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Marcela Vilar
Publicado em 22 de julho de 2021 às 05:15
- Atualizado há 2 anos
A população preta e afrodescendente de Salvador que deseja empreender, aumentar ou ter uma renda, agora conta com novas ferramentas. Nesta quarta-feira, 21, a prefeitura de Salvador lançou duas plataformas online – AfroBiz e AfroEstima - para capacitar, divulgar e fomentar a cadeia produtiva afro da capital. Mais de 60 atividades culturais e econômicas estão disponíveis, de mestre de capoeira, a baianas de acarajé, passando por turbanteiras, terreiros de candomblé, feirantes e artistas (veja todas no final da matéria).
Funciona assim: você faz o cadastro online no site, preenche seu perfil com informações básicas, como nome, sobrenome, data de nascimento, CPF, RG, e envia uma declaração de descendência africana. A incrição é gratuita. Para quem não tem internet, o cadastramento também pode ser feito presencialmente com os mobilizadores que atuam nos bairros do Rio Vermelho, Itapuã e Centro Histórico, de quinta a sábado. Mais informações pelo WhatsApp 71 99405-9194.
Depois de se inscrever, seu negócio estará na vitrine para qualquer consumidor local, nacional e até fora do Brasil contratar. Não precisa ter uma empresa, pois a contratação pode ser pessoa física, seja de produtos, como turbantes, ou serviços, como aulas de dança e de capoeira. A mediação é toda feita pela internet, pois a plataforma funciona como um marketplace virtual. Afrobiz dá oportunidade de divulgação de produtos e serviços afro. Crédito: Reprodução/Afrobiz. Os produtos e serviços oferecidos por esses empreendedores ficarão disponíveis na Afrobiz (afrobizsalvador.com.br). A expectativa de prefeitura é que, pelo menos, 2.500 atores se inscrevam, mas não há limitação de pessoas.
AfroEstima: 13 cursos gratuitos Além disso, existe a AfroEstima, que promove capacitações, mentorias e treinamentos para quem se inscrever no Afrobiz. A plataforma oferecerá 13 módulos de mentoria e capacitação ao nível estratégico e prático divididos em sete Trilhas de Aprendizagem. As inscrições são gratuitas, mas com vagas limitadas. Elas podem ser feitas entre 23 de julho a 16 de agosto de 2021, no site www.afroestimasalvador.com.br.
Os módulos serão desenvolvidos de maneira presencial, em formato de aulas expositivas, e através de aulas de campo, workshops e outros. Todas as Trilhas oferecidas terão entregas de certificados. Os encontros terão carga horária de 04h, durante 4 meses em cada um dos ciclos de turmas oferecidas (território e ilhas). São três ciclos, onde serão realizados os encontros presenciais: os dois primeiros são no Centro Antigo, Rio Vermelho e Itapuã/Orla Norte; e o terceiro na Ilha de Maré, Bom Jesus e Ilha dos Frades.
Plano Afro: investimento de R$ 15 milhões O investimento da prefeitura no projeto é de R$ 15 milhões, através do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid). O evento de lançamento aconteceu no Teatro Gregório de Mattos (TGM), com as presenças do prefeito Bruno Reis, da vice-prefeita, Ana Paula Matos, dos secretários de Cultura e Turismo (Secult), Fábio Mota e da Reparação (Semur), Ivete Sacramento.
“O objetivo é conectar fornecedores, consumidores e produtores que retratam a arte e a história do baiano. Vamos conectar todos os atores, não só consumidores locais, mas do Brasil e do mundo”, explica o prefeito Bruno Reis.
As plataformas fazem parte de um projeto ainda maior: o Plano Afro, que reúne mais duas ações. A terceira é o fortalecimento do ofício das baianas, através do mapeamento das mesmas, além do lançamento do Guia Black e da ação Salvador Capital Afro. Segundo o secretário Fábio Mota, da Secult, em 60 dias essa fase será concluída. A quarta e última etapa é a integração das quatro propostas.
O Plano Afro começou a ser discutido com a sociedade civil em 2019 e, agora, saiu do papel. Mais de 650 pessoas participaram do processo. “Salvador constituiu o Plano Afro em uma discussão ampla com a sociedade civil através de audiências públicas e debates. Hoje, a gente está tirando o Plano Afro do papel, constituído em quatro eixos. Estamos hoje aqui lançando a Afroestima e o Afrobiz” , anuncia o secretário Fábio Mota.
O prefeito comentou a importância de inserir essa cadeia produtiva no mundo on-line. “Com a pandemia, o e-commerce ganhou cada vez mais força. A prefeitura vai investir, dar apoio e divulgar toda a cadeia produtiva com o objetivo de fortalecer esse setor”, acrescenta o prefeito. “Quem já tem renda, vai poder incrementar, e, quem não tem, vai poder ter”, acrescenta.
Para Bruno Reis, o plano vai valorizar e reconhecer as culturas de matriz africana. “Salvador, além das belezas naturais, de seu rico patrimônio histórico-cultural, do seu sincretismo religioso, da sua culinária e gastronomia conhecida no Brasil e no mundo, além de seu povo, que é um dos principais diferenciais. O objetivo do plano que é valorizar nossa história, cultura e tradição, que herdamos dos nossos irmãos afrodescendentes. Prefeito Bruno Reis afirmou que quer fortalecer cadeia produtiva afrodescendente em evento (Foto: Igor Santos/Secom PMS) Retomada Segundo Reis, 60% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade vem do setor de serviços. Por isso, o projeto pretende ainda acelerar o processo de retomada econômica em Salvador. “O setor de serviços e o turismo é o grande gerador de emprego e renda. Eles foram os mais impactados na pandemia, em virtude da necessidade de medidas de isolamento social, mas, agora, precisamos dar os passos para dar a volta por cima”, argumenta Bruno.
A estimativa é que, inicialmente, 2.500 pessoas acessem e se cadastrem na plataforma nesse primeiro momento, mas não há limitação de pessoas. Os secretários e o prefeito ressaltaram que cerca de 82% da população soteropolitana é negra, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçando a necessidade do plano de ação.
A secretaria da Semur, Ivete Sacramento, incentivou os jovens a se inscreverem na plataforma. “Salvador, mais uma vez, inova na reparação. Hoje fazemos o chamamento, principalmente da juventude negra, para participar desse avanço, para concorrer com o turismo internacional. É mais do que a implantação de um projeto, é um chamamento para que nossa juventude negra perceba a necessidade urgente de se qualificar e concorrer de igual para igual. Estamos esperando vocês”, convida Ivete.
O secretário Fábio Mota também explicou que o projeto promoverá a igualdade social em Salvador. “Esse é um projeto de igualdade social, para gerar emprego e renda, explorar o nicho turismo étnico religioso e abrir Salvador para o mundo, promovendo oficinas de negócios. Você pode escolher uma escola de capoeira, moda, beleza, religião, qualquer segmento", detalha,
Entidades comemoram projeto A presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam), Rita Santos, comemorou o lançamento das plataformas e do Plano Afro. Ela e outras baianas participaram das reuniões que ajudaram a construir o projeto. “Tivemos reunião na Liberdade, Itapuã, Rio Vermelho e Pelourinho, com todas as baianas dando suas opiniões e elas agora se sentem abraçadas, porque nunca puderam sentar com empresas e negociar o produto delas”, celebra.
Segundo ela, são mais de 3 mil baianas na ABAM, e 60 já estão cadastradas na Afrobiz. O cantor, compositor e mestre de capoeira, Tonho Matéria, ressalta a relevância da cultura afro para Salvador. “Queremos ampliar o reconhecimento do valor cultural e artístico que temos dentro de Salvador e provocar uma inserção do turismo local, já que os terreiros de candomblé, as baianas, a capoeira, o samba, a dança afro, os blocos afro são elementos que atrai turistas”, argumenta.
Casa da História de Salvador e Arquivo Público têm obra autorizada A prefeitura também autorizou, durante o evento, a implementação do Centro de Interpretação do Patrimônio e Complexo Casa da História de Salvador e Arquivo Público Municipal. A ação inclui elaboração da proposta conceitual, programas e projetos executivos, além de todas aquisições, instalações e acompanhamento da implantação do novo equipamento cultural, que funcionará no Comércio. O investimento é de quase R$18 milhões, também com financiamento do BID, através do Prodetur.
Composto por dois imóveis interligados, sendo um casarão que passa por restauração e outro prédio que está em construção, o complexo abrigará acervos históricos para difusão da memória e conhecimento da primeira capital do Brasil. “A previsão é início do ano que vem entregarmos esse equipamento, que será tão importante para fortalecer ainda mais o turismo na cidade”, afirmou Bruno Reis.
Atividades que podem ser cadastradas no Afrobiz Religião - terreiros, igrejas, lojas de artefatos religiosos, caminhadas religiosas, guias espirituais, fornecedores de religião Moda e beleza - vestuário, estilistas, atelier, trançadeira, salão de beleza, cosméticos, calçados, costureiras, rendas e bordados, turbanteira, barbearia, bem estar, acessórios, alfaiates, tatoo, cabelereira, esteticista Arte e cultura - fotógrafos, fornecedores de arte, designers, produtores, escolas e cursos, cinema, histórias, empresas de eventos, escolas de dança, artesões, grafiteiros, bandas, comércio de instrumentos, afoxé, literatura, teatro, grupos de dança, professores de dança, galerias de arte, escultores, artistas, professores, blocos, poesia, produtores culturais, dançarinos Gastronomia - bares, restaurantes, ambulantes, experiências gastronômicas, ajeum, culinária popular, feiras Flora - cosméticos, curandeiros, terapia com folhas, folhas sagradas Capoeira - capoeiristas, professores de capoeira, grupos de capoeira, mestres de capoeira, escolas de capoeira Baiana - acarajé, mingau, receptivo Turismo - guias de turismo, agências de turismo, operados de turismo, roteiros e experiências Tecnologia - empresas de TI, profissionais de TI, desenvolvedores, programadores, web designers, startups
*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro