Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Gabriel Rodrigues
Publicado em 24 de junho de 2020 às 06:30
- Atualizado há 2 anos
A pandemia do novo coronavírus alterou rotinas e afetou a vida de milhões de brasileiros. Para os empreendedores, os dias têm sido ainda mais difíceis. Com as restrições e os comércios fechados, médias e pequenas empresas estão se virando para pagar as contas e manter as atividades.>
Pegar uma das linhas de crédito disponibilizadas por uma das instituições públicas pode ser uma boa saída em tempos de crise, mas é preciso ficar atento e saber o que está disponível em cada região.>
Para facilitar a vida de quem precisa de dinheiro de forma rápida, o Fórum Regional Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno porte do Estado da Bahia (FRPMPE-BA), presidido pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), e pelo Fórum Nacional Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (FPMPE) mapeou 25 linhas de crédito que estão disponíveis em todo o Nordeste durante a pandemia.>
"Nós sabemos que neste momento de pandemia do coronavírus, a divulgação das várias linhas de crédito nos vários bancos e agências de desenvolvimento, com os comparativos de melhores taxas, prazos e carências, bem como vindo a informação de fonte confiável, é de extrema importância”, destaca Edivan Miranda, presidente do FPMPE.>
Na Bahia, duas linhas de crédito e capital de giro estão disponíveis. Enquanto a FUNGETUR é voltada para o segmento do turismo e tem a expectativa de beneficiar as empresas com faturamento fiscal de até R$ 4,8 milhões e que estão cadastradas no CADASTUR, os microempresários podem recorrer ao crédito do BNDES MPME.>
A modalidade é disponibilizada por meio da Agência de Fomento do Estado (Desenbahia) e tem como objetivo a manutenção e geração de empregos durante a pandemia. Por conta do surto do coronavírus, as taxas de juros foram reduzidas de 0,82% a.m para 0,67% a.m. Enquanto isso, o prazo para o pagamento foi esticado de 36 para 60 meses, com carência de um ano.>
“Para capital de giro, as condições oferecidas pela Desenbahia são diferenciadas para apoiar o setor produtivo. Nosso atendimento ao empresariado foi ampliado e temos focado na simplificação e redução de documentos para agilizar o acesso ao crédito”, explica o presidente da Desenbahia, Francisco Miranda.>
Dificuldade Apesar da disponibilização de linhas de crédito, muitos microempreendedores têm tido dificuldade para conseguir o dinheiro. De acordo com Raquel Santos (@souraquelsantos), diretora financeira da Associação de Jovens Empreendedores da Bahia (Aje Bahia), a burocracia cobrada na hora de conceder o crédito acaba afastando as microempresas.>
“Sempre houve uma dificuldade para empreendedores na hora de buscar dinheiro. As pequenas empresas não têm o hábito de pegar dinheiro em banco para investimentos. Eles pegam dinheiro apenas em momentos de incêndio e que precisam pagar dívidas. Isso gera um alto índice de inadimplência e uma maior burocracia por parte dos bancos”, explica Raquel antes de completar:>
“Nesse momento de pandemia algumas linhas de crédito têm sido disponibilizadas, mas é preciso que exista uma flexibilização na parte burocrática. Por não ter esse costume de pegar dinheiro, as empresas têm o perfil analisado, mas o banco não conhece o histórico, se a empresa está boa ou não. Aí é preciso mais documentos, aumenta a burocracia e acaba afastando os microempresários”, conta.>
Para a diretora financeira da Aje Bahia, além de superar as questões burocráticas, é preciso colocar na ponta do lápis o crédito que vai ser tomado e pegar apenas o que a empresa precisa. Ela lembra ainda que os empreendedores devem estar cientes de que o dinheiro disponibilizado no momento de dificuldade precisa ser pago.>
De acordo com dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE), apenas no primeiro mês da pandemia 762 empresas fecharam as portas na Bahia. De acordo com Raquel Santos, o surto do coronavírus escancarou um problema entre os microempreendedores: a falta de planejamento.>
“A pandemia trouxe uma lente de aumento para problemas que já existiam, mas que a gente jogava para debaixo do tapete. Muitas empresas quebraram porque não tinham uma boa saúde financeira. É preciso ter reserva de emergência para momentos complicados, mas muito empreendedor vende o almoço para pagar a janta. O problema é que agora não tem mais almoço”, explica.>
Além do crédito Raquel Santos conta que as empresas podem apostar em soluções criativas antes de recorrem aos bancos. Para ela, é preciso saber se adaptar ao novo cenário e saber o que o consumidor precisa neste momento.>
“Uma solução interessante, e que já está sendo colocada em prática por algumas empresas, é vender produtos e serviços antecipados com desconto para gerar caixa agora, e só depois esse produto ou serviço vai ser entregue ao consumidor. Essa pode ser uma alternativa. É preciso adequar os serviços aos clientes”, diz ela.>
Portal ajuda a cadastrar produtos e a divulgar delivery Recentemente a Secretaria de Desenvolvimento Econômico lançou o portal ‘Fique no Lar’, em parceria com a Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação (Secti) e o Instituto Federal do Ceará (IFCE). Na página, as empresas podem divulgar os serviços de forma gratuita.>
“Seguimos com a atração de Investimentos para o estado da Bahia, e, além deste mapeamento de linhas de crédito para MPEs, lançamos o portal Fique no Lar, com cadastros gratuitos de pequenas empresas para divulgar o serviço de delivery e retirada na loja durante a pandemia . Está um sucesso. Em 60 dias já temos mais de 2.880 cadastros em todo estado e em 255 cidades”, explica Rodrigo Newton, Diretor de Comércio e Serviços da SDE.>
As linhas de crédito também surgem como uma oportunidade de impulsionar o crescimento. E é dessa forma que o empresário e diretor da JR Gestão e Consultoria, Jeferson Gomes, 35, planeja utilizar os R$25 mil que tenta conseguir através da modalidade. >
A empresa dele presta serviços de terceirização financeira por BPO (Business Outsourcing), ou seja, gerencia ações como pagamento de folha, fluxo de caixa e contas a pagar. “ Fazemos a parte financeira operacional, e esse ano entramos num processo de expansão. Nesse momento de crise, outras empresas precisam de um setor financeiro redondo, com diminuição de custo, então era a hora certa para crescermos”, contou Jeferson, que presta serviços principalmente para escolas, óticas e clínicas médicas. >
Entretanto, o dinheiro da linha de crédito não foi liberado de primeira pela Caixa Econômica, então o empresário precisará comparecer a uma agência do banco para tentar conseguir o investimento. O dinheiro seria utilizado para a compra de dois novos computadores, com processadores mais rápidos e eficiente para atender os clientes, além de obter um upgrade no sistema de BPO que usam, para ampliar a rede de empresas para todo o país. >
“Diferente de algumas outras empresas no país que, nesse momento, procuram a linha de crédito para se manter e continuar funcionando, para pagar as despesas, nós estamos num processo de expansão. A linha de crédito é uma oportunidade de crescimento, mas se não conseguirmos vamos focar no crescimento orgânico, a partir do nosso faturamento”, finalizou o empresário. >
* Colaborou Vinícius Harfush, com supervisão da subeditora Clarissa Pacheco>