Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Laura Fernades
Publicado em 21 de novembro de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
A Vida Invisível é um filme que precisa ser visto por homens e mulheres. Não só porque o drama dirigido pelo cearense Karim Aïnouz (Praia do Futuro/ 2014) é o candidato brasileiro a uma vaga no Oscar, mas – principalmente – por fazer um retrato emocionante e doloroso da sociedade machista na qual vivemos.
Agora, aqui vai um aviso: é preciso estar preparado para ver A Vida Invisível (e que isso não afaste o leitor de uma ótima produção nacional). Isso porque é quase um soco no estômago perceber como a mulher era tratada em um passado não tão distante e como isso parece não ter mudado nos dias de hoje.
Todos são convidados a refletir sobre o presente, a partir da história ambientada nos anos 1950, no Rio de Janeiro, mas só quem é mulher consegue sentir na pele os dramas retratados no filme vencedor da mostra Um Certo Olhar, no Festival de Cannes, e um dos favoritos à indicação ao Oscar, segundo o site The Hollywood Reporter. Mas, afinal, o que há de tão tocante em A Vida Invisível? (Foto: Divulgação) Além da rápida e comovente participação da atriz Fernanda Montenegro, que deixa os olhos marejados de quem a vê em cena, é desconcertante observar a sexualidade da mulher sendo reprimida do início ao fim. Além disso, é impactante ver que ela não é dona de suas vontades pessoais e profissionais.
Em uma das cenas, por exemplo, a ousada e solteira Guida (Julia Stockler) conta suas peripécias sexuais à irmã Eurídice (Carol Duarte), que reage preocupada com a possibilidade da irmã transar antes do casamento. “Claro que não, né”, responde Guida, em uma reprodução automática do comportamento esperado nos anos 1950, sufocando nitidamente sua vontade de ser livre.
Patriarcal À medida em que a trama avança, fica fácil perceber a origem do pensamento de que a mulher é um sexo frágil que nasceu para procriar. Na sociedade retratada pelo filme, ela não precisa ter prazer no sexo (a relação é quase um estupro), não pode investir na carreira profissional (quem vai cuidar dos filhos?), não pode não querer ser mãe, muito menos se divertir sem compromisso (quem arriscaria ficar mal falada?).
Tocante é perceber que a realidade de uma época, com questões aparentemente já superadas, ainda é vista com frequência na sociedade atual. Seja de forma direta, com matriarcas sufocando seus desejos e sua infelicidade em casamentos longevos apenas pelo bem da família. Seja de forma indireta: qual mulher bem resolvida nunca enfrentou julgamentos por conta de escolhas que confrontam a moral e os bons costumes?
Guida, por exemplo, foi rejeitada pelo pai ao voltar para casa grávida e solteira. É assim que o drama baseado no romance homônimo de Martha Batalha levanta esses e outros questionamentos, a partir da história de duas irmãs que se amam, mas são separadas pelo machismo. Enquanto Guida questiona os padrões da época para ser dona de sua vida, a sonhadora Eurídice se vê presa na sociedade patriarcal.
Por isso A Vida Invisível é um filme necessário. Com cenas que podem soar arrastadas, mas que não comprometem em nada as duas horas e vinte minutos de duração, o filme desperta reflexões profundas sobre a mulher - e o homem - de hoje. Difícil o espectador assistir ao filme sem identificar histórias parecidas em sua própria família.
Cotação: ÓTIMO
[[galeria]]
A Vida Invisível - Horários de exibição UCI Orient Shopping da Bahia Sala 1: 13h10 (sábado), 15h50, 21h, 21h50 (sábado) UCI Orient Shopping Barra Sala 7: 14h, 18h50, 21h40 Cinemark Sala 9: 13h (sexta), 13h20 (exceto sexta), 15h55 (sexta), 16h15 (exceto sexta), 19h20, 22h15 Espaço Itaú Glauber Rocha Sala 1: 15h10, 17h50, 20h30 Saladearte Cinema da Ufba Sala 1: 15h10, 20h10 (exceto quinta, segunda e quarta)
Clique e confira todas os filmes em cartaz