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Eduardo Dias
Publicado em 3 de abril de 2020 às 16:55
- Atualizado há 2 anos
O mundo vive um momento que jamais imaginava: uma pandemia de um vírus desconhecido e letal que tem causado estragos em diversos setores, como na saúde e na economia de vários países, como o Brasil. Na Bahia, a covid-19 já afetou 282 pessoas e matou outras cinco. Além disso, tem impactado na vida dos soteropolitanos, principalmente dos que dependem do comércio para trabalhar.
Em uma das medidas emergenciais para conter a disseminação e proliferação do vírus pela cidade, a prefeitura decretou o fechamento de shoppings centers e comércios de bairro acima de 200 m². Após 15 dias de cumprimento, veio o anúncio de que a medida seria prorrogada pelo mesmo período e teria pelo menos um mês de duração. Com validade até o próximo dia 18 de abril, o decreto ainda tem possibilidade de futuras prorrogações.
O CORREIO conversou com quem é impactado diariamente pela medida, como trabalhadores, associações, sindicatos e lojistas, que afirmaram entender a necessidade do fechamento, mas admitiram que temem o desemprego.
De acordo com o coordenador regional da Associação Brasileira de Shoppings na Bahia (Abrasce-Ba), Edson Piaggio, os estabelecimentos entendem a importância do fechamento dos espaços, mas explicou que a entidade tem buscado um diálogo com os governos municipais, estaduais e federais para uma possível divisão do prejuízo ao fim da pandemia.
“Entendemos a situação que estamos vivendo, não podemos facilitar com esse vírus, mas sabemos que há uma conta e que ela precisará ser paga mais na frente. A Abrasce-Ba está preocupada com isso e estamos sempre contatando os governos para que essa conta seja dividia por todos nós. Vamos aguardar e cumprir a determinação das autoridades, pois sabemos que os shoppings atraem aglomerações. Vamos dar essa colaboração, mesmo sabendo que é muito ruim para o setor, mas temos enfrentar como todos os outros têm enfrentado”, disse o coordenador, que afirmou que o intuito é preservar os empregos dos colaboradores até onde puder.
“Nós lamentamos muito ficar mais 15 dias parados, sabemos que o comércio varejista é um dos mais atingidos com essa crise, mas vamos seguir rigorosamente essas restrições. O nosso planejamento é para que o impacto seja o mínimo possível na mão de obra. Algumas lojas mantiveram os funcionários, mas acredito que, se continuar essa situação, de incerteza e prorrogação de fechamentos, as demissões virão”, completou.
Esse é o principal medo de quem trabalha nesses estabelecimentos, como é o caso de Gabriela Barbosa, de 22 anos, vendedora em uma loja de cosméticos no Salvador Shopping há seis meses. Ela tem trabalhado com vendas no site da empresa e sentiu um impacto na sua rotina.
“A rotina tem sido estressante, pois já estava acostumada em sair para trabalhar e estudar. Agora, nem um, nem outro. Tenho problema de ansiedade, começo a pensar que vou perder o emprego, tenho muito medo. Acho que todo mundo tem. A empresa deu opção de férias de 15 dias, para não demitir nesse momento. Mas a minha preocupação é de que continuem sendo prorrogados os decretos, é uma incerteza. Continuo recebendo o salário, mas não sei como serão os próximos dias. Se passarmos mais tempo fechados, pode resultar em uma onda de demissões”, acredita a vendedora.
Lojistas As lojas de roupas Salve Terra, na Pituba e no Rio Vermelho, onde trabalha o gerente Guilherme Santos, estão dentro do decreto de serviços não essenciais e precisaram ser fechadas após a determinação da prefeitura. No entanto, para superar a crise que se instaurou, Guilherme disse que a empresa começou a adotar medidas preventivas para superar a situação, que vão desde demissões de funcionários a investimentos no segmento e-conmerce.
Segundo ele, a empresa estima só voltar a funcionar normalmente após o mês de junho e, durante a pandemia, precisou demitir funcionários, pois não havia verba suficiente para manter todos.
“Só vamos conseguir retomar as atividades após o São João, porque entendo que, mesmo que tudo isso passe logo, as pessoas ainda vão demorar um pouco para se reestruturar. Todos os setores foram afetados. A gente já vinha se preparando para focar no e-conmerce e conseguir enfrentar esse momento de crise. O pensamento é investir em vendas virtuais, ter calma e muito cuidado nas decisões tomadas. Tivemos que demitir algumas pessoas, não teve jeito. Temos um caixa muito apertado, precisávamos quitar as dívidas com fornecedores, proprietários das lojas. Não sabemos o que vai acontecer, onde tudo isso vai parar”, contou.
Já o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia, Paulo Mota, criticou a prorrogação do decreto municipal e afirmou que a preocupação dos lojistas em relação às possíveis demissões são contínuas.
“A nossa preocupação continua, sem uma previsibilidade clara de quando a economia vai voltar a funcionar. São mais 15 dias que o prefeito entende que Salvador deve ficar sem atividades econômicas na área de comércio e serviços, mas qual a segurança que os empresários e trabalhadores têm de que daqui a 15 dias ele não vai prorrogar novamente?”, questionou Mota, que disse ainda teme a gravidade do que pode estar por vir.
“Está falando um critério mais consistente quanto à gravidade da suspensão da atividade econômica paralisada. É claro que a vida deve estar sempre em primeiro lugar, sempre digo isso. Mas, do jeito que as coisas estão indo, elas podem ficar muito mais complicadas para a sobrevivência das pessoas. O desemprego está começando a ficar muito presente. Estamos muitíssimos preocupados com toda essa situação. As coisas estão tomando um rumo de muita preocupação mesmo”, completou.
As medidas adotadas pela prefeitura visam o controle do avanço do coronavírus, com a redução de aglomerações em espaços públicos. Além do fechamento de shoppings e lojas, restaurantes e bares também não devem abrir, assim como academias, cinemas, clínicas de estética e salões de beleza, por exemplo.
*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro