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Eduardo Dias
Publicado em 11 de março de 2020 às 15:55
- Atualizado há 2 anos
Um dia após o anúncio da greve dos vigilantes, as agências bancárias da Caixa Econômica Federal e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) seguem com parte dos atendimentos suspensos.
Em algumas unidades da Caixa, por exemplo, só é possível utilizar os serviços de autoatendimento, através dos caixas eletrônicos. Já o INSS está recebendo apenas os atendimentos já agendados. Vigilantes reivindicam que os patrões façam o reajuste salarial, o que não ocorre há dois anos.
O CORREIO percorreu algumas agências bancárias da cidade e notou que somente a Caixa teve seu funcionamento afetado. As agências do Banco do Brasil e das instituições particulares seguem a rotina normalmente, embora tenham em suas fachadas cartazes com referência à greve dos vigilantes. Agências da Caixa colocaram cartazes informando sobre atendimentos durante a greve dos vigilantes (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Cliente da Caixa, Leandro Santos, 36 anos, perdeu o emprego recentemente e foi até uma agência localizada na Rua Barão de Cotegipe, na Cidade Baixa, para dar entrada no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), mas voltou para casa sem conseguir o atendimento.
"Cheguei aqui e encontrei a agência fechada. Não estava sabendo dessa greve. Vim porque alguém tinha me dito mais cedo que estava aberta, mas pelo visto dei viagem perdida. Essa greve, de alguma forma, atrapalha todo mundo. Entendo a luta deles, mas muita gente se prejudica”, lamentou. Leandro foi tentar dar entrada no FGTS, mas encontrou a agência fechada (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Quem também esteve na agência da Barão de Cotegipe foi o aposentado Landulfo Alves Almeida, 56, que pretendia realizar um saque no caixa eletrônico. No entanto, a agência estava de portões fechados, inclusive para o autoatendimento."Vim sacar um dinheiro, mas não imaginei que os bancos fechariam dessa forma. Soube por alto que os vigilantes estavam em greve, mas não sabia que ia impactar tanto. Agora vou rodar para procurar uma agência aberta ou um caixa 24h para poder sacar”, contou.Outra pessoa que teve sua vida impactada foi o aposentado Luiz Otávio Costa, 61. Ele defendeu a reivindicação da categoria, mas pediu que as agências voltassem a funcionar.
“Toda greve é válida, estão reivindicando algo que estão devendo para eles. Eu concordo, mas acredito que, mesmo em momentos como esses, as agências deveriam funcionar, principalmente os bancos públicos, com a presença de policiais para garantir a segurança dos clientes”, opinou ele, enquanto saía da agência da Caixa nas Mercês.
Por meio de nota, a Caixa Econômica Federal informou que "não é possível precisar quantas agências estão fechadas por conta da greve, pois sempre há perspectiva de normalização do atendimento nesses pontos de atendimento".
Acrescentou ainda que a orientação para quem precisa de serviços em uma das agências fechadas deve utilizar canais alternativos como lotéricas, correspondentes CAIXA Aqui e salas de autoatendimento. "Os canais recebem contas de água, luz, tributos, bloquetos de cobrança, prestação de habitação, saques de contas correntes e pagamento de benefícios sociais, como Bolsa Família, seguro desemprego e FGTS, entre outros serviços". Luiz Otávio defende a greve, mas pede que segurança seja reforçada nas agências (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) INSS Assim como na terça-feira, os serviços de atendimento nas agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) foram diretamente impactados pela greve nesta quarta. Sem a presença dos vigilantes, os postos de atendimento do estado atendem apenas quem já realizou agendamento prévio. Já quem precisa realizar perícia médica deve entrar em contato com o telefone 135 para reagendar a consulta.
A professora Sandra Sousa foi à unidade do INSS da Avenida Sete de Setembro duas vezes nesta quarta-feira. Ela estava em busca de informações sobre a curadoria de um irmão que não pôde comparecer ao órgão devido ao trabalho. Chateada, ela reclamou dos servidores que trabalhavam no prédio e estavam dando informações pela grade do prédio.“Vim apenas pegar informações, não agendei nada. Apenas queria falar com alguém para me orientar. Não queria entrar, só queria que me orientassem mesmo. Insisti tanto que o funcionário resolveu me atender”, disse. Sandra precisou ir ao INSS duas vezes para buscar uma informação (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Ao CORREIO, a assessoria de comunicação do órgão informou que as agências já reagendaram as consultas que não foram realizados na terça-feira. No entanto, relembrou que os serviços de perícia médica não estão funcionando, pois precisam de um vigilante no local. O INSS não comentou sobre reclamações de cliente sobre o atendimento no local.
Greve mantida A greve dos vigilantes foi anunciada na terça-feira (10). Na manhã desta quarta, os grevistas realizaram uma reunião da categoria na sede do Sindicato dos Vigilantes da Bahia (Sindivigilantes), na Rua do Gravatá, no bairro de Nazaré. De lá, eles saíram em passeata até o Politeama.
De acordo com o presidente da entidade, José Boaventura, a principal motivação da greve da categoria é a falta de um reajuste salarial para a categoria.
“Estamos há dois anos sem reajuste e sem a convenção coletiva com os patrões que estava acordada. Além disso, também temos uma perda inflacionária de 8% e os patrões respondem com uma proposta de cobrir apenas 1,5 % de reajuste. Reivindicamos também um aumento do ticket de refeição diário de R$ 13 para R$ 23”, explicou Boaventura, que revelou ainda que não há previsão para que a greve seja encerrada.
“A última tentativa que tivemos de negociação foi no dia 12 de fevereiro. De lá para cá, não houve mais nenhuma conversa. Eles dizem que estão dispostos a negociar, nós também. Mas a gente não vê nenhuma iniciativa por parte dos patrões. Estamos dispostos a negociar, mas no momento não há nenhuma agenda para que haja uma conversa e a greve está mantida”, completou o presidente. Grevistas colaram cartazes em agências bancárias e do INSS (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Ainda segundo Boaventura, atualmente 30 mil vigilantes que fazem parte do sindicato, mas não há um levantamento de quantos profissionais aderiram ao movimento.
O presidente do sindicato aproveitou ainda para criticar a postura dos bancos que abriram mesmo sem a presença dos vigilantes. “Alguns bancos estão descumprindo a lei e agindo com irresponsabilidade, pois estão abrindo as agências sem a presença de vigilantes, colocando a vida das pessoas em risco”, concluiu.
O CORREIO também procurou Paulo Cruz, presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada da Bahia (Sindesp-BA), que informou que o reajuste de 1,5% era apenas uma proposta inicial, que não chegou a ser debatida.
"Toda negociação tem um ponto de partida dos dois lados e esse foi o nosso. Eles pedem 8%, além, de um ganho real, que daria 13% ou mais de reajuste. Não há histórico no Brasil de um reajuste desse tamanho, porque a economia não suporta", disse.
Ele acrescentou ainda que não há nenhuma reunião agendada com os vigilantes e que não há previsão para que isso aconteça. Diante do cenário de greve, as empresas informaram que acionarão a Justiça para adotar as medidas cabíveis em relação ao caso.
*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier