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Gil Santos
Publicado em 21 de setembro de 2022 às 05:25
- Atualizado há 2 anos
Quando as primeiras casas começaram a ser construídas no entorno da Lagoa da Timbalada, no bairro do Cabula, moradores contam que, nas margens, havia apenas vegetação e alguns animais. Com o tempo, a selva de pedra formada por pequenos imóveis e sobrados avançou até a beira do lago e não restou mais espaço. Por isso, quando a prefeitura informou que faria uma requalificação, eles ficaram curiosos. A obra foi entregue nesta terça-feira (20).
O principal destaque é o deck, uma estrutura de madeira de eucalipto, com corrimão e guarda-corpo, que substituiu a antiga beirada de terra e mato. O local foi escolhido pelos visitantes como o melhor ponto para as selfies. Diante dele estão as águas calmas, esverdeadas e profundas da antiga pedreira. Moradores contaram que existe algo místico envolvendo o local e que muitas pessoas já se acidentaram tentando mergulhar na lagoa.
A dona de casa Marivalda de Jesus, 50 anos, vive há 30 anos no bairro e foi conferir o que fizeram com uma das regiões mais bonitas da cidade. Ela caminhou pelo espaço, subiu os dois degraus que levam ao deck, passou a mão pelo grada-corpo, visitou o quiosque e sentou em um dos bancos, de costas para o parque infantil.
“Ficou tudo muito bonito. Quando eu vim morar aqui só tinha mato. As casas ainda eram de taipa e não havia nada, era um grande vazio. O bairro cresceu, mas não tivemos muitas melhorias. Eu evito sair de casa, mas como minha mãe é do interior e está me visitando resolvi vim com ela ver como ficou a lagoa”, contou.
O lugar ganhou praça com parque infantil contendo gangorra e escorregadeira, quiosque, mobiliários urbanos como mesinhas para encontros e jogos, paraciclo e lixeiras. As crianças não aguentaram esperar pela chegada das autoridades e começaram a subir e a descer dos brinquedos. O chão de emborrachado evitou machucados. O mestre de capoeira Azulão levou alguns dos alunos para o evento e lembrou dos tempos de menino. Parque infantil com balanço e escorregadeira (Foto: Marina Silva) “Morei a vida inteira na Engomadeira, no Cabula. Meus pais mudaram quando eu tinha 1 ano. Hoje, tenho 44 anos. A minha infância inteira foi aqui, brincando nessa lagoa, e vi muitos conhecidos meus e, depois, dos meus alunos se machucarem. Para a gente que conhece a região há anos a mudança do antes e depois foi muito grande”, contou, enquanto atrás dele dois adolescentes escalavam um barranco para saltar na água.
A requalificação incluiu também ações de paisagismo ao redor da lagoa, como a plantação de mudas de árvores, arbustos e gramado. Já os passeios foram adaptados para receber deficientes visuais e pessoas com dificuldade de locomoção. O projeto alcançou 1 mil m² de área e envolveu recomposição da via que dá acesso à lagoa, com pavimentação em piso intertravado.
Investimento O investimento na obra foi de cerca de R$ 2,5 milhões. Quando ela foi anunciada, em setembro de 2021, a previsão era de que durasse três meses e custasse R$ 1 milhão, mas a empresa contratada abandonou a missão logo no início, segundo a prefeitura, porque os custos influenciados pela pandemia e a guerra na Ucrânia superaram a expectativa. A segunda colocada na licitação foi chamada e fez o serviço.
Foram gastos R$ 1,2 milhão na requalificação no entorno da lagoa e o restante na drenagem e pavimentação da via que liga a região à Rua Silveira Martins, que não estava prevista no projeto original.
O prefeito Bruno Reis disse que o principal ganho foi de qualidade de vida. “A obra teve um escopo e um objeto muito maior do que estava inicialmente previsto. Fiquei feliz com o resultado. É mais uma área de lazer e de interação que a gente devolve à cidade, uma área tão bonita e que a comunidade vai poder usar de uma forma melhor, com mais segurança e conforto. Tenho certeza que será um ponto turístico desse local. À medida que recuperamos a cidade vamos elevando a autoestima do cidadão, que vai cada vez mais tendo orgulho e alegria de viver na cidade”, contou.
Depois do evento, ele visitou alguns imóveis e conversou com moradores. A presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield, responsável pelo projeto, contou que ele foi elaborado em parceria com a população local, em encontros antes e durante a pandemia, e que houve algumas peculiaridades.
“O projeto valorizou o espaço. Não havia nesse local absolutamente nada. Não tinha espaço para a comunidade passar os fins de semana, seja de contemplação, para crianças ou de convivência. É o máximo que conseguimos fazer com um espaço tão pequeno. Tivemos que chamar um especialista em cálculo em madeira para calcular o deck. Temos engenheiros, arquitetos, sociólogos, ou seja, a equipe é interdisciplinar”, disse.
As obras foram coordenadas pela Superintendência de Obras Públicas (Sucop). A requalificação atende a uma antiga reivindicação da comunidade Amazonas de Baixo, que está inserida em uma Zona Especial de Interesse Social (Zeis), sendo, portanto, uma área que apresenta precariedade de serviços urbanos.