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Georgina Maynart
Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 06:06
- Atualizado há 2 anos
No Pico do Jaraguá a vista panorâmica é de tirar o fôlego. No alto, imensos paredões rochosos se destacam na paisagem cinza do extremo semiárido baiano. Lá embaixo, a cidade encrustada no meio do vale abriga mais de oitenta mil pessoas. É Jacobina. Hoje o acesso é fácil. Estradas interligam o município as outras partes do estado. Mas há 400 anos era difícil chegar nestas terras.
Vencer a caatinga seca e o longo percurso do litoral ao sertão se revelava um desafio fenomenal para quem sonhava chegar no antigo vilarejo, conhecido na época como Missão de Nossa Senhora das Neves.
Naquele tempo, no auge do Brasil Colônia, as carroças eram os únicos meios de transporte e a viagem chegava a durar vários dias. O esforço parecia valer a pena. Não foi à toa, que ainda no meio do século XVII, muita gente se deslocou para esta região. Eram pessoas que sonhavam em encontrar as riquezas minerais abundantes, descritas em histórias que se espalharam pela antiga colônia portuguesa.
Bandeirantes, garimpeiros e aventureiros tinham pressa. Afinal, a Coroa Portuguesa demorou mais de duzentos anos para encontrar nesta capitania o tão cobiçado ouro, e nesta época as minas das Gerais já estavam em declínio.
Neste período aparecem personagens como Robério Dias, Belchior Dias Moreira, Antônio de Brito Correia e Guedes de Brito. A exploração de ouro cresceu tanto que já no século XVIII, em 1722, através de Carta Régia, o vilarejo foi erguido ao posto de freguesia de Santo Antônio de Jacobina.
Quatro anos depois, na tentativa de aumentar a arrecadação do dizimo, o governador da província determinou a criação de uma casa de fundição no município. Em apenas dois anos a mina de Jacobina gerou quase 4 mil libras de ouro. Há quem diga que poderia ter sido muito mais, se a exploração de ouro já não estivesse fora do controle oficial. “Foi um ciclo muito importante. Marca a história da Bahia e do Brasil, ao lado de ciclos como o da cana-de-açúcar, do fumo e da madeira. Particularmente este período foi muito marcante em relação aos movimentos migratórios para o sertão. Já existiam vilas, inclusive com quilombos e comunidades descendentes de indígenas, mas nesta época começa a chegar muita gente de fora e se formam algumas cidades a partir daí”, conta o historiador Rafael Dantas. Nesta ocasião também foram descobertas minas em Rio de Contas, outra vila que prosperou graças as jazidas minerais. Descoberto pelo bandeirante Sebastião Pinheiro Raposo, no início do século XVIII, o ouro de aluvião foi a base econômica do local durante quase cem anos. A riqueza se revela na arquitetura da cidade. Em 1745 ela deu origem a primeira cidade planejada do Brasil.
Conta-se que no século XVIII graças ao ouro de aluvião, o município de Rio de Contas prosperou tanto, e muitos moradores ficaram tão ricos, que eles se davam ao luxo de fazer demonstrações públicas da abundância. Conta-se que as tradicionais famílias costumavam lançar pó de ouro nas pessoas que se vestiam de imperadores e rainhas na tradicional procissão da Festa do Divino Espírito Santo. Com a riqueza do ouro, eles também costumavam importar roupas e objetos de decoração da Europa. Foi a mesma riqueza que permitiu surgir na cidade os casarões em estilo colonial hoje tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
“Há informações, ainda carentes de registros históricos, de que as fortunas eram tão grandes que quando os bebês nasciam eram distribuídas moedinhas de ouro para as visitas”, acrescenta o historiador.
É também neste período que a Coroa Portuguesa decide extender a chamada Estrada Real que já existia em Minas Gerais até a Bahia. "Quando começou a corrida do Ouro, o rei mandou prolongar a Estrada Real. Até aquele momento ela se limitava a Minas Gerais. Neste momento o estado já tinha até um pouco mais de controle sobre as riquezas, com casa de fundição em Rio de Contas", acrescenta o geólogo Adalberto Figueiredo Ribeiro.O ciclo do ouro no estado durou cerca de 150 anos, até quando as jazidas começaram a se esgotar no fim do século XVIII. Atualmente Rio de Contas tem o turismo e a agricultura como atividades econômicas principais.
De lá para cá o município de Jacobina se consolidou como polo produtor de riquezas minerais e hoje é o município baiano que mais arrecada impostos através da mineração.
Atualmente a produção baiana de ouro conta com jazidas em Jacobina (Yamana), Teofilândia (MIneração Fazenda Brasileiro) e ainda em Santa Luz, onde a empresa Leagold prevê investimentos de R$ 82 milhões de dólares, segundo o protocolo de intenções registrado na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado.
Nos próximos meses outro município deve entrar nesta lista seleta. Iramaia, também na Chapada Diamantina. A empresa Envirometals Participações S.A vencedora da licitação, deve começar as pesquisas complementares em 2020.
DIAMANTES
A chapada sempre foi preciosa, mas nem sempre foi diamantina. Antes ela era conhecida apenas como Chapada Grande ou Chapada Velha. A região só teve o nome atrelado aos diamantes a partir de 1844.
Conta a lenda que foi no São João daquele ano, no dia 24 de junho, que um diamante foi achado as margens do rio Mucugê, por Cristiano Pereira do Nascimento e José Pereira do Prado. A fama das lavras diamantinas se propagou pelas capitanias e fez a população do lugarejo aumentar em cinco vezes em menos de dois anos. Mucugê chegou a ter quase 30 mil habitantes.
Os registros oficiais contam que o primeiro diamante da Bahia teria sido encontrado por acaso, acidentalmente, por Cristiano Pereira do Nascimento, afilhado de José Pereira do Prado, conhecido como Cazuza do Prado. Cristiano teria encontrado a pedra preciosa no momento em que lavava as mãos no leito do Riacho das Cumbucas, na antiga Vila Santa Isabel do Paraguaçu, atual município de Mucugê. A partir daí vários homens, sob comando de Cazuza do Prado, terias recolhido outros diamantes na região. O segredo só foi descoberto quando um dos integrantes do grupo tentou vender um diamante, foi acusado de assassinar um minerador e teve que revelar a origem da pedra.
Em 1846, o mineralogista Virgil Von Helmreichen também chegou a relatar em Viena, que desde 1842 diamantes tinham sido descobertos na Serra das Aroeiras, na Chapada Grande.
“A ocorrência de diamantes na Serra das Aroeiras foi descoberta no mês de março de 1842 pelo padre Queiroz e, até o fim de 1842, a população tinha subido de oito para dez mil almas entre as quais havia de 1.800 a 2.000 trabalhadores de diamantes propriamente ditos”, a firmou o mineralogista Virgil Von Helmreichen em 1846.
Antes desta descoberta, os relatos não eram oficiais, apesar do Conde de Sabugosa já em 1731 ter proibido a habitação em pontos onde fossem achados diamantes.
Neste período foi erguido no município um conjunto colonial arquitetônico considerado excepcional e hoje tombado pelo patrimônio histórico nacional. O ciclo dos diamantes na região começou a decair a partir de 1871, quando as pedras ficaram escassas e novas jazidas gigantescas foram descobertas na África.
Atualmente existe um Museu do Garimpo na região, mas as atividades econômicas principais são a agricultura e o ecoturismo.
ETERNOS
Em 2020 o Brasil deve saltar da 19ª para 11ª posição no ranking mundial de produtores de diamantes. A escalada na lista do seleto grupo dos 21 países produtores será possível graças as jazidas descobertas em Nordestina, no semiárido baiano.
O município possui a primeira mina de diamantes em rocha primária da América Latina. É uma das maiores reservas do mundo da rocha Kimberlítica, formada por erupções vulcânicas. Descoberta em 1990, a mina Braúna só começou a ser pesquisada quinze anos depois, em 2005. Mas a extração efetiva só foi iniciada em 2016 pela Lipari Mineração. Jazida de Nordestina é a única da América Latina a produzir diamantes de rocha primária (Foto: Lipari divulgação) De acordo com a empresa, a expectativa é de que no próximo ano a produção chegue a 400 mil quilates de diamantes, um volume que aumentará em dez vezes a produção nacional.
