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Gabriel Galo
Publicado em 17 de junho de 2019 às 10:33
- Atualizado há 2 anos
Alguns estádios são sagrados para a prática do futebol. No Brasil, a lista é longa. E em qualquer uma que for feita, é garantida a presença do Mineirão e do Maracanã como templos do esporte bretão.
Na Copa de 2014, os estádios sofreram baques tremendos na relação com a Seleção Brasileira. Foi no Mineirão que o maior vexame do futebol nacional foi provocado. Foi no Maracanã que a final da Copa que desejávamos desde 1950 foi disputada sem a presença da amarelinha.
Seria a Copa América, cinco anos mais tarde, a possível redenção das duas casas como boas-vindas ao futebol de nações. Seriam, enfim, respeitadas, validadas, valorizadas. Trariam à tona o melhor de cada torcida, suscitariam emoções, amplificariam vozes de exaltação. A força de Nelinho chutaria a bola do trauma bem pra lá das arquibancadas mineiras, Zico meteria um gol de falta para vibrar corações brasileiros. Viva ao Mineirão! Viva ao Maracanã!
Pois nas bolinhas sorteadas distribuindo países a grupos e sedes, ficou sacramentado que o maior de todos, o Mário Filho, seria estreado na competição com um Paraguai x Catar, enquanto o trem-bão do Mineirão abriria suas portas para recepcionar Uruguai e Equador.
Se no Rio não se sabia exatamente o que se esperar, tudo pode acontecer quando Cavani e Suárez estão em campo.
Pois com a bola rolando, não se viu primor técnico.
Paraguai e Catar jogaram no limite de suas possibilidades. Os paraguaios, cheios de pés-de-obra que abastecem o mercado brasileiro, abriram 2 a 0, para ver o valente selecionado árabe alcançar o empate em belos gols.
Já o Uruguai mostrou força. Abriu 3 a 0 antes do intervalo contra o Equador, que veio desfalcado de Quito e tratou de se desfalcar duplamente, com a expulsão de Quintero ainda no primeiro tempo. Um gol contra fechou a conta de um Equador incapaz de finalizar uma vez que fosse ao gol.
Ambos os jogos não cumpriram as promessas implícitas. A pouca expectativa do jogo do Rio foi revertida em surpresa com uma partida movimentada. Já em Minas, o trator uruguaio prometido na virada dos tempos foi tocado na maciota num segundo tempo sonolento.
Nem tanto lá, nem tanto cá. O rame-rame não mudaria necessariamente as histórias de cada estádio. Só que o espírito de cada local sofreu mais um baque em sua auto-estima. Ora, pois, estádio de futebol tem espírito, sim, senhor. Tem pulso, tem respiração, tem sentimento.
As almas saudosas das glórias de dois dos palcos maiores do futebol sofreram ao ver suas arenas sem gente, sem voz, sem cor, sem eco.
Percebe-se, pois, que este é o golpe mais forte na chama de cada um. Traumas de jogos de futebol fazem parte do esporte. Ganha-se e se perde em ciclos. Mas é no abandono da gente, da torcida, que o futebol se reduz, se encolhe. É na vastidão das cadeiras desocupadas que o espírito tem sua aura atacada.
Maracanã e Mineirão foram construídos para grandiosidades. Não merecem o oco sem volume.
Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo e reproduzido com autorização do autor.