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Murilo Gitel
Publicado em 21 de junho de 2018 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Estimular a competitividade, contribuir para o cumprimento das metas do Acordo de Paris e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Estes são alguns dos benefícios que um possível mercado de carbono pode trazer para o Brasil, segundo o entendimento de especialistas e empresas que participaram do Encontro Internacional Sobre Precificação de Carbono, realizado na terça-feira (19/6) em São Paulo.>
O objetivo do evento, realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), em conjunto com a Embaixada da Alemanha no Brasil e com o Instituto Clima e Sociedade (iCS), foi demonstrar o papel de liderança do setor privado brasileiro no sentido de implementar no País um sistema de precificação de carbono, a exemplo do Sistema de Comércio de Emissões da União Europeia (ETS).>
Atualmente, 45 governos nacionais e 25 subnacionais, que representam 20% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), adotam a precificação, seja por meio de um mercado regulatório estabelecido ou de tributos. Nesse sistema, instrumentos mercadológicos ajudam países e empresas a cumprir metas de corte dos gases de efeito estufa.>
Funciona assim: os governos atribuem um custo às emissões por meio da regulamentação de instrumentos como o mercado de carbono e/ou a tributação das emissões. Como fica mais caro utilizar tecnologias intensivas em carbono, as empresas são estimuladas a investir na chamada bioeconomia. Na América Latina, Colômbia, México e Chile já possuem iniciativas de precificação.>
Brasil>
No evento em São Paulo, a presidente do CEBDS, Marina Grossi, defendeu que o Brasil “só tem a ganhar” ao estabelecer um mercado de carbono. “É fundamental para atingir as metas do Acordo de Paris, uma vez que há um curto período de tempo para isso [2030]. Não é à toa que China e Índia, que têm matrizes energéticas muito sujas, já estão adotando a precificação. Nós temos uma matriz limpa, o que é uma vantagem. Existe a percepção do setor empresarial de que isso é importante. O setor empresarial tem puxado essa agenda”, destacou.>
De acordo com Marina, uma proposta do setor empresarial nesse sentido será entregue ao ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, no início de julho. Na ocasião, o chefe da pasta receberá o estudo “Precificação do Carbono na Indústria: Uma Iniciativa Estratégica”, encomendado pelo CEBDS ao professor doutor em economia Ronaldo Seroa da Motta, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).>
“O estudo se baseia na experiência mundial. Propomos a adoção de um sistema de precificação em fase de projeto piloto, entre três e cinco anos, como fez inicialmente a União Europeia. Demonstra também que o setor empresarial prefere a metodologia de mercado em relação a de tributos, porque é muito mais fácil estabelecer metas crescentes do que impostos crescentes”, explica Motta.>
Professor da Uerj, Ronaldo Seroa da Motta conduziu estudo sobre a regulamentação de um mercado de carbono no Brasil (foto: Ana Rezende) >
O coordenador-geral de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Ministério da Fazenda, Aloísio Melo, afirmou que o governo busca criar uma governança capaz de avaliar esse conjunto de mecanismos para que eles venham a virar políticas. “Objetivamente, queremos testar algumas modelagens. Identificar qual modelo é mais propício para a competitividade”, ressaltou. Segundo ele, uma definição sobre o tema deve sair até o primeiro semestre de 2019. A tendência é que o País estabeleça um sistema de precificação nos próximos cinco anos.>
“Espero que o Brasil lidere essa questão da precificação de carbono em todo o mundo”, projetou o gerente de Programa da Unidade de Clima e Finanças do Carbono do Banco Mundial, Venkata Putti. Ele enfatizou que a instituição financeira fornece assistência aos países no que diz respeito ao desenvolvimento de infraestrutura, principalmente as economias emergentes.>
Empresas>
Algumas empresas brasileiras desenvolvem iniciativas internas de precificação, com o objetivo de melhorar os indicadores de sustentabilidade, estimular a fabricação de produtos com baixa pegada de carbono e se antecipar a criação de um possível mercado. Um exemplo é a Braskem, que tem programas nessa área desde 2014.>
“Tem sido uma experiência muito positiva para nosso portfólio de investimentos, porque nos ajuda na definição de projetos relevantes, mas também é um processo educativo, porque faz com que nossos engenheiros passem a pensar de forma diferente. Se bem aplicado, ouvindo todos os setores, o modelo de precificação é muito bem-vindo”, analisou o vice-presidente da Braskem, Marcelo Cerqueira.>
Há dois anos, a Iniciativa Empresarial em Clima (IEC), um movimento do setor privado dedicado ao contexto global da mudança do clima, lançou uma carta aberta em defesa da precificação de carbono no Brasil. O documento foi assinado por 26 CEOs de companhias. “O custo de uma ação tardia é desproporcionalmente superior ao custo de se tratar esse desafio preventivamente. Precisamos agir hoje para alcançar resultados de baixo carbono no longo prazo”, sugeria trecho do texto, à época.>
Cinco dados sobre mercado de carbono:>
1) O valor anual dos tributos sobre emissões e do mercado regulado de carbono aumentou 56%, passando de US$ 52 bilhões em 2017 para US$ 82 bilhões em 2018;>
2) O incremento foi motivado pela alta nos preços do carbono e o início de operação de novas iniciativas de precificação do CO2;>
3) 45 governos nacionais e 25 subnacionais têm mercado de carbono hoje;>
4) Em abril deste ano, 54% das emissões foram cotadas a partir de US$ 10 dólares;>
5) O Chile arrecadou US$ 193 milhões em imposto verde em 201>
*O repórter Murilo Gitel viajou a São Paulo a convite do Instituto Clima e Sociedade.>