A mina a céu aberto ficará em operação até 2022, mas está em fase de transição para operação subterrânea. Os diamantes têm sido exportados para os Emirados Árabes Unidos. A companhia belga mantem 400 empregos diretos, e gera cerca de R$ 3 milhões de reais em impostos para o município anualmente.
Com projetos de expansão, a empresa investiu R$ 1,1 milhão em novas pesquisas este ano. Mina de diamantes da Lipari, em Nordestina, gera cerca de R$ 3 milhões de reais em impostos para o município (Foto: Lipari divulgação) Em entrevista ao CORRIO, o vice-presidente da Companhia, Christian Schobbenhaus, falou sobre as perspectivas da mineradora na Bahia e sobre os recentes projetos. A empresa defende que o Brasil tem enorme potencial para minas de diamante em fonte primária, mas afirma que a demora nos processos licitatórios impede mais investimentos no setor mineral.
*Depois de quatro anos de iniciada a extração de diamantes na Bahia, como a Lipari avalia a produção de diamantes em Nordestina? A quantidade extraída está dentro do planejado?
A mina Braúna 3 está em plena operação. Nossa produção está dentro do que foi informado durante a fase de avaliação de reservas.
*A produção de minérios altera e dinamiza a economia das cidades. A mina está localizada em uma das regiões mais carentes do estado. Como tem sido a relação da empresa com as comunidades do entorno?
Respeito à dinâmica social e diálogo são premissas para o nosso relacionamento comunitário, que visa estreitar laços sem criar elos de dependência econômica ou assistencialista. Isso significa dizer que buscamos desenvolver ações que extrapolam os resultados imediatos e contribuam para a autonomia da comunidade, independentemente da presença do empreendimento, focando o potencial transformador e o legado positivo. Daí a priorização da educação formal e dos cursos profissionalizantes, por exemplo. Entendemos que, desta forma, a empresa – seja através de sua política de Responsabilidade Social ou acolhendo propostas da comunidade – direciona o investimento socioambiental para ações coletivas e programas estruturados, nas áreas citadas anteriormente, sempre considerando as características, vocações e necessidades locais.
*A mineração moderna pressupõe a implantação de sistemas mais sustentáveis de produção, com respeito ao meio ambiente e garantia do cumprimento de normas, e isso envolve também tecnologia. Quais novas ferramentas tecnológicas estão sendo usadas em Nordestina?
A Mina Braúna 3 é um projeto que respeita as normas ambientais e de segurança. Como o projeto está instalado no semiárido baiano, o principal desafio foi em relação à economia e recuperação de água. Nossa mina utiliza um processo de centrifugação do rejeito fino que recupera acima de 95% da água de processo. Esse sistema além de recuperar a água evitou a construção de barragem de rejeito. O rejeito fino é disposto junto com o rejeito grosso e o estéril na pilha de estéril. Além disso todo nosso processo utiliza apenas insumos inertes.
*Algumas das principais consultorias de mercado tem apontado um desaquecimento do comércio de diamantes no mundo, provocado pelo aumento dos estoques mundiais. Como o Sr. avalia este momento do mercado de diamantes?
O diamante é um artigo de luxo e seu valor é influenciado por crises econômicas mundiais. Além disso, o comércio de pedras sintéticas tem aumentado bastante e afeta diretamente o valor das pedras menores de um quilate. A queda no preço não influenciou nosso ritmo de extração devido ao tamanho de nossa produção, mas afeta diretamente nossa receita. No último mês houve pequena recuperação do mercado de diamante e há expectativa de recuperação em 2020.
*A Lipari tem novas áreas em estudo ou novos projetos de expansão aqui na Bahia?
Temos interesses em outras áreas na Bahia assim como em outros estados, mas estamos parados aguardando a implantação do processo licitatório da Agência Nacional de Mineração. Continuamos com a avaliação de corpos kimberlíticos adjacentes a Mina Braúna 3 assim como sua expansão.