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Wendel de Novais
Publicado em 24 de fevereiro de 2021 às 23:12
- Atualizado há 2 anos
Depois da despedida com praia lotada e bastante aglomeração na véspera, ontem, os banhistas sumiram das areias do Porto da Barra que, juntamente com outras praias de Salvador, está interditado até o dia 02 de março para evitar o aumento de casos de covid-19. Sempre disputada, a faixa de areia do Porto não tinha um pé de gente. No calçadão, só apareceu quem foi se exercitar, correndo ou andando, e pouquíssimos curiosos que fotografaram a praia deserta. Em toda área, em vez do barulho das caixas de som dos banhistas, de gente conversando e ambulantes anunciando produtos, o que se ouvia era o som do quebrar das ondas.
Na água, algumas pessoas estavam praticando esportes como remo, natação e stand-up e pescadores seguiram na labuta, o que foi liberado pela Guarda Municipal por não causar aglomeração. Tudo parecia mesmo com aquela Barra do início de novembro de 2020, pouco antes da reabertura do Porto, que vivia vazia. Até os ambulantes não foram, dava para contar nos dedos os que estavam na calçada. Toda essa mudança, para moradores e trabalhadores, é consequência exclusiva da nova interdição do Porto da Barra que, segundo eles, é o principal motor da movimentação e, consequentemente, da aglomeração que se registrava todo dia na região. Barra ficou vazia em primeiro dia de fechamento do porto (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Alívio imediato
Para quem se preocupava com o avanço do coronavírus na cidade e o colapso nos sistemas público e privado de saúde da capital, ver o local com pouca gente e nenhuma aglomeração foi um alívio e uma demonstração de como a praia tem impacto no fluxo de pessoas por ali. Esse é o caso de uma moradora, que não quis se identificar e definiu o fechamento da praia e o número quase que irrelevante de pessoas na rua como causa e consequência. "Você viu a diferença, né? Só fechando para o povo parar de vir. Não aprendem, não se comportam de acordo com o que estamos vivendo. Aí dá nisso. Ficou sem nada. E é até melhor, meu filho. A praia movimenta isso aqui, traz gente demais. Com tanto caso novo, é o que não precisamos", disse aliviada.
Quem passa por lá todos os dias também sentiu a diferença de movimentação na área e atribuiu isso ao fechamento da praia. Natalício Gomes, 57 anos, que trabalha como barman, tem o costume de passar sempre pela Barra de bicicleta e disse que tudo só estava assim porque o povo não podia ocupar a praia. "Tá é deserta, né. Toda vez que eu venho pedalar, isso aqui tá cheio. Tem gente na água, na areia, aqui no passeio e nos bares. Mas, agora que a praia fechou, parece que o povo some. É que o Porto da Barra é mesmo uma atração daqui. Com ele assim, interditado, pouca gente vem, não tem jeito", afirmou.
Para o profissional da dança João Cortês, 35, disse que era triste ver a praia dessa forma, mas que o movimento era necessário devido ao volume de gente que vai até a Barra por conta dela. "É completamente incomum passar por aqui e não ver a Barra cheia. Eu corro aqui todos os dias e não vejo isso. Acho que isso é o impacto da praia fechada. É deprimente, mas é necessário e até bom pro meio ambiente. É uma praia muito turística, que tem o movimento das pessoas daqui e todo mundo que viaja pra cá porque a cidade estava cheia de turistas, o que causa inevitavelmente um número alto de pessoas reunidas aqui", declarou. João ficou triste com fechamento, mas acredita que é necessário (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) No ritmo do porto
Quem trabalha na região mostrou a mesma opinião das pessoas que frequentam as imediações do Porto da Barra. Para um garçom, que preferiu não revelar a identidade ao conversar com o CORREIO, a praia é fundamental para que apareça um número de pessoas acima do que é aceitável em tempos de pandemia. "Isso aí é o principal foco de aglomeração aqui. É claro que não é o único porque quem quer aglomerar, aglomera até sem praia só para fazer isso. Mas essas pessoas são minoria. A maioria vem mesmo pela paixão pela praia e pelo ambiente, esquecendo dos perigos de contaminação", disse. Barra costuma girar em torno da movimentação na praia (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) José Roberto, 45, que também é garçom, não foi tão incisivo, mas reforçou a ideia de que a região reage ao que está na praia, funcionando de acordo com o ritmo dos banhistas que por ali passam. "Não tem comparação não, meu velho. A diferença é muito grande sem praia. Com a praia fechada, não aparece banhista e o calçadão é diretamente afetado por isso. Até os bares, como você pode ver, ficam vazios. De certa forma, tudo que tá ao redor funciona no ritmo da praia", opinou.
Balanço da fiscalização
A reportagem do CORREIO procurou a Guarda Civil Municipal (GCM) para saber do balanço do primeiro dia de fechamento das praias em Salvador. Segundo a assessoria da GCM, ao longo da quarta-feira foram encontradas poucas pessoas em descumprimento ao Decreto Municipal, sendo uma quantidade maior de orientações realizadas ao longo do Rio Vermelho, Boca do Rio e Jaguaribe.
O Diretor de Segurança Urbana e Prevenção à Violência, Maurício Lima informou que amanhã as ações serão retomadas com apoio da Semop, Salvamar e Polícia Militar.“Estamos finalizando a colocação dos bloqueios físicos com tapumes e cerca com arames lisos em algumas praias. Considero como positivo, visto as poucas orientações que precisaram ser feitas ao longo de mais de 60km de praias”, afirmou.
*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro