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Vitor Villar
Publicado em 20 de dezembro de 2020 às 20:41
- Atualizado há 2 anos
Em entrevista no gramado logo após o apito final de Flamengo 4x3 Bahia, o meia Gérson, do rubro-negro carioca, acusou o meia Índio Ramírez, do Esquadrão, de racismo. E também criticou a postura condescendente do técnico tricolor, Mano Menezes.
"Quando a gente tomou o segundo gol, o Bruno (Henrique) fingiu que ia chutar a bola e o Ramírez reclamou com ele. Eu fui falar com ele (Ramírez) e ele falou bem assim pra mim: 'cala a boca, negro'. Eu nunca falei nada disso porque nunca sofri esse tipo de preconceito, mas isso aí eu não aceito", disse o meia do Flamengo.
Na transmissão da partida, foi possível ver Gérson muito irritado por volta dos 25 minutos do segundo tempo. Ele discutiu com Ramírez, foi segurado por alguns companheiros, depois partiu à lateral do campo, em direção ao banco do Bahia, onde também bateu boca com o técnico Mano Menezes.
Ainda na entrevista, Gérson disse que o técnico Mano Menezes não teve uma reação adequada à acusação de racismo por parte de um jogador seu: "Eu nunca falei nada de treinador na imprensa, mas Mano tem que saber respeitar. Tô vindo aqui para falar em nome de todos os negros do Brasil. Ele falou pra mim 'agora você é vítima, né? Quando Daniel Alves te atropelou você não fez nada'. Claro, porque teve um respeito entre mim (Gérson) e ele (Daniel)", disse o meia, referindo-se a um episódio passado com o meia do São Paulo.
Numa gravação exibida posteriormente, foi possível captar o diálogo entre Mano e Gérson. O jogador do Flamengo diz: "Me chamou de negro, pô", ao passo que o técnico reage: "Agora virou malandragem", insinuando que o jogador estivesse usando o artifício para provocar a expulsão de um atleta do Bahia também (Gabigol havia sido expulso no início da partida). E o jogador respondeu: "Malandragem não, ele falou. Pergunta pra ele".
Depois, Mano fala ao 4º árbitro: “Se nós estamos errados, tá errado. Não queremos estar certos se nós estamos errados. Mas aquele menino (Ramírez) não ia fazer isso com o Gérson. Eu conheço o jogador. O jogador chegou agora, é um guri”.
Logo após a partida, Gérson publicou um manifesto nas suas redes sociais. O Flamengo também se manifestou. O Vitória, rival do Bahia, fez uma postagem em apoio a Gérson, assim como outros clubes brasileiros:
Gérson completou: "Tenho vários jogos como profissional e nunca vim na imprensa falar nada disso. Porque eu nunca sofri esse preconceito, nunca fui vítima, nenhuma vez. Mesmo sendo eliminado de Libertadores, Copa do Brasil".
A derrota do Bahia por 4x3 para o Flamengo foi quente. Antes desse episódio, a partida tinha ficado paralisada por quase cinco minutos, ainda no primeiro tempo, após expulsão de Gabriel, com nove minutos de jogo. O árbitro relatou na súmula que ele o teria xingado.
Já no final da noite, o Bahia manifestou-se sobre o caso em mensagem no Twitter: "Aproveitamos para anunciar que, em relação à grave acusação de racismo envolvendo o colombiano Indio Ramírez, o clube se posicionará em breve após finalizar a apuração do caso".
Manifesto
O Flamengo, na figura do seu vice-presidente de futebol Marcos Braz, pediu apuração dos fatos: "Feliz pelo resultado esportivo, mas muito infeliz com o fato ocorrido e que nos foi relatado pelo Gérson. eu sofreu uma ação de racismo dentro de campo e relatou isso à imprensa", disse em entrevista após a partida.
"O Flamengo, como instituição centenária, vem se colocar à disposição do atleta, ao lado do atleta. Mais do que isso, pede uma profunda apuração desse episódio infeliz", completou o vice-presidente de futebol flamenguista.
Rogério Ceni também falou sobre o episódio após a partida, mas evitou entrar em detalhes: "Muito prematuro tecer uma crítica, zombar ou qualquer coisa assim antes de apurados os fatos sobre o que realmente aconteceu. Eu não consegui ver de longe, mas pelo relato do atleta eu acho complicado".