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Elas passaram pela transição capilar e nos falam sobre o caminho

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 16 de novembro de 2018 às 07:56

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Como é esse negócio  de certo tipo de cabelo ter ‘defeito’? O quanto machuca ter algo que lhe identifica chamado ‘ruim’? Que gosto tem crescer escrava de produtos químicos? Que poder é esse que envolve toda a vida quando uma mulher de cabelos crespos decide os assumir? Elas passaram pela transição e nos falam sobre o caminho até aqui.Eu me recordo de, na infância, meu cabelo ser um problema. Ele era adjetivado como “arapuãn” (até hoje não sei o que isso significa) e “cabelo ruim”, mesmo sem ter feito nenhum mal a ninguém. (...) Aos 15 anos, eu ganhei de minha tia e madrinha um relaxamento à base de hidróxido, e passei por esse processo periodicamente até meus 21 anos.(...) Além de outras coisas, estética é disputa com o racismo e com o machismo de nossos corpos, consciências e subjetividades. A partir de um primeiro corte, eu entrei nessa disputa e meu cabelo foi meu fio condutor. Quanto mais eu amava e cuidava dele, mais eu amava e cuidava bem do meu corpo de mulher, mais eu amava e cuidava da minha negritude. Naira Gomes, feminista negra e Marcha do Empoderamento Crespo (Foto: Acervo Pessoal) Tenho 35 anos e desde a minha fase pueril, passei a alisar os meus cabelos crespos, não porque gostava da estética, mas sim porque sofria menos com as chacotas. Porém, se gostar na frente do espelho não fazia parte do meu dia a dia, tanto que só andava com as madeixas presas. Ao longo do processo de transição foram três tentativas até que finalmente consegui. A gota d’água foi a chegada do meu filho, José Vicente,  que tem o mesmo fio de cabelo que o meu e precisava da minha  referência para ratificar a sua identidade. Foram três as tentativas até que, finalmente,  consegui me libertar. Isso aconteceu há um ano e me lembro da incrível sensação como se fosse hoje. Eu estava terminando de ler o livro de Ana Maria Gonçalves, Um Defeito de Cor, e o  meu filho brincando ao meu lado, quando dei um salto do sofá,  peguei a tesoura do desejo de cortar, mandei os fios alisados junto com a tristeza irem embora e renasci passarinho. Iris Pereira, eagorairoka.wordpress.com/o-blog/ (Foto: Acervo Pessoal) A minha transição capilar começou quando eu passei a me preocupar com os problemas que os produtos químicos que eu usava para alisar o cabelo poderiam causar a minha saúde. Esse alerta surgiu em 2015, quando eu tinha 30 anos e há aproximadamente 20, deformava a minha raiz para ter cabelos lisos. Decidi parar de alisar e optei por cortar aos poucos até chegar o momento de ter de volta a minha real identidade estética. Durante os dez meses que esse processo durou, eu ficava imaginando como seria o meu cabelo de verdade, porque a imagem que eu tinha de mim mesma era distorcida. (...) A partir da transição capilar, pude entender os motivos pelos quais eu negava a minha negritude e passei a perceber (e curar) as feridas que essa sociedade machista e racista causa na vida de uma mulher negra. Luana Assiz, jornalista, compositora e youtuber - Canal Vrá (Foto: Acervo Pessoal) Comecei a alisar o cabelo aos 15 anos, eu e minha mãe não pensamos em outra solução naquela época, pois, entre a pré-adolescência e a fase adolescente, eu era a garota que vivia com o cabelo encharcado de creme para combater o famoso “frizz” e o volume. Além da quantidade absurda de creme, o meu cabelo passava boa parte do tempo, preso, abafado, sem vida. A ideia do alisamento era só para soltar os cachos e aí me vi viciada! Amei ver os meus cachos “soltos”, “mais leves”, sem tanta necessidade de creme, pois a raiz estava lisinha. Mas passados seis meses, ele voltava com força, o temido “frizz” e a raiz ficava natural de novo e mais uma vez, eu corria pro salão. E assim vivi até os 27 anos. Nessa caminhada do alisamento, tantos choros, alguns cortes químicos, horas em salões e em casas de pessoas que se colocavam para alisar sem cobrar, nas épocas de pouca grana. Até que decidi, em 2010, ficar seis meses sem alisar, foi difícil, me sentia feia, não tinha vontade de sair, pois a raiz estava natural e o resto do cabelo uma palha. Passados os seis meses de resistência ao alisamento, fui em um salão no bairro do Imbuí, observei a única cabeleireira negra e de cabelo black (Ana, o nome dela) e disse “corte tudo!”. Quando me vi no espelho logo após o corte, senti um alívio imenso, coloquei as mãos no estômago e me senti aliviada, livre e muito mais feliz! Juliana Salmeiro, advogada e assessora parlamentar (Foto: Acervo Pessoal) Aprendi muito cedo que o meu cabelo era inadequado. Na minha infância, todas as minhas referências femininas próximas  usavam o cabelo alisado. Chorava muito quando minha mãe esticava meu cabelo pra escondê-lo em coques ou tranças.  Quando entrei para o mundo do trabalho, estar com o cabelo sempre “arrumado” era um requisito. Descobri a escova progressiva e, durante dez anos, trimestralmente eu passava pelo processo de tortura que é esse alisamento. Tentei muitas vezes parar de alisar, mas nunca conseguia, porque tinha vergonha, porque atendia a pedidos de namorados e porque a noção que eu tinha de cabelo bonito era mesmo equivocada. Até que descobri o feminismo e minha noção de posse sobre o meu corpo e minhas escolhas mudaram. O processo de transição é muito difícil e a pessoa precisa estar muito bem resolvida pra passar por ele. Quando decidi fazer isso, li muito a respeito e me preparei psicologicamente. A pior parte é quando o cabelo fica com as duas texturas, meio esquizofrênico. Quando decidi cortar toda a parte alisada, chorei muito, tipo Carolina Dieckman em Laços de Família. Durante um bom tempo me achei horrorosa de cabelo curto. Até que um dia me olhei no espelho e me reconheci claramente. Eu sou negra e herdei esse cabelo dos meus antepassados. Esse cabelo é meu, essa sou eu. Eu tenho orgulho do cabelo que veio a esse mundo comigo. A transição capilar é, antes de tudo, um processo de autoconhecimento e reconhecimento de identidade. Quem passa por esse processo intenso sabe que não tem nada de modismo, é uma transformação muito profunda. Hoje, não consigo me ver sem os meus cachos. Meu cabelo é minha coroa! Lari Alves, cantora e relações-públicas (Foto: Acervo Pessoal) Carão da semana Houve um tempo em que eu também alisava. Mas era ‘só pra tirar o frizz’ ou ‘só pra soltar os cachos’. Resultado era um cabelo morto e de ponta espetada, essa derrota aí...   (Foto: Acervo Pessoal)