizado foi gravado pela filha de 15 anos."Também acredito que sofri racismo por parte do policial, porque sequer esbocei uma reação, estava tranquilo. Podem até pedir as imagens das câmeras de segurança do banco. Minha filha ficou em pânico", disse. Crispim afirma que foi conduzido pelos policiais em uma viatura à Central de Flagrantes, onde foi autuado por desobediência e resistência. Em seguida, ele procurou uma unidade de saúde - a UPA dos Barris - onde recebeu atendimento por sentir fortes no maxilar, cabeça, pescoço e ombro esquerdo.

Ele prestou uma queixa contra os PMs na Corregedoria da Polícia Militar na quarta-feira (20).  Segundo o relato do empresário, registrado na Corregedoria e disponibilizado por ele em uma rede social, os soldados Roque da Silva e Rafaeal Valverde Nolesco iniciaram as agressões físicas contra ele. Crispim registrou caso na Corregedoria da Polícia Militar (Foto: Reprodução) Uso de algemas De acordo com o porta-voz da PM, capitão Bruno, o uso das algemas é recomendado aos policiais em situações em que os suspeitos “expõem riscos aos integrantes da polícia ou a si mesmo”.

“Como, por exemplo, quando o indivíduo está se debatendo e fora de controle. Nesse caso, é preciso uma contenção policial”, explicou o capitão. 

Ainda de acordo com o porta-voz, parte do vídeo foi suprimido e, por isso, uma sindicância está sendo aberta para tentar resgatar o que aconteceu momento antes do empresário receber o "mata-leão" do policial. “Estamos apurando. Recebemos o vídeo e encaminhamos à Corregedoria (PM) para que fossem ouvidas todas as pessoas envolvidas, inclusive saber da atuação policial e com certeza daremos uma resposta”, disse o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa.Em nota, a PM informou que o 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM/Centro Histórico) foi acionado por prepostos da agência porque um dos clientes se recusava a deixar a agência, mesmo após o término do expediente.

O CORREIO tentou contato com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), mas não obteve retorno.