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Marcela Vilar
Publicado em 1 de setembro de 2020 às 07:44
- Atualizado há 2 anos
A terra tremeu de novo na Bahia na madrugada de segunda-feira (31), mais precisamente às 3h42 da manhã. Desta vez, o epicentro foi em Amargosa e teve magnitude de 3,5 na escala Richter, mesmo valor do primeiro registro de tremor de terra que se tem na cidade baiana, ocorrido em 1899. O terremoto foi sentido em pelo menos dez cidades do sudoeste do estado: Brejões, Elísio Medrado, Castro Alves, Varzedo, São Miguel das Matas, Santo Antônio de Jesus, Valença, Cachoeira, Lage e Valença.>
O geofísico Eduardo Menezes, que integra o Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica que os tremores não são novos no Recôncavo Baiano, pois a região se encontra em uma falha geológica. São ao todo 42 falhas na placa tectônica Sul-Americana, onde o Brasil está localizado. Por conta de uma reativação dessas falhas, os tremores ocorrem de forma mais intensa. >
“Há relatos e documentos de tremores de terra no Recôncavo com frequência no século passado. Só que instrumentalmente [pelo sismógrafo, aparelho que detecta terremotos] é o primeiro registrado. Isso é provocado por falhas geológicas que entram em atividade. Em alguma regiões, os esforços de separação entre os continentes - o Brasil e a África se distanciam por uma média de dois a três centímetros por ano - provocam tensões que são sentidas pela região do Recôncavo. Essas pressões desses esforços geram esses tremores”, esclarece o pesquisador.>
De fato, há provas documentais em edições de jornais do final do século XIX e início do século XX de tremores na Bahia, principalmente em Amargosa. Os registros se estendem de 1899 até 1920. Menezes ainda afirma que cada abalo sísmico maior tende a gerar outros tremores de menor magnitude, por isso, ainda é possível que novos terremotos ocorram nos próximos dias.>
“É uma coisa que não se tem como prever, mas o que se sabe, baseado em experiências de outras regiões, é que quando você tem um terremoto nessa ordem de grandeza você tem uma série de tremores de menor intensidade. A gente trabalha na hipótese de que vai continuar tremendo. Estatisticamente existe essa possibilidade em 90%”, analisa o geofísico. >
A rede sismográfica brasileira tem 22 estações no Nordeste, sendo três delas na Bahia: uma em Itapé, Baixa Grande e Ponto Novo. Por conta dos sismos dessa última semana, a Laboratório da UFRN pretende instalar mais 8 a 9 estações na região de Amargosa. O motivo é que nem todas as estações conseguem enviar os dados à Universidade pela internet e o raio de captação de cada uma delas é de até 200 km para tremores a partir de 1,8 de magnitude na escala Richter. Menos que isso, não é possível ser registrado pelo aparelho. A partir dos 5 pontos na escala, qualquer sismógrafo do mundo consegue detectar o tremor.>
A pesquisadora Simone Cruz, presidente da Sociedade Brasileira de Geologia, disse que ainda é cedo para tirar qualquer conclusão quanto a origem dos sismos. Segundo ela, a comissão do Instituto de Geociências da Ufba já está reunida para investigar os motivos dos terremotos. As hipóteses serão levantadas a partir do cruzamento de dados de informações geológicos e sismográficas.>
O diretor-superintendente Paulo Sérgio Menezes, da Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec), informou que, aliado à Amargosa, as cidades mais afetadas na Bahia pelos tremores deste final de semana foram Mutuípe e São Miguel das Matas. Este último decretou estado de emergência por tremor de terra, com 50 casas rachadas, três delas completamente desabadas. “Pedimos à estas cidades que fizessem um relatório dos prejuízos que tiveram para a gente poder ajudar e realocar essas famílias que tiveram as estruturas das casas comprometida”, disse o superintendente. >
