Descubra hora e lugar certos para aproveitar cores de Salvador

Professora e doutora em iluminação explica o que as cores da cidade têm de únicas

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  • Fernanda Santana

Publicado em 29 de março de 2023 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

A luz do dia pode mudar tudo - inclusive, nós mesmos. Em Salvador, entre 9h e 15h, vemos uma cidade mais neutra, refletida uma luz branca. No amanhecer ou no entardecer, aí sim, temos a vida ao redor mais colorida. Mas há mais ingredientes, além do horário, para enxergar melhor as cores naturais do lugar.

Os elementos naturais, em Salvador, são "muito poderosos e nesse sentido o mar tem uma presença muito forte, interagindo com as cores do céu", explica Márcia Freire, professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (Ufba). No doutorado, a pesquisadora estudou iluminação natural. 

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Salvador reúne uma miscelânea de características, da paisagem geográfica acidentada ao fato de estarmos cercados pelo azul da Baía de Todos-os-Santos e do Oceano Atlântico, que repercutem nas cores da cidade. A quantidade de horas de sol também muda as cores de uma cidade. Aqui, no Verão, a média de horas de sol por dia são sete horas - nacionalmente, são seis - segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). "A geografia de Salvador, que avança pelo mar, se farta com esses espetáculos, que vem de várias direções. Isso termina realçando e diversificando as cores da cidade", detalha Freire.As áreas verdes também impactam diretamente as cores de Salvador. Fisicamente: "O próprio verde tem várias nuances de cores, claro e escuro. Como ele tem essa volume, que deixa passar luz, e ainda se mexe, dá uma dinamismo nas cores. Tem muito mais nuances no claro e escuro". Sentimentalmente: "Oferecem apelo visual e emocional muito forte". "Por isso não podemos permitir perdê-las", conclui Márcia.

Abaixo, a pesquisadora responde como, quando e onde aproveitar da melhor forma as cores refletidas, diariamente, em Salvador.

Qual é a melhor hora para enxergar as reais cores de Salvador?

Geralmente, no meio do dia (entre 9 e 15h), quando o sol está mais alto, temos menos refração na atmosfera, e a luz fica mais “branca”, ou “neutra”. Ao amanhecer ou entardecer, aí sim, pela posição que a radiação solar atravessa a atmosfera, a luz da cidade fica mais colorida. E isso interfere nas cores do próprio céu, assim como das superfícies.

Nessas horas, uma parede branca pode assumir uma cor alaranjada, por exemplo. Mas, fisicamente, fisiologicamente e filosoficamente, fica difícil afirmar quais cores são reais e quais não são. A própria cor do céu, que consideramos azul, não deixa de ser uma “ilusão de ótica”. E nem sempre ele se apresenta azul.  

Existe um local que potencializa as cores de Salvador?

Os elementos naturais são poderosos. Nesse sentido, o mar tem uma presença muito forte, e apresenta uma variação de brilhos ao longo do dia, interagindo com as cores do céu. Ao refleti-la, faz espetáculos diariamente. 

E a geografia de Salvador, que avança pelo mar, se farta com esses espetáculos, que vem de várias direções. Isso termina realçando e diversificando as cores da cidade.

Também as áreas verdes, além de todas as benesses que nos trazem, oferecem apelo visual e emocional muito forte. Fiscamente, o próprio verde tem várias nuances de verde. Ele também, como deixa passar luz e ainda por cima se mexe, dá um dinamismo de cor. Por isso, não podemos permitir perdê-las.

Quais são as principais características das cores de Salvador?

Todo lugar é único. Em Salvador, temos o privilégio da natureza nos oferecer muitos tons de azul, tanto do céu quanto do mar, e desse, até tons prateados no meio do dia! E a geografia da cidade é de fato peculiar. Além de avançar pelo mar, como já dito, tem uma topografia acidentada, com seus vales, encostas e cumeadas, ruas sinuosas... 

Tudo isso enriquece bastante os visuais, causando muitas surpresas, nesse ponto sempre agradáveis aos nossos olhos. A atmosfera úmida, com variadas nuvens no céu, também ajuda nessa dinâmica. E, falando de atmosfera, entram aí outros sentidos, como audição, olfato, paladar, tato. Tudo junto e misturado.

Como pensar a arquitetura para aproveitar essas cores naturais?

Quem gosta de arquitetura, gosta de apreciá-la. Mas usufruí-la é ainda melhor. Nesse ponto, a luz natural é fundamental (além da ventilação, da sonoridade...). Ou seja, eu diria que as aberturas das edificações são elementos chave. 

As suas posições, os seus tamanhos, as suas formas, materiais e possibilidades de ajustes, fazem toda a diferença. As cores claras refletem mais a luz, portanto intensificam mais a luminosidade nos ambientes internos, principalmente quando usadas em tetos e nas partes mais altas das paredes. Mas usar cores vibrantes traz alegria e isso é muito bom. Contanto que não ocupem todo o espaço, correndo o risco de causar um efeito contrário

A iluminação impacta nos nossos estados de humor?

Com certeza! E existem muitos estudos que abordam isso. Todos somos capazes de perceber o impacto da iluminação nos nossos estados de humor. Assim como a “depressão sazonal” em lugares com períodos de pouca luz solar, acredito que o efeito contrário também é possível, com a ampla iluminação que Salvador oferece, impactando positivamente nossa saúde física e mental. 

Quando chove, e depois o tempo limpa, a atmosfera fica mais limpa e as cores mais brilhantes. O verde, principalmente, fica mais intenso. Agora, claro, o tempo chuvoso, quando o céu fica escuro, o mar também fica escuro, tudo fica com uma aparência mais sisuda. Tem essas duas coisas: a coisa do limpar e da escuridão. 

*Este conteúdo especial em homenagem ao Aniversário de Salvador integra o projeto Salvador de Todas as Cores, realizado pelo Jornal Correio, com patrocínio da Suzano, Wilson Sons, apoio institucional da Prefeitura de Salvador e apoio da Universidade Salvador - Unifacs.