Dois de Julho coloca 162 baianos na final da Olimpíada Nacional em História

Evento da Unicamp está na 13ª edição e Bahia foi o quarto estado com mais finalistas

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  • Gil Santos

Publicado em 30 de junho de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paula Menezes/Secom-CAV

Quando as tropas comandadas pelo general Labatut venceram a batalha de Pirajá e entraram vitoriosas em Salvador, em 1823, talvez não imaginassem que 198 anos depois esses eventos ajudariam 162 baianos a chegarem à final de uma Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB). A próxima, e última etapa, da disputa será realizada em agosto, e os meninos e meninas contaram que estão ansiosos.

A Olimpíada está na 13ª edição e por conta do bicentenário da Independência do Brasil, que será comemorado em 2022, resolveu trabalhar essa temática em algumas das tarefas aplicadas aos candidatos. A disputa teve seis etapas, sendo que a última, considerada uma semifinal pelos estudantes, pediu que eles trabalhassem a independência no contexto de suas cidades e estados. Um prato cheio para os baianos.

A equipe de Matheus Cunha, 17 anos, escolheu abordar o Dois de Julho sob a perspectiva dos grupos populares e destacou a figura da heroína Maria Quitéria. Os estudantes montaram uma exposição virtual e ficaram entre os 54 grupos finalistas que vão representar o estado na última fase da Olimpíada.

“Embora eu soubesse o quanto era importante a participação popular no Dois de Julho, pesquisando descobri que no centenário houve um incômodo com isso e que trocaram a imagem do Caboclo pela do Senhor do Bonfim, na tentativa de tirar o caráter social que o caboclo representa e para tentar fazer uma coisa mais formal, como é no Sete de Setembro”, disse.

Matheus está no 3º ano do ensino médio, no Colégio Antônio Vieira, e participa da competição desde 2018. Essa foi a primeira vez que chegou à final. A ONHB é promovida pelo Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/SP), com a participação de docentes, mestrandos e doutorandos de diversas universidades.

Neste ano, 27,9 mil estudantes se inscreveram para participar da Olimpíada. No total, 415 grupos de 99 cidades brasileiras estão disputando 20 medalhas de ouro, 30 de prata e 40 de bronze. Cada equipe tem sempre três integrantes e a final será no dia 16 de agosto, quando eles terão que responder a uma questão dissertativa, em até 2h. O resultado será divulgado em 12 de setembro.

O Colégio Antônio Vieira tem seis equipes na final, com 18 estudantes. O professor de História e orientador da ONHB da escola, Thiago Palma, contou que nos anos anteriores a final era presencialmente, na Unicamp, mas que esse ano será virtual. Em 2018, o colégio ficou entre os finalistas e, em 2020, conseguiu uma medalha de bronze.“Para o estudante existe a ideia de competição, porque ele quer ganhar a medalha, mas o principal objetivo da olimpíada é ajudar no processo de formação desses alunos. Ela não fica restrita a história, consegue se apoiar em outras áreas como literatura, geografia, arte, entre outras, oferecendo uma formação mais ampla”, disse.Desafio multidisciplinar A história conta que sem as vitórias nas batalhas de Pirajá e de Itaparica dificilmente os baianos teriam vencido a guerra, e que essas foram etapas importantes para a conquista da independência. As 54 equipes da Bahia que disputam a olimpíada tiveram que fazer tarefas como análises iconográficas, tradução e organização de documentos históricos, produção de texto, entre outros desafios, até alcançar a final.

Maria Eduarda Martins, 17 anos, estuda no Instituto Federal da Bahia (IFBA), em Salvador, está no 2º ano do ensino médio e vivendo essa experiência pela segunda vez.

