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Hilza Cordeiro
Publicado em 18 de junho de 2020 às 20:30
- Atualizado há 2 anos
Um drama familiar se repetiu num hospital baiano nesta quinta-feira (18). Parentes de uma idosa descobriram que o corpo da familiar, que estava internada com câncer no Hospital da Mulher, em Salvador, havia sido trocado e enterrado em outra cidade. A mesma situação aconteceu há quase 15 dias no Hospital Espanhol, referência para a covid-19.>
Há pelo menos três semanas internada na unidade, dona Railda Conceição Souza estava fazendo tratamento contra um câncer no útero e no reto, mas não resistiu e faleceu na terça-feira (16). Na organização para resolver o enterro, um parente descobriu que o corpo dela havia sido trocado e levado por outra família, sendo enterrado provavelmente na cidade de São Sebastião do Passé, na Região Metropolitana de Salvador. Railda Conceição (Foto: Reprodução/Acervo pessoal) Os familiares de Railda não sabem exatamente o que pode ter acontecido. Filha da idosa, Ângela Conceição contou ao CORREIO que o irmão chegou a registrar queixa na delegacia da própria unidade de saúde e a situação ainda não tinha sido resolvida na noite desta quinta. “Uns dizem que foi erro do hospital, outros dizem que foi erro dos outros familiares, a gente não sabe, eu não entendo. Eles disseram que o corpo estava num saco e que pegaram e levaram, embalado, só que minha mãe não morreu de covid-19. Eu vi o caso da outra família na TV, acompanhei e a gente nunca imagina que vai acontecer com a gente, estou com uma dor de cabeça terrível”, desabafou a filha.Em nota, o Hospital da Mulher lamentou o ocorrido e informou que abriu uma investigação interna para apurar detalhadamente o que aconteceu e identificar a responsabilidade dos profissionais envolvidos no processo.>
Segundo a instituição, a unidade tem um protocolo de liberação de óbito, onde o procedimento consiste na dupla conferência da identificação do paciente falecido, tanto no corpo da vítima quanto na parte externa do saco que o guarda.>
Ainda conforme a nota do hospital, as etiquetas de identificação são conferidas pelo serviço de segurança e, também, por familiar do paciente que participa do processo de reconhecimento do corpo.>
Como na ocasião não se tratava de paciente com suspeita ou confirmação de covid-19, a primeira família teve total acesso ao reconhecimento do corpo junto a equipe do hospital, liberando-o para a retirada através da funerária, “etapa final em que houve a troca do corpo”, afirmou a unidade. >
“O Hospital reconhece a gravidade do caso e compromete-se a tomar todas as medidas cabíveis e necessárias para identificação dos responsáveis e regularização da situação junto às famílias”, completou.>
Relembre o outro caso (Foto: Reprodução/Acervos pessoais) Duas mulheres morreram vítimas da covid-19 no início do mês de junho no Hospital Espanhol: a doméstica Arlete Santos Reis, de 44 anos, e Rosângela de Jesus Santos, 47. Uma troca entre os corpos delas trouxe um drama à família das duas. Na noite de 4 de junho, o advogado da família da doméstica, Humberto Pinto Neto, confirmou ao CORREIO que a perícia do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que o corpo que havia sido enterrado pela família de Rosângela era o de Arlete.>
No dia 2 de junho, a família de Arlete percebeu que houve uma troca de corpos, quando o irmão dela, o eletricista Jairo Reis, foi ao hospital liberar o corpo para sepultamento. Ele descobriu que o corpo da irmã tinha sido trocado e já sepultado em outro local pela família de Rosângela.>
O corpo enterrado pelos familiares de Rosângela foi exumado às 16h no Cemitério de Portão, e Lauro de Freitas. O procedimento foi acompanhado por um oficial de Justiçae pelo advogado da família. Pela manhã, cerca de 20 familiares de Arlete chegaram à frente do Hospital Espanhol, por volta das 10h. No inicio da tarde, eles foram ao IML, onde vão aguardar a chegada do corpo exumado para perícia.>
A família diz não ter certeza sequer se Arlete de fato está morta ou se continua internada na unidade. Segundo o Hospital, o corpo de Rosângela, a mulher que deveria ter sido sepultada pela outra família, continua na unidade e só poderá ser liberado após o reconhecimento do corpo de Arlete.>
No dia 4 de maio, o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) informou que o diretor, Mário Câmara, recebeu às 10h52 a decisão judicial autorizando, com urgência, a exumação do corpo sepultado no Cemitério de Portão, em Lauro de Freitas. A ordem judicial foi emitida pelo juiz Gilberto Bahia de Oliveira, que considerou a situação "de muita gravidade". >