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Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2023 às 05:15
- Atualizado há 2 anos
Entre todos os estados do país, a Bahia é a campeã em número de jovens entre 18 e 24 anos que estão fora de faculdades e universidades. De mais de 1,6 milhão de pessoas nessa faixa etária, 85% está excluída do ensino superior. É o que aponta o módulo de Educação da Pnad Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na quarta-feira (7). A taxa de jovens fora da universidade no estado é superior à média nacional, que é de 75%>
Para entender o abismo educacional que historicamente atinge a Bahia e dificulta o acesso de 1,368 milhão de jovens ao ensino superior, é preciso olhar para dentro das escolas. Mais da metade dos baianos, 54%, não concluíram nem o ensino básico (fundamental e médio), o que mostra a força do abandono escolar no estado. >
São vários os motivos para que os alunos desistam dos estudos: dificuldades econômicas, necessidade de trabalhar e falta de interesse. O resultado é que o estado tem apenas 11,9% da população com ensino superior completo - o segundo menor índice do país. A Bahia só ganha do Maranhão, onde a taxa é de 11,4%>
A disseminadora de informações do IBGE, Mariana Viveiros, ressalta que há uma diferença entre os gêneros quanto aos fatores que justificam a saída precoce da escola. “Para os homens, procurar trabalho é o principal motivo para o abandono escolar. As mulheres têm um perfil diferente, em que há necessidade de realizar afazeres domésticos”, pontua. Entre as jovens entre 18 e 24 anos, 16,5% estão na universidade, frente a 13,2% dos homens. Os dados da pesquisa são relativos ao ano passado. >
Em um estado em que as oportunidades de estudo são desiguais entre a população, não basta apenas a vontade. O sonho de Miralda Jordão, 23, já foi ser médica veterinária, mas os entraves econômicos e regionais são desafiadores ao ponto do desejo se tornar cada vez mais distante. A faculdade particular mais próxima de Capela do Alto Alegre, cidade onde vive, está a 60km de distância, no município de Riachão do Jacuípe. A opção gratuita, está mais longe ainda: 77km separam o campus da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), em Conceição do Coité, da casa de Miralda. >
“É muito difícil porque ou você tem uma nota muito boa no Enem para entrar numa universidade pública ou dinheiro para pagar uma faculdade particular. Mesmo quando a nota do Enem é boa, tem os custos de morar em uma outra cidade que são muito altos”, lamenta a jovem. Aos 23 anos e sem perspectivas de continuar com os estudos, a saída encontrada pela jovem foi buscar empregos em que não há exigência de ensino superior. Hoje, ela trabalha em uma padaria próximo de casa. >
A Secretaria de Educação da Bahia (SEC) foi procurada para comentar os dados da pesquisa, mas não enviou resposta até a finalização desta reportagem.>
Nem-nem Entre as pessoas de 15 a 29 anos na Bahia, 25% não estudavam nem trabalhavam em 2022. Em números absolutos, são 886 mil pessoas. O índice é maior entre pretos e pardos (26%), do que entre aqueles que se consideram brancos (21%). O reflexo de tantos jovens fora das salas de aula é a dificuldade na inserção no mercado de trabalho, que exige cada vez mais a escolarização dos funcionários. >
Há, assim, a perpetuação de um ciclo de desigualdades sociais, que colocam a Bahia como um dos estados com mais pessoas abaixo da linha da pobreza do Brasil. No estado, mais da metade da população sobrevive com menos de R$665,02 por mês. >
Os obstáculos que aparecem para quem deseja manter no caminho dos estudos não são iguais para todas as pessoas. A pesquisa do IBGE indica que entre os jovens que se declaram pretos ou pardos, apenas 13,7% estão nas universidades e faculdades baianas. Já entre os brancos, a taxa cresce para 21,8%. >
“Quem tem um diploma de ensino superior agrega mais possibilidade de opções de trabalho e de maior remuneração. O Estado acumula desigualdades quando não garante as condições de acesso à universidade e sacramenta a impossibilidade de acesso ao ensino superior quando não garante a conclusão do ensino básico”, analisa Ana Karina Brenner, professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). >
Para a professora Ana Karina Brenner, um dos entraves para o acesso às universidades, além da evasão escolar, é a pouca oferta de vagas nas universidades estaduais e federais. “Não podemos aceitar que se dispute os recursos de educação no país. Há uma demanda enorme por crescimento da oferta de vagas no ensino superior público”, pontua.>
*Com a orientação de Fernanda Varela.>