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Desfile do 2 de Julho não vai acontecer pela primeira vez na história

Tradição acontece há 197 anos; homenagens serão simbólicas e sem público

  • Foto do(a) author(a) Vinicius Nascimento
  • Vinicius Nascimento

Publicado em 30 de junho de 2020 às 09:15

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

As comemorações da Independência da Bahia nunca passaram por um baque como o do próximo Doisde Julho em seus quase 200 anos de história. A pandemia do coronavírus impôs uma nova rotina e impediu que baianos e turistas acompanhem o cortejo pelas ruas do Centro Histórico de Salvador. Ou mesmo que o fogo simbólico saia de Cachoeira em desfile, com destino à capital.

O CORREIO foi atrás de historiadores para procurar saber sobre eventuais crises que a festa do Dois de Julho sofreu no decorrer da história e a resposta foi unânime: não há registros que tenham freado o dia da Independência de forma tão brusca.

Membro do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia, Milton Moura conta que durante a II Guerra Mundial (1939-1945) o Carnaval chegou a ficar suspenso, mas o Dois de Julho continuou acontecendo normalmente.

No ano de 1943, por exemplo, a festa aconteceu debaixo de uma chuva muito forte. Há registros de uma multidão protegida com guarda-chuvas fazendo o cortejo.

Um dos maiores revezes que a festa da Independência da Bahia sofreu foi justamente no ano de seu centenário, em 1923, quando o Brasil vivia o chamado período da República Velha.

A escravidão tinha sido abolida menos de 40 anos antes, em 1888, e Milton Moura explica que essa abolição foi jurídica e formal, mas as pessoas negras escravizadas e seus descendentes seguiam sendo vistas como inferiores para as elites do país, que naquela época vivia o auge de seu processo de eugenia, com a imigração de europeus no intuito de embranquecer o país e torná-lo mais parecido com a Inglaterra e a França, as duas potências europeias da época.

Por conta disso, a imagem do Caboclo foi abolida. Não era um europeu ou um homem branco e portanto não fazia parte da imagem que o país queria ter."As elites baianas e brasileiras de um modo geral queriam fazer um embraquecimento do Brasil. E o Caboclo era a marca de uma independência representada por um elemento mestiço vestido de índio. E eles queriam tudo branco. Nesse tempo se acirrou a perseguição aos batuques de candomblé. Era uma coisa obsessiva de fazer o Brasil parecer um país europeu", diz Milton Moura.O historiador Daniel Rebouças classifica esse ato de retirar o Caboclo para colocar o Senhor do Bonfim no desfile da Independência como o ápice da eugenia que se tentava no Brasil.

Ele também afirma que nem mesmo no período da Gripe Espanhola, que assolou o mundo a partir de 1918, houve algo assim, com a proibição de pessoas nas ruas."O 2 de Julho foi meio cambaleante durante a história. Há a procissão cívica e a popular, que normalmente é materializado nos carros do Caboclo e da Cabocla. Teve anos que o carro da Cabocla ficou preso dentro do Pavilhão da Lapinha, mas havia comemoração da Independência nas ruas, no Instituto Histórico... mas assim zero de comemoração zero, pública, na rua, eu realmente desconheço", conta.O prefeito ACM Neto afirmou que uma parte da Fundação Gregório de Mattos até chegou a sugerir que o Caboclo desfilasse sem aglomeração e sem pessoas na ruas. Contudo, ele acredita que essa medida seria arriscada: pessoas poderiam querer seguir o percurso e moradores do Centro poderiam sair para as sacadas de suas casas para acompanhar o desfile."Decidimos que não haverá nenhum tipo de desfile, mesmo que fosse só do Caboclo. O que vai ocorrer é um ato pela manhã com as presenças minha e do governador. Nós vamos fazer o hasteamento da bandeira, a deposição das flores na Lapinha, sem que as pessoas tenham acesso. Será proibido o acesso de qualquer pessoa", disse o prefeito de Salvador.Em nota, a Prefeitura de Cachoeira, município de onde sai o Fogo Simbólico na antevéspera do dia da Independência, afirmou que "reafirma seu compromisso em continuar servindo o povo cachoeirano, principalmente neste momento difícil de enfrentamento ao Coronavírus. E, de forma simbólica, lembramos e homenageamos as heroínas e heróis desta data". 

Após sair de Cachoeira, a tocha passa  por Saubara, Santo Amaro, São Francisco do Conde, Candeias e Simões Filho, até chegar em Pirajá no primeiro dia de julho.

Neste dia, são realizados atos simbólicos como o acendimento da Pira do largo de Pirajá, hasteamento de bandeiras e colocação de flores no túmulo de General Labatut, o mercenário francês que liderou o Exército Pacificador na Bahia.

O grande dia começa numa alvorada com queima de fogos na Lapinha, seguida do hasteamento da bandeira por autoridades.

Em seguida, acontece a colocação de Flores no monumento ao General Labatut e, na sequência, os carros emblemáticos do caboclo e da cabocla iniciam o desfile pelas ruas do bairro da Liberdade, Santo Antônio Além do Carmo, Pelourinho e Avenida Sete de Setembro, em direção ao Largo Dois de Julho.

Presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro confessa que tem uma relação profunda com a festa e por isso postergou a decisão de cancelar os festejos o mais tarde possível.

No entanto, a FGM não vai deixar o dia da Independência da Bahia passar batido: fará uma série de ações como a exibição de documentários, palestras e outras iniciativas que, nas palavras de Guerreiro, "darão oportunidade de ver a festa de binóculo e voltar com mais estudo e animação"."O Fois de Julho é uma festa absolutamente identitária. Só tem aqui na Bahia e não existe nada parecido em lugar nenhum do mundo. É uma festa cívica, religiosa e profana. Foi uma dor muito grande cancelar o desfile, mas é um evento que tem aglomeração por si só e realmente não seria possível de fazer", disse Guerreiro.O tema, que já estava definido antes mesmo da pandemia, dialoga muito com o que se vive na capital, no estado, no país e no mundo. "Sonho de Liberdade". Um mote simbólico, forte e resistente. Combina com a Independência. Combina com a Bahia.

Lives do dois  de JulhoCORREIO e História - O CORREIO começa nesta terça-feira, 30, uma série de lives sobre o Dois de Julho. As lives serão apresentadas pela subeditora do jornal e graduanda em História, Clarissa Pacheco, e terá as participações dos historiadores Marcelo Siquara e Rafael Dantas e do colunista do CORREIO Nelson Cadena. Sempre às 17h, as lives serão transmitidas no Instagram (@correio24horas), e vão debater temas relacionados à Independência da Bahia, como a situação da população da capital, que não conseguiu fugir para o Recôncavo, as transformações na cidade após a guerra e a cobertura da imprensa sobre a festa.

Multimídia - Além das lives no Instagram, o CORREIO vai publicar ao longo da semana um amplo conteúdo multimídia sobre o Dois de Julho, com videos, ilustrações, artigos e um podcast especial sobre a data. Fique atento ao www.correio24horas.com.br e às redes sociais para não perder nada.*com supervisão da subeditora Clarissa Pacheco