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Daniel Aloísio
Publicado em 6 de junho de 2020 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
As ruas da capital baiana viram uma sexta-feira (5) chuvosa. Na Catedral Basílica de Salvador, pelo menos, essa chuva era de "graças e bênçãos" com a posse do 28º Arcebispo de Salvador, Dom Sergio da Rocha, 60 anos, o novo Primaz do Brasil. O evento histórico ganhou mais significado, já que a pandemia do novo coronavírus impediu a presença dos fiéis, mas não retirou a fé e devoção da celebração. >
As imagens de anjos e santos espalhados pelos quatro cantos da oponente igreja pareciam estar atentas à celebração. No entanto, as figuras não conseguiam substituir a calorosa presença dos fiéis, que tiveram que se contentar com a transmissão ao vivo nas redes sociais, rádio e até emissora de televisão.>
Contrariando a orientação da própria Arquidiocese, dois católicos não resistiram à "tentação" de receber Dom Sergio na porta da igreja. Rosalina Mendes, 62 anos, e Darlan Oliveira, 33 anos, aproveitaram que a intensidade da chuva diminuiu no meio da noite e ficaram atrás da grade colocada na única porta aberta da Igreja. “Mas eu estaria aqui mesmo que fosse debaixo de chuva forte. Se não fosse presencialmente, seria por rádio e a experiência não é a mesma”, disse Rosalina. >
Em transporte público, Darlan saiu da Mata Escura para ir até o Largo Terreiro de Jesus, no Pelourinho, na esperança de participar da Missa. “Fiquei triste, pois não pude entrar e comungar. Mas valeu a pena. Foi Jesus e Nossa Senhora que mandou eu vir”, disse. A maioria dos fiéis obedeceu à recomendação da igreja e ficou em casa.>
“Eu estive na posse de Dom Murilo em 2011, que também aconteceu na Catedral Basílica. Lembro que a Igreja estava lotada, tinha um calor humano muito forte. Dessa vez, tive que ficar em casa e assisti pelo celular, mas não deixei de viver esse momento. O Arcebispo é um modelo, uma referência para o povo de Deus”, disse o pedagogo Marivalter Barbosa, 44 anos. Catedral Basílica de Salvador ficou vazia, mas a cerimônia foi acompanhada no rádio, na TV e nas redes sociais (Foto: Nara Gentil) Do lado de fora da igreja, policiais militares faziam a guarda do espaço para evitar algum tumulto. Dentro, representes da corporação, bem como do Exército e Marinha marcavam presença. O prefeito de Salvador, ACM Neto, e o vice-prefeito, Bruno Reis, também estavam. "Estou aqui como prefeito, mas também como católico praticante, que ama a minha religião”, disse Neto.>
O número de presentes foi limitado a 50 pessoas, entre autoridades, padres, jornalistas e leigos convidados. Essa quantidade é a permitida pela prefeitura, nesse período, em eventos do tipo. Todos os presentes estavam distanciados na imensa nave da igreja - local onde os fiéis participam da celebração. Para não ter aglomeração no altar, teve padre que, todo paramentado, se sentou no banco dos fiéis, algo incomum na tradição católica. >
No momento da comunhão, uma pessoa passava álcool em gel nas mãos dos fiéis que se puseram numa fila organizada. A eucaristia, que para os católicos representam o próprio corpo de Cristo, foi entregue na mão das pessoas pelo próprio Dom Murilo, em um sinal de despedida. "Estou aqui como prefeito e também como católico praticante", disse ACM Neto (Foto: Nara Gentil) CerimôniaA cerimônia começou com 15 minutos de atraso. Dois a dois – e distanciados -, os 18 padres, diáconos e bispos entraram junto com cinco coroinhas ao som da Marcha da Igreja, uma canção executada em eventos que têm a presença de um Bispo católico. Antes do início da Missa, Dom Murilo Krieger fez o seu último discurso a frente da arquiodecese. “O povo dessa terra é paciente e, aqui, tudo acontece na hora certa. Fique tranquilo”, aconselhou ao novo arcebispo.>
Logo depois, Dom Sérgio recebeu, das mãos do bispo auxiliar Dom Marco Eugênio, a bula papal que o nomeia como arcebispo. Ela foi escrita pelo próprio Papa Francisco e lida para o público. Posteriormente, o báculo – cajado carregado pelo arcebispo, que representa o sinal do pastoreio religioso – foi passado de Dom Murilo para Dom Sérgio, que só assim pôde, enfim, sentar na cadeira destinada ao arcebispo metropolitano de São Salvador e iniciar a Missa. >
Em sua homilia, Dom Sergio afirmou que a igreja de salvador deve testemunhar o amor de Deus em gestos concretos de serviço e solidariedade. "Somos chamados a amar com generosidade, no serviço aos doentes e aos que mais sofrem", disse. Isso remete ao seu lema episcopal: "em tudo a caridade", o que indica o seu olhar social e discurso similar ao do Papa Francisco. >
Foi o próprio papa que tornou Dom Sergio cardeal, quando ele ainda vivia em Brasília. A decisão de Francisco foi vista como uma "quebra de paradigmas", já que é incomum a concessão do título de cardeal a um bispo dessa cidade. O de Salvador, por exemplo, que sempre recebia tal título, não obteve. Dom Murilo deixa a capital baiana sem ser cardeal, mas elogiado pela Santa Sé. >
"Ele fez uma competente dedicação pastoral ao povo dessa cidade, em particular aos mais necessitados", escreveu o núncio apostólico Giovanni d'Aniello, representante do Vaticano no Brasil. “O papa tem certeza que, em Salvador, Dom Sergio conseguirá dar um testemunho de amor a Deus, como já tinha feito antes”, completou.>
No final da Missa, o novo e antigo arcebispo da capital baiana se juntaram ao prefeito para assinar o termo de posse que estabeleceu Dom Sérgio como o 28º arcebispo da cidade. "A prefeitura está disposta a continuar em parceria com a Igreja, unindo forças para ajudar, sobretudo, às pessoas mais pobres", disse Neto. >
Não existe um prazo médio para Dom Sergio ficar no cargo. Dom Murilo, por exemplo, ficou durante nove anos. Em 2018, aos 75 anos, como manda a tradição católica, o antigo arcebispo pediu licença das suas funções ao Papa Francisco, o que só foi aceito agora em 2020. >
A diocese de Salvador foi fundada em 1551 e elevada a arquidiocese em 1676. É a mais antiga do Brasil e, por isso, o arcebispo daqui tem o título de Primaz do Brasil. É aquele que tem a missão de manter as tradições católicas no país. >
Confira a lista completa de todos os arcebispos de Salvador:1º Dom Gaspar Barata de Mendonça (1676-1682)2º Dom João da Madre de Deus Araújo (1682-1686)3º Dom Frei Manuel da Ressurreição (1686-1691)4º Dom João Franco de Oliveira (1691-1700)5º Dom Sebastião Monteiro da Vida (1701-1722)6º Dom Luís Álvares de Figueiredo (1725-1735)7º Dom José Fialho (1738-1739)8º Dom José Botelho de Matos (1741-1760)9º Dom Frei Manuel de Santa Inês (1762-1771*)10º Dom Joaquim Borges de Figueiroa (1772-1778)11º Dom Frei Antônio de São José (1778)12º Dom Frei Antônio Correia (1779-1802)13º Dom Frei José de Santa Escolástica (1803-1814)14º Dom Frei Francisco de São Dâmaso Abreu Vieira (1814-1816)15º Dom Frei Vicente da Soledade e Castro (1819-1823)16º Dom Romualdo Antônio de Seixas (1827-1860)17º Dom Manuel Joaquim da Silveira (1861-1874)18º Dom Joaquim Gonçalves de Azevedo (1876-1879)19º Dom Luís Antônio dos Santos (1879-1890)20º Dom Antônio de Macedo Costa (1890)21º Dom Jeronymo Thomé da Silva (1893-1924)22º Dom Augusto Álvaro Cardeal da Silva (1924-1698)23º Dom Eugênio Cardeal de Araújo Sales (1968-1971)24º Dom Avelar Cardeal Brandão Vilela (1971-1986)25º Dom Frei Lucas Cardeal Moreira Neves (1987-1998)26º Dom Geraldo Majella Cardeal Agnelo (1999-2011)27º Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger (2011-2020)28º Dom Sergio Cardeal da Rocha (2020-)*Confirmado pela Santa Sé em 1771>
* Com orientação da editora Ana Crisitna Pereira>