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Doris Miranda
Publicado em 14 de novembro de 2017 às 06:10
- Atualizado há um ano
Um dos maiores best-sellers do mundo, o escritor americano Dan Brown, 54 anos, já vendeu mais de 200 milhões de livros, traduzidos para 56 línguas. Em todos, está lá, muito presente, o embate entre a fé e a ciência, utilizado como mola mestra para o suspense histórico com o qual formatou sua escrita. Dessa vez, em Origem (Arqueiro | R$ 40 | 432 págs), seu oitavo livro, Brown vai adiante e diz que a humanidade não precisa mais de Deus para atravessar a existência no planeta. Pode, sim, em vez disso, desenvolver uma nova forma de consciência universal, que simule valores criados coletivamente, com a ajuda de inteligência artificial. Falando mais claramente, o questionamento que Dan Brown faz através da quinta aventura do professor de simbologia religiosa Robert Langdon é: Deus sobrevive aos avanços da ciência? “Será que somos ingênuos hoje por acreditar que o Deus do presente sobreviverá e estará aqui em cem anos?”, indaga o autor de O Código da Vinci, Anjos e Demônios e Inferno, todos adaptados para o cinema, tendo Tom Hanks como protagonista, no papel de Langdon. Dessa vez, a trama se passa na Espanha, país escolhido por Brown porque foi o primeiro local fora dos EUA que o autor visitou na vida. A história começa com a chegada de Langdon ao Museu Guggenheim de Bilbao para acompanhar o anúncio de um bilionário futurista recluso que promete “mudar a face da ciência para sempre”.De onde viemos - No meio da apresentação que destruirá o fundamento das religiões ocidentais, o homem é assassinado. E o misto de professor e detetive sai pela Espanha afora com um punhado de pistas para, não só descobrir quem matou o cara, como também revelar o tal segredo que derruba o poder divino. Lá pelas tantas (e isso não é spoiler se você é leitor de Dan Brown), Langdon percebe que o amigo descobriu o segredo da origem do homem e qual o seu destino – o bom e velho de onde viemos e para onde vamos que pipoca na cabeça de todo filósofo que se preze. Dan Brown reconhece que é um futuro bastante apocalítico o que traça, contudo, pede harmonia entre os religiosos e aqueles que se consideram ateus: “O cristianismo, o judaísmo e o islamismo compartilham um evangelho, literalmente, e é importante que todos nós o percebamos. Nossas religiões são muito mais parecidas do que diferentes”. Ainda assim, não se sentiu intimidado de alterar o conceito do divino na nova obra. “Vamos começar a encontrar nossas experiências espirituais através de nossas interconexões uns com os outros”, opina o autor, não recomendado pela Igreja Católica desde o lançamento de O Código da Vinci, em 2003. “Nossa necessidade de um deus exterior, nos julgando, vai diminuir e eventualmente desaparecer”, completa o escritor, apostando no surgimento de “alguma forma de consciência global que se tornará nosso divino”.Darwin - A inspiração para Origem está lá atrás, de certa forma, na teoria da origem das espécies, de Charles Darwin (1809-1882). Na verdade, numa reinterpretação nada convencional da obra do naturalista britânico: Dan Brown usou uma música religiosa composta por seu irmão, que, em vez de pedir ajuda a Deus, exaltava Darvin e o evolucionismo como salvação. Filho de um matemático, o autor, declaradamente agnóstico, não descarta a espiritualidade na trajetória humana. Mas, em sua opinião, os deuses de hoje em dia vão desaparecer: “Sempre falam de mim como um vilão ateu que odeia religião. Mas não é isso o que meus livros fazem. Meus livros estão olhando para a área cinza entre ciência e religião.” Sua forma, talvez, de resolver nele próprio questões ancestrais de fé, guardadas desde a infância, quando os padres evitavam suas perguntas incômodas.