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‘Final dos tempos’, sorri Bethânia sobre crítica negativa

Leia a entrevista com a cantora que lança o álbum Noturno, alvo de polêmica

  • Foto do(a) author(a) Laura Fernades
  • Laura Fernades

Publicado em 30 de julho de 2021 às 05:00

 - Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Jorge Bispo/Divulgação
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A expectativa em torno do novo álbum de Maria Bethânia, 75 anos, era tão alta que a polêmica foi formada antes mesmo do lançamento. Tudo porque a capa minimalista do disco Noturno (Biscoito Fino) não atendeu às expectativas dos fãs acostumados com as obras de arte habitualmente apresentadas nos discos da cantora com 55 anos de carreira. A crítica chegou a dizer que a nova capa é “a pior da discografia”.

Com elegância, sutileza e um leve sorriso na voz, Bethânia diz que o burburinho negativo criado antes da audição do álbum, disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (30), é o “final dos tempos”. “Você faz um trabalho de cantora e acontece isso... Não sou artista plástica. Realmente minhas capas são lindíssimas, mas essa é muito sóbria, elegantíssima. Reflete o momento”, justifica, ao telefone.

Potente, Noturno toca profundamente a alma de quem escuta. O minimalismo da capa também está nos arranjos feitos pelo maestro Letieres Leite e, assim como o cartão de visitas do disco, é reflexo da pandemia que o mundo enfrenta. Afinal, o trabalho foi gravado durante duas semanas e meia entre setembro e outubro de 2020, com poucos instrumentos e muito rigor para garantir o distanciamento social.

Cada música vem com uma dedicatória. A aguerrida Dois de Junho, de Adriana Calcanhotto, é “para os indiferentes”; a delicada Música Música, de Roque Ferreira, é “para os sobreviventes”; e a envolvente Prudência, composta por Tim Bernardes, foi pensada “para os corações inquietos”. O resultado é um trabalho afetivo que oscila crítica e versos de esperança, como quem busca luz na escuridão.

“No roteiro construído por Maria Bethânia, assistimos – vivemos com ela – a um complexo jogo de luz e sombra. A primeira dá cor e forma à alegria, à esperança, ao amor, à paz, à amizade, à fé. A segunda imprime os contornos ásperos da solidão, da tristeza, do abandono, da traição, do terror”, explica o poeta Eucanaã Ferraz, na apresentação do disco.

Na entrevista a seguir, Bethânia fala não só sobre a polêmica em torno da capa, mas explica como foi construir esse trabalho em meio à pandemia, fala sobre o “suspiro de saudade” que tem da Bahia, sobre a possibilidade de uma nova live e sobre a letra que cita o menino Miguel, de 5 anos, que morreu no dia 2 de junho ao cair do nono andar de um condomínio de luxo. Confira.

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Te incomoda a crítica se prender à capa do disco e taxar que foi “a pior da discografia”? Final dos tempos, eu acho (risos). Você faz um trabalho de cantora e acontece isso… Não sou de comentar essas coisas, mas você perguntou e eu estou respondendo. Não sou artista plástica. Realmente minhas capas são lindíssimas, mas essa é muito sóbria, elegantíssima. Reflete o momento. Acontece. Tem pessoas que nascem para fazer esse tipo de coisa. Assim como nasci cantora. É só o que posso pensar.A mim não cabe dizer absolutamente nada. É um direito das pessoas gostarem, não gostarem. Meu trabalho é de cantora, de ideia, de criação, de entrega.O que buscou com essa capa que contrapõe o Noturno do nome com a claridade do branco? É uma capa que começa na noite, pedindo luz, claridade, luminosidade, força. 

Noturno foi gravado na pandemia. Como esse contexto interferiu em seu processo de construção do disco e como isso está refletido no trabalho? O momento tem um peso muito grande em tudo o que se faz. Fiz o disco no auge da pandemia, tivemos que fazer com muito rigor. Poder realizar era uma necessidade minha de estar mais perto das pessoas que me acompanham, me aplaudem. Eu parei em 13 de março de 2020. Tinha show à noite, que foi cancelado, vim para minha casa no Rio e não saí mais.Era uma necessidade, mas foi muito difícil: distanciamento, protocolo, distanciamento e muitos testes, porque todo mundo tem juízo. Mas senti falta de um contato maior com os músicos, que gravaram sem a minha presença.Meu disco tem muito voz e violão, voz e piano, porque era uma maneira de realizar. Foi a solução que encontramos. Fiz o disco em duas semanas e meia. Tinha todo o repertório, todas as ideias. As músicas chegaram e me carregaram. (Foto: Jorge Bispo/Divulgação) O que guiou a sua escolha na hora de compor o repertório? Eu preciso de um subtexto, tenho essa orientação desde menina. Canto desde os 17 anos, estreei em um espetáculo de teatro e fui guiada pelo teatro. Meu jeito de cantar, de expressar vem da dramaturgia. Venho do show Claros Breus (2019) e trouxe muita coisa de lá. Claros Breus fechava no escuro, com o Bar da Noite, e aqui no disco essa música abre, para poder fechar com a luz [o poema Uma Pequena Luz, de Jorge Sena].

Há uma variedade de compositores, estilos e gerações em Noturno. Adriana Calcanhotto, Tim Bernardes, Xande de Pilares, Roque Ferreira, Chico César... É a maior alegria da minha vida. Tenho 75 anos de idade, 55 de carreira, e fico muito comovida com todos. Isso é muito forte, é o que sustenta minha vida. E é lindo que venham novos.

A música Dois de Junho, sobre o menino Miguel, chama a atenção com seu convite à realidade de "um país negro e racista". Gostaria que falasse um pouco mais sobre ela. Adriana Calcanhotto às vezes compõe como uma cronista. Essa música é um grito, muito forte, muito real, muito atual, sobre a indiferença das pessoas. É tanta vontade de chegar às pessoas e dizer: “Olha, penso assim”.Sou uma mulher de palco, de voz, de interpretar, sou intérprete do povo brasileiro e não poder se expressar é uma prisão muito ruim. Na música De Onde eu Vim você fala sobre a Bahia. Muita saudade? Nossa, não ter fevereiro em Santo Amaro... Não vou à Bahia desde março de 2020. Não gosto de ficar longe de minha terra Santo Amaro, longe de Salvador, fico muito angustiada de não poder ir. Ainda não tive confiança de pegar um avião. Não tenho. Essa música diz tudo o que eu sinto. Sou louca por essa vibração baiana, esse jeito lindo que a Bahia tem de viver, das pessoas, do movimento, dos cheiros. Lá tem muita “gente bonita que acredita que o sol sempre há de brilhar”. Dentro de Salvador e Santo Amaro, tenho uma vibração muito grande. A Bahia tem uma pequena melancolia, “é um suspiro de saudade solto pelo ar” (risos).

O que esse disco representa para você? Um trabalho realizado. Consegui, dentro de toda dificuldade, fazer um trabalho limpo, honesto, justo, que traduz o que sinto no momento, o que penso, com suas nuances.

A live que você apresentou em fevereiro foi um afago na alma de pessoas sedentas por afeto... E na minha alma também! (risos)

...pretende repetir com o repertório desse disco? Já tinha feito alguma coisa do disco e, à época, coloquei De Onde Eu Vim, Lapa Santa... Tinha alguma coisa do repertório. Mas foi um projeto diferente, televisão, que não estou acostumada. Mas o Boninho foi de muita serenidade, de muita segurança, e consegui fazer o meu pensamento, sem interferência de ninguém. Fiquei muito feliz. Assim que terminou a live, a primeira pessoa que falou comigo foi meu irmão, Caetano, e fiquei muito impactada. Eu atendi e ele disse: “Acabei de ver você e o Brasil não vai acabar”.

Noturno Lançamento Biscoito Fino Preço: R$ 50,90 Vendas: no site da Biscoito Fino e nas plataformas digitais