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Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2020 às 13:52
- Atualizado há 2 anos
Segunda-feira, 6 de abril. No mesmo dia que o País ficou em alerta com a crise política em Brasília entre o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o presidente Jair Bolsonaro, um jovem desconhecido, morador de Osasco, na região metropolitana de São Paulo, esperava um leito de internação em um hospital público após ser diagnosticado com o novo coronavírus.>
Já era a quarta vez que Diogo Azeredo Polo Boz, com 27 anos e nenhuma doença crônica, procurava uma unidade de saúde em cinco dias. Nas três primeiras, como tinha apenas febre e tosse, foi medicado e mandado para casa. >
Na quarta, Diogo já sentia falta de ar e teve de ser internado. Naquela mesma manhã, enquanto esperava a transferência para um hospital, postou em sua página no Facebook um relato desesperado. “É horrível, uma tosse que não para. Te impossibilita de respirar e te faz ter dores que você não imaginaria. Não aguento mais essas dores, ficar em uma sala de isolamento para poder melhorar e nada mudar. Qualquer coisa que você faça, já fica cansado, sem ar. Se cuidem, fiquem em casa, não é gripezinha. É real e está muito perto de todos.”>
Foi a última mensagem de Diogo nas redes sociais, no último dia que a dona de casa Eromar Azeredo Polo Boz, de 55 anos, viu o filho. “Ele foi internado às 11 horas em um hospital que é referência para covid, então não podia receber visitas nem ficar com nada, nem celular. A única forma de receber notícias era ir ao hospital todo dia, às 15 horas, para falar com os médicos”, conta Eromar.>
Até quinta-feira, 9 de abril, Diogo seguia em tratamento, consciente, com máscara de oxigênio, mas sem precisar de respirador. Na tarde daquele dia, no horário da visita, o médico informou a mãe do jovem que Diogo seria entubado. “Ele me disse que tinha explicado para o meu filho que ia colocar o tubo para ele não sofrer muito, porque, mesmo com a máscara de oxigênio, ele estava cansando muito, fazendo força para conseguir respirar, então decidiram entubar, mas nunca achei que ele não sairia de lá.”>
Apenas 12 horas depois, na madrugada de sexta-feira, 10 de abril, Eromar recebeu uma ligação do hospital. Com insuficiência respiratória grave por causa da pneumonia provocada pelo coronavírus, Diogo teve uma parada cardiorrespiratória e não aguentou. Na data em que o jovem morreu, Sexta-feira Santa, Brasília também continuava em destaque por embates políticos. O presidente Bolsonaro saía às ruas da capital para visitar comércios e criticar o isolamento imposto por Estados.>
Em Osasco, Eromar cuidava dos trâmites da liberação do corpo de Diogo, sem direito a velório nem enterro por causa do risco de contaminação. O jovem foi cremado. As cinzas, conta a mãe, serão entregues em 24 de abril à família, um dia depois da data que o rapaz completaria 28 anos.>
Eromar continua inconformada com a perda rápida e precoce do filho, mas se revolta ainda mais ao ouvir comentários de quem defende que a abertura da economia é mais importante que a contenção do vírus. “Vou ao supermercado e vejo gente falando que quer trabalhar, que a economia não pode parar. Eu preferia ficar na miséria do que ter perdido meu filho. Dinheiro, coisas materiais, a gente conquista. Meu filho não volta mais.” As informações são do Estado de S. Paulo.>