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Carmen Vasconcelos
Publicado em 1 de março de 2021 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Os empreendedores brasileiros com 65 anos ou mais são os que mais empregam no país. É o que mostra o estudo realizado pelo Sebrae, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE. A análise identificou que a maior proporção de empregadores (20%) está localizada nesse perfil de empreendedor. Por um outro lado, pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) também identificaram que os empreendedores de sucesso estão na meia-idade e não na juventude.
Ainda de acordo com o estudo do Sebrae, quando comparados às outras faixas etárias, os donos de negócio que são empregadores nesta faixa etária são os que mais possuem funcionários, sendo 71%, com 1 a 5 empregados; 11%, com 6 a 10 empregados; 10% com 11 a 50 empregados e 8% com 51 ou mais empregados.
Apesar de responderem por apenas 7,3% do total de empresários no Brasil, os empreendedores da terceira idade constituem o grupo que, proporcionalmente, mais gera emprego entre os pequenos negócios.
Ajuda necessária Para a gerente adjunta da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia Isabel Ribeiro, o potencial empregador desse público possui uma relação com o fato deles possuirem dificuldade de atuarem sozinhos e de forma autônoma e independente. “Geralmente, esses empreendedores precisam de suporte de, pelo menos, mais um empregado”, completa, lembrando que esses empreendedores estão no comércio, nos serviços e na agropecuária. Isabel Ribeiro do Sebrae destaca a importância desses empresários para a economia brasileira pela capacidade de geração de empregos (Foto: Divulgação) Isabel Ribeiro destaca o papel relevante desses empreendedores para a economia nacional, especialmente, pela manutenção e sobrevivência de parcela importante da população que, em tese, deveria estar aposentada ou à caminho da aposentadoria.
A fundadora e CEO do Instituto Amadurecer Rosângela Correia pontua que existe tendência social a desvalorizar o envelhecimento e que isso precisa ser modificado. “As estatísticas que mostram uma inversão acelerada da pirâmide etária e alerta que, em 2050, teremos mais pessoas com 50 anos do que com 15". diz. Ela destaca ainda que, além dos processos de discriminação etária, o mundo atravessa uma grande crise econômica, social e de saúde, que requer mudanças de padrões e o único caminho para se reverter esse padrão cultural de negação ao envelhecimento, é através da conscientização .
Para reforçar essa quebra de paradigmas, Rosângela cita o gerontólogo Alexandre Kalache, quando esse afirma que nunca é tarde para nada. “Se não começou ainda a se preparar para viver essa revolução da longevidade que está acontecendo, comece agora, porque só poderemos mudar o futuro, se começarmos hoje”, defende. Rosângela Correia defende que nunca é tarde para começar um negócio e que o culto à juventude está dando lugar ao envelhecimento populacional (Foto: Divulgação) A representante do Instituto Amadurecer diz que foi justamente para vencer as dificuldades encontradas por esse público que foi criado na organização um banco de dados onde são conectadas pessoas, empresas e profissionais de diversos segmentos. “O espaço foi desenvolvido para que todos tenham a oportunidade de oferecer serviços e produtos em nossa plataforma, de forma colaborativa, e assim, se reposicionar e movimentar o mercado de trabalho, a economia”, diz.
Aposentadoria
Um dado preocupante revelado por esse levantamento do Sebrae é que, dentre estes, apenas 24% contribuem para a previdência, em uma idade em que a proteção social é de extrema importância. Isabel Ribeiro destaca ainda que, para os 76% que não contribuem, caso não contribuam para uma previdência pública ou privada, e dependam unicamente dos seus negócios, pode não haver a alternativa de parar de trabalhar para manter minimamente o seu sustento.
“É interessante observar e se conscientizar quanto à necessidade da contribuição para a previdência. Donos de negócios - por conta própria e empregadores - conforme definição do IBGE, dependem de estímulos do mercado para a retomada da economia, sendo o poder público o grande responsável por esse processo para propiciar a inserção e participação desses empreendedores no processo produtivo”, diz. Para ela, empreendedores da terceira idade podem fazer parte do processo da retomada da economia, não necessariamente ter um papel para liderar um processo.
Outra pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), também em parceria com Sebrae e o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), revelou que em 13 anos, o número de empresas geridas por pessoas com idade entre 50 e 59 anos cresceu cerca de 57%, sendo que as mulheres estão à frente de 51% dessas novas empresas. “Incentivar o Empreendedorismo feminino na maturidade é uma forma não só de trabalhar assertivamente o empoderamento feminino, mas também de corrigir uma injustiça social que perdura por longa temporada”, finaliza Rosângela Correia.