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Desfile sobre Santa Dulce será tradicional e respeitoso, diz carnavalesco carioca

"Eu não posso colocar uma mulher de biquini e sutiã representando Santa Dulce”, garante Guilherme Diniz

  • Foto do(a) author(a) Daniel Aloísio
  • Daniel Aloísio

Publicado em 14 de abril de 2020 às 06:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Divulgação/Osid

Jorge Amado, Maria Bethânia e As Ganhadeiras de Itapuã. Essas são algumas das figuras ilustres da Bahia que possuem algo em comum: se tornaram o tema de um desfile campeão de escola de samba. Em 2021, uma outra personalidade baiana pode entrar nessa lista: Santa Dulce dos Pobres. 

A freira soteropolitana foi a escolhida como tema do enredo Santa Dulce dos Pobres – O Anjo Bom da Bahia, da Unidos da Ponte, de São João de Meriti, cidade da baixada fluminense. A escola vai levar para a Marquês de Sapucaí um desfile do tipo biográfico.  “Vamos contar a história dela como Maria Rita, Irmã Dulce e Santa Dulce. O enredo vai ser uma verdadeira homenagem ao legado que ela deixou, às Obras Sociais que ela construiu e às lições de amor ao próximo que ela nos passou”, disse Guilherme Diniz, carnavalesco da Unidos da Ponte.   Tema do enredo foi divulgado no domingo de Páscoa (12) (Foto: Divulgação) Junto com Rodrigo Marques, com quem trabalha desde 2015, Guilherme vai comandar o desfile da escola que disputa a Série A do carnaval carioca, o equivalente a uma segunda divisão. Se for campeã, a Unidos da Ponte sobe para o grupo especial, onde não está desde 1996.   

Religião 

Por ser católico e abordar um tema religioso, o carnavalesco garante que a escola vai fazer um desfile sem nudismo ou elementos que possam ofender à fé.“Vai ser um enredo bem tradicional e respeitoso, pois quando a gente fala de fé, temos que ter um respeito, até mesmo pela questão da imagem. Eu não posso colocar uma mulher de biquini e sutiã representando Santa Dulce”, disse.  Historicamente, a relação entre a Igreja Católica e o carnaval já causou alguns atritos. No desfile da Beija-Flor de 1989, a Arquidiocese do Rio conseguiu uma liminar que impediu que a escola apresentasse a imagem de Jesus Cristo caracterizado de mendigo. Ela teve que ser coberta por um saco de lixo imenso com a célebre frase: “Mesmo proibido, olhai por nós”.  

No entanto, com o passar dos anos, a própria Igreja começou a se abrir aos temas que tocavam na fé católica. Em 2016, a Estácio de Sá fez uma homenagem à São Jorge com o aval da Arquidiocese do Rio. Já em 2017, a Unidos de Vila Maria lembrou os 300 anos da aparição de Nossa Senhora Aparecida com a participação do Padre Reginaldo Manzotti.  

“Depois que o enredo foi divulgado, nós recebemos uma resposta legal do marketing das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) em relação a homenagem. Com esse retorno positivo, vamos entrar com mais alegria nesse legado dela”, disse o carnavalesco, que ainda não teve a oportunidade de vir para Salvador, mas pretende fazer isso ainda nesse ano.   Guilherme Diniz (esquerda) e Rodrigo Marques (direita) são os carnavalescos que pensaram no tema sobre Santa Dulce (Foto: divulgação) Para a construção do enredo, que ainda não foi divulgado, a dupla contratou o coordenador geral do grupo de pesquisa Observatório de Carnaval da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Tiago Freitas. “Eu cresci em berço católico e sempre ouvia as histórias sobre o Anjo Bom da Bahia. Também acompanhei todo o processo de canonização pela televisão e senti a vibração de amor que o povo baiano emana pela Santa Dulce”, revelou.  

Tudo isso, acompanhado por uma pesquisa histórica feita em filmes, documentários e livros, ajudou a construir o enredo.“Eu me baseei em três pilares: a vida pelos pobres, o círculo que engloba os milagres e canonização e o movimento que nomeamos de ‘baianidade Santa’”, explicou.  Para a realização do desfile, os carnavalescos querem levar para a Sapucaí pessoas que conviveram com a santa e que são importantes no processo de canonização dela, como os miraculados José Maurício Moreira, maestro soteropolitano que voltou a enxergar, e a funcionária pública Claudia Araújo, que foi curada de uma hemorragia.  

Outros carnavais 

“Geralmente, a determinação do tema do desfile é feita após a mesa diretora ter no papel algumas opções. Mas esse ano foi atípico, pois a gente só apresentou o enredo de Santa Dulce e foi automático escolhido. As pessoas têm realmente um apreço muito forte por ela”, disse o carnavalesco.  

Esse carinho não é só por Santa Dulce, mas pela Bahia, estado que constantemente se torna tema de uma escola de samba. Em 2012, ano que se comemorava o centenário de nascimento de Jorge Amado, a Mocidade Alegre foi a campeã do carnaval paulista com um desfile sobre o escritor baiano.  

Em 2016, a Mangueira foi campeã do carioca com o enredo Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá, que homenageou a cantora baiana. Já nesse ano, em 2020, foi a vez da Viradouro conquistar o título com o enredo De Alma Lavada, sobre As Ganhadeiras de Itapuã.  As Ganhadeiras de Itapuã foram o "pé quente" da Viradouro (Renata Xavier/Divulgação) “A Bahia é próxima da gente e isso é incrível. Eu mesmo me tronei um devoto de Santa Dulce. O legado que ela construiu está do nosso lado. Tudo muito simples, que começou num galinheiro, mas feito com muito amor. Eu quero que o povo baiano se emocione com essa homenagem”, afirmou Guilherme  

Mais do que uma homenagem, a Unidos da Ponte pretende passar uma mensagem de solidariedade para as pessoas. “Esse enredo vem num momento importante do nosso país. Queríamos que Santa Dulce ainda estivesse viva para ensinar-nos a passarmos bem por esse momento. Mas sei que ela nos fortalece todos os dias”, disse. 

Festas populares 

Por ser religiosa, Santa Dulce não participava de festas ou bailes de carnavais. Não há registros históricos de que ela tenha participado em vida de uma apresentação do tipo. Porém, a religiosa sempre foi ligada à música, especialmente na década de 1930, quando ela começou a desenvolver um trabalho no Círculo Operário da Bahia, que tinha intensa atividade cultural.  

“Dentro do Círculo Operário, Santa Dulce tinha uma habilidade muito especial de cativar a atenção das crianças que eram alunas internas. No meu trabalho de pesquisa, pude conversar com pessoas que foram alunas dela. Elas se recordam da Santa com o acordeom, tocando e cantando músicas para crianças”, explica Jorge Gauthier, autor do livro Irmã Dulce os milagres pela fé e jornalista do correio que pesquisa sobre Santa Dulce há 9 anos.  

Segundo Gauthier, a música que Santa Dulce mais gostava de cantar era Alecrim Dourado. Outra canção que ela gostava era Jovens Tardes de Domingo, de Roberto Carlos. “Junto com sua irmã Dulcinha, Santa Dulce costuma ouvir bastante essa canção. Roberto Carlos era um dos compositores favoritos da freira”, disse Gauthier. 

Essa vai ser a primeira vez que uma escola de samba faz uma homenagem para Santa Dulce dos Pobres. Antes, a freira baiana tinha sido apenas representada em algumas alas, como no desfile da Unidos do Peruche de 2017 sobre Salvador. Agora, a vida e obra dela vão ser representadas na Sapucaí.  “Certamente, se estivesse viva, estaria feliz com a homenagem por um único motivo: ela sabia a visibilidade que festas e eventos dão na mídia para as suas Obras Sociais. Consequentemente, seria uma forma de buscar donativos para os que ela ajuda”, disse Gauthier.