“No ano passado minha equipe não conseguiu chegar até a final, mas dessa vez chegamos. Participar da olimpíada é uma experiência única e que todos os estudantes deveriam passar, porque a gente troca conhecimentos e aprende conteúdos que, muitas vezes, a gente nem conseguiria ver em sala de aula. Eu estou adorando”, disse

Ela acredita que o tema da questão final estará relacionado ao processo de independência do Brasil, mas preferiu não pensar muito no assunto para não ficar nervosa. A professora de História Vera Nathália, que orienta parte das equipes do IFBA, contou que em 2020 um dos grupos levou medalha de ouro e que esse ano seis equipes chegaram à final, com 18 estudantes.“Tem cinco anos que participo orientando os estudantes. A olimpíada promovida pelo Departamento de História da Unicamp é importante porque aproxima o estudante do fazer do historiador, através da leitura de documentos e da interpretação de imagens. Além disso, inspira professores a pensar tarefas e novas atividades para a sala de aula”, contou.Os campi do IFBA de Eunápolis, Porto Seguro e Jequié também tiveram equipes finalistas. Duas escolas da rede estadual conseguiram se classificar: os Colégios Estaduais Governador Roberto Santos, em Salvador, e Dr. José Carlos Bezerra Carvalho, em Paripiranga, essa última já tinha disputado a final no ano passado. Na rede privada, além do Colégio Antônio Vieira, outras 12 escolas chegaram à final (veja abaixo).

Nos dias 1, 2 e 3 de julho, o CORREIO terá conteúdos especiais sobre o Dois de Julho no portal correio24horas, redes sociais e jornal impresso. No dia 2, das 8h às 10h, teremos um programa ao vivo no Instagram @correio24horas apresentado por Clarissa Pacheco e Jorge Gauthier sobre a data cívica mais importante da Bahia com participação de convidados especiais.

‘Não é só uma prova’, afirma coordenadora

A coordenadora da Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB), Cristina Meneguello, contou que a prova existe desde 2009 e que está longe de ser uma mera disputa por medalhas. As tarefas, questões e exercícios são elaborados de forma a fazer os estudantes relacionarem conteúdos e saberes de diferentes áreas.

“Não é apenas uma prova, ela tem também tarefas e outras atividades que são próprias da sala de aula. Os temas de história do Brasil em vários momentos têm interdisciplinaridade. Temos questões que trabalham temas próximos da geografia, história da arte, economia, literatura, entre outros. E esses não são saberes separados, e quando o aluno consegue relacioná-los isso é muito benéfico porque o prepara para provas como vestibular”, contou.

O estado com o maior número de equipes é Pernambuco, com 82 grupos finalistas, sendo seguido por Rio Grande do Norte (58), Ceará (56) e Bahia (54). Sobre o bicentenário da Independência, ela disse que a proposta foi aguçar a visão crítica dos estudantes.“Eles perceberam que a independência é um processo, e não apenas um fato ou uma data isolada; que o 7 de setembro não é a data mais relevante; que houve movimentos anteriores; que cada região atravessou esse processo em datas e de formas diferentes, e que isso não foi pacífico, nem rápido ou distante como muitas vezes foi ensinado; e conseguem relacionar esses fatos com problemas atuais. Isso faz um cidadão melhor”, disse.A professora contou que a produção dos estudantes foi rica e que a organização está discutindo a possibilidade de transformar o material em um acervo digital para visitação pública.

Confira as escolas finalistas na Bahia:

Privadas:

Colégio Antônio Vieira; Colégio Anchieta; Colégio Bernoulli; Colégio Galileu; Colégio Nobre, em Feira de Santana; Colégio Oficina; Colégio Santo Agostinho; Colégio São Paulo; Colégio SS Sacramento; Centro Educacional Aurélio Santos; Centro Educacional Villa Lobos; Liceu Salesiano do Salvador; Sartre Escola SEB;

Públicas:

Instituto Federal da Bahia – Campus Salvador Instituto Federal da Bahia – Campus Eunápolis; Instituto Federal da Bahia – Campus Jequié; Instituto Federal da Bahia – Campus Porto Seguro; Colégio Estadual Governador Roberto Santo, em Salvador; Colégio Estadual Dr. José Carlos Bezerra Carvalho, em Paripiranga;