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Do Estúdio
Publicado em 28 de junho de 2021 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Há 15 anos, quando adquiriu uma bicicleta e começou a pedalar nos fins de semana como forma de contribuir para o tratamento de saúde ao qual estava submetido, o marinheiro Augusto Viana encontrou uma série de dificuldades para circular por Salvador com sua magrela. “A infraestrutura da cidade era muito ruim, poucos locais tinham ciclovias e a relação com o trânsito era péssima. A sensação de insegurança era constante pois os outros veículos não tinham qualquer tipo de respeito pelos ciclistas”, relembra.
Hoje, aos 41 anos, Augusto percebeu o quanto o cenário mudou em favor dos ciclistas. Ele acredita que uma cultura de respeito à bicicleta e seus condutores nasceu no trânsito da cidade, tornando as ruas mais seguras para quem utiliza a bike por esporte ou como meio de locomoção. “É uma luta que sempre tivemos e ao longo dos últimos anos. As ciclovias ajudaram as pessoas a perderem o medo, mas as campanhas de conscientização promovidas pelo poder público contribuíram para mudar a forma com que as pessoas veem a bike. Ainda há muito a fazer, mas já melhorou bastante”, avalia.
Vai de Bike À frente da revolução cultural direcionada à bicicleta que os soteropolitanos viveram ao longo dos últimos anos está Movimento Salvador Vai de Bike, conjunto de ações integradas de incentivo ao uso da bicicleta na capital, criado com o objetivo de melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida. Projeto visa de melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida (Foto: ASCOM_Max Haack) Lançada pela Prefeitura de Salvador através da Saltur em setembro de 2013, a iniciativa foi estruturada em torno de seis eixos de atuação: implantação das estações de compartilhamento de bicicletas; ampliação e requalificação da Infraestrutura Cicloviária da cidade; conscientização, educação, capacitação e atividades permanentes pró–bike; ciclofaixas, circuitos de Lazer, esporte, turismo e cultura; políticas públicas; e desenvolvimento econômico e comunitário, eventos ciclísticos e competições esportivas ligadas ao setor.
De acordo com o presidente da Saltur, Isaac Edington, coordenador do Salvador Vai de Bike, na época da sua implantação, o programa foi encarado com ceticismo por parte da população que não acreditava que a onda fosse pegar em função do número de obstáculos a serem superados.“Houve quem dissesse que a bicicleta em Salvador não daria certo por conta da topografia da cidade, outros apontavam o calor como problema. Eram diversas justificativas, mas seguimos em frente e hoje somos uma das capitais que mais avançaram nesse sentido, superando até cidades com tradição no uso da bicicleta, como Curitiba, por exemplo”_ Isaac Edington, presidente da Saltur e coordenador do Salvador Vai de BikeIncentivo Uma das principais ações de incentivo à reaproximação do soteropolitano da bike foi a instalação das estações de compartilhamento de bicicletas, uma das ações mais questionadas pelo público à época da sua implantação, realizada inicialmente em parceria com o banco Itaú, fato que fez com que o termo “laranjinha” se tornasse o apelido oficial das primeiras magrelas por aluguel, em função da cor. “Muitas pessoas desacreditaram por conta do vandalismo, que aconteceu em algumas ocasiões, mas a experiência geral foi muito favorável já que as bikes compartilhadas foram a porta de reaproximação entre as pessoas e o ciclismo. Muita gente começou com elas, pegou gosto e comprou sua própria bicicleta”, aponta.
Para que as novas bikes da cidade pudessem circular com maior segurança, a Prefeitura também procurou investir na infraestrutura cicloviária da cidade e o resultado se tornou visível em pouco tempo. À época da implantação do Salvador Vai de Bike, a malha de ciclovias somava cerca de 30km, oito anos depois a extensão de espaços reservado ao trânsito de bicicletas saltou para um total de 302km.
Para Isaac Edington, o empenho do poder público através das campanhas de conscientização no trânsito foi fundamental para transformar a bicicleta em protagonista no tráfego de veículos da capital baiana. Ações como a capacitação oferecida a mais de 2 mil motoristas de ônibus de Salvador tiveram um impacto direto na relação entre ciclistas e rodoviários. “Antes, a forma como ciclistas e motoristas interagiam no trânsito, a impaciência, as buzinas, as fechadas eram as principais queixas. Hoje o respeito com a bike aumentou bastante e isso é fruto de um trabalho contínuo de conscientização que vamos permanecer desenvolvendo”, diz. Estação de Bikes com leitura de QR Code (Foto: SECOM/Jefferson Peixoto) O gestor sinaliza que a bicicleta já tem uma importância tão grande para a cidade que em seu maior evento popular, o Carnaval, são as bikes que abrem o primeiro dia de desfiles. Desde 2015, a Ala das Bikes é responsável pela abertura do Fuzuê, no circuito Barra-Ondina. Os passeios cicloturísticos também se tornaram encontros importantes na comemoração de datas simbólicas, como o Maio Amarelo, o início da Primavera, Outubro Rosa e Novembro Azul, reunindo milhares de ciclistas.
Vantagens Durante a pandemia, o número de ciclistas aumentou expressivamente em Salvador. Apontada como uma das modalidades de prática esportiva mais seguras, a alta procura pelas bicicletas chegou a provocar filas de espera em lojas especializadas. Além da atividade de bem-estar, ela também passou a ser uma importante fonte de geração de renda, sendo utilizada por entregadores do sistema delivery. A Bike Solidária, por exemplo é uma iniciativa que visa doar bicicletas reformadas para pessoas que durante a pandemia precisavam de um meio de transporte para trabalhar.
Com esse rápido aumento no número de ciclistas em Salvador, a Saltur já pensa nas próximas ações para responder às novas demandas. “Temos procurado fortalecer o diálogo constante com os ciclistas da cidade, que se engajam, cobram, pois é comum que quem começa a pedalar também se torne um cicloativista e estamos buscando atender a essa nova demanda”, explica. “Nosso objetivo agora é desenvolver a bike nas comunidades como ferramenta de geração de renda e seguir ampliando a malha cicloviária, além de intensificar as ações de conscientização, pois entendemos como um trabalho que só traz vantagem para a cidade”, completa. Desenvolver o uso das bicicletas nas comunidades como ferramenta de geração de renda é uma das metas Salvador Vai de Bike em Números 650% de crescimento da malha cicloviária Mais de 300km de ciclovias em 2021 50 estações de bikes compartilhadas 400 bicicletas compartilhadas disponíveis em toda a cidade Mais de 600 paraciclos (estacionamento de bike) instalados na cidade Mais de 450 bikes doadas através do Bike Solidária Mais de 2 mil rodoviários capacitados para interagir com bikes no trânsito
O Estúdio Correio produz conteúdo sob medida para marcas, em diferentes plataformas.
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