Existem duas escalas hoje que medem a magnitude e intensidade dos terremotos no mundo. A escala Richter, mais conhecida, se baseia em registros sismográficos para medir a quantidade de energia liberada pelo terremoto. Sua escala vai de 1 a 9. Já a Escala Mercalli varia de I a XII e é uma escala de intensidade que mede os danos produzidos nas estruturas e percebido pelas pessoas nas imediações do abalo. Quanto mais próximo do epicentro, maiores os estragos, se houverem construções. Entenda as escalas no final da matéria. >
População acordou assustada “Esse novo tremor foi registrado pelo Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e também pela população. Muitas pessoas da cidade relataram acordar assustadas. Desde ontem [domingo] nossa equipe da Guarda Municipal tem estado em campo. Houve avarias nas casas como rachaduras em paredes e nos telhados, mas nenhum caso grave ”, afirma o prefeito de Amargosa Julio Pinheiro. >
Pinheiro afirma que os estragos - que não passaram de fissuras, rachaduras e telhas deslocadas - atingiram pelo menos oito casas e uma igreja da zona rural do município, entre as comunidades de Alto Seco e Corta Mão. Elas ficam próximas à Mutuípe, epicentro do primeiro tremor do domingo, que teve magnitude de 4,6 e foi sentido em 43 cidades baianas. Esse sismo fez com Amargosa fosse a cidade mais afetada nesses últimos dois dias: pelo menos 11 terremotos foram registrados, que variaram de 1,6 a 4,2 na escala Richter (veja a lista completa dos terremotos no final da matéria).>
“Eu estava dormindo, quando foi 1h e pouca da manhã tremeu um pouco, mas foi bem fraco. Às 3h20, a cama tremeu e balançou e acordou todo mundo da casa. Mais tarde deu um mais forte ainda, que balançou tudo aí todo mundo se levantou e foi pra rua. É assustador, é uma sensação de impotência saber que está acontecendo aquilo e a gente não pode fazer nada. Dá medo das coisas desabarem e caírem em cima da gente... É horrível”, disse a moradora de Corta Mão Ramynes Dos Santos Xavier, 19 anos. A parede de sua cozinha rachou e algumas telhas da casa da tia, que é vizinha dela, caíram. Ninguém ficou ferido. >
Já a engenharia civil Valéria Santana, 23 anos, que mora em Elísio Medrado, sentiu a o vidros das janelas tremerem por volta das 3h40 da manhã. “Senti a janela, que é de vidro, balançar muito. Foi a sensação igual a de domingo, assustadora, mesmo tendo noção do que está acontecendo. Minha vizinha, que é hipertensa, passou mal, chegou apavorada aqui em casa, quase desmaiando. Ela estava verde. Foi um grande susto”, narrou a engenheira.>
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Terremotos registrados em Amargosa no domingo e na segunda, segundo o laboratório sismográfico da UFRN:>
DATA HORA (utc) Coordenadas Magnitude Localização 2020/08/30 10:43 -13.00 S; -39.58 W 2.5 mR Amargosa BA 2020/08/30 10:44 -13.00 S; -39.58 W 4.2 mR Amargosa BA 2020/08/30 11:18 -13.00 S; -39.58 W 3.7 mR Amargosa BA 2020/08/30 11:25 -13.00 S; -39.58 W 2.7 mR Amargosa BA 2020/08/30 11:57 -13.00 S; -39.58 W 2.8 mR Amargosa BA 2020/08/30 12:08 -13.00 S; -39.58 W 2.3 mR Amargosa BA 2020/08/30 12:11 -13.00 S; -39.58 W 2.2 mR Amargosa BA 2020/08/30 12:21 -13.00 S; -39.58 W 1.8 mR Amargosa BA 2020/08/30 13:41 -13.00 S; -39.58 W 1.6 mR Amargosa BA 2020-08-30 20:12 -13.00 S; -39.58 W 2.6 mR Amargosa BA 2020-08-31 03:42 -13.00 S; -39.58 W 3,5 mR Amargosa BA Escala de magnitude dos abalos sísmicos de acordo com a escala Richter. Crédito: UFRN Escala de intensidade dos abalos sísmicos de acordo com a escala Mercalli. Crédito: UFRN *Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>