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Crônica do dia: O grupo B e a injustiça justiceira

'A bola na rede conta, e muito', sentencia Gabriel Galo

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Galo
  • Gabriel Galo

Publicado em 20 de junho de 2018 às 23:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: AFP

Fala-se da existência da Lei do Retorno. De carma. De que pau que dá em Chico dá em Francisco. Que o que você faz com os outros um dia volta para puxar o seu pé. Assim tem sido a sina do Grupo B da Copa do Mundo.

Na primeira rodada, Marrocos teve a bola, os lances agudos, as chances de gol. Pressionou o quanto pôde o retraído e inofensivo Irã. O ímpeto marroquino foi colocado à prova aos 49 minutos do segundo tempo, numa bola despretensiosa alçada em sua área, aparentemente sem perigo. Mas uma cabeçada contra a própria meta de seu zagueiro decretou a vitória do país persa, que terminou o jogo sem um arremate certeiro sequer ao gol adversário.

O Irã comemorou o gol da sorte, chorado e imerecido. Entrou na rodada seguinte para enfrentar a temida Espanha. Apesar do tumulto interno pré-Copa e a troca de técnicos, a Espanha tinha feito grande jogo contra Portugal na primeira rodada. O empate em 3 a 3 esconde o domínio espanhol na partida. Conquistou o território adversário com desenvoltura. Sofreu os gols nas únicas finalizações que foram na direção do gol de De Gea. Merecia ganhar, mas não levou, graças a um certo Cristiano Ronaldo.

Pois no embate, o Irã comportou-se como grande do futebol. Segurou-se teso na defesa, enquanto seus ataques levavam perigo à meta espanhola. Do outro lado, a Espanha sentia dificuldades de articular sua jogadas. Trocava passes como de costume, mas sem objetividade.  Até que num lance fortuito, ainda no aquecer do segundo tempo, numa rebatida da zaga iraniana que tentava afastar o perigo, a bola explode na perna de Diego Costa e entra, fazendo o 1 a 0 definitivo a favor dos espanhóis.

Ah, que reviravolta espetacular do destino! Se no primeiro jogo o Irã vencia sem merecer, num gol sem querer, agora perdia sem merecer num gol igualmente sem querer. A lei do retorno desceu cravando sua flecha no peito persa. Enquanto isso, a Espanha, que não venceu quando mereceu, agora vencia quando não fazia por vez. O equilíbrio, o Yin-Yang da bola, se estabeleceu.

No outro jogo, Marrocos enfrentava Portugal. Injustiçado contra privilegiado. Na alvorada da partida, Cristiano Ronaldo, sempre ele, martelou o 1 a 0 para os lusos. Os marroquinos não se deixaram abater. Tal qual na primeira rodada, pressionaram, dominaram e sofreram com a ineficácia de seus avançados. O tempo corria e nada do zero sair do seu lado do placar, o zero que eliminaria a seleção africana da Copa precocemente.

Como acreditar na justiça quando se faz por merecer duas vitórias e chega ao fim com duas derrotas? Quanto há de valer a vitória moral?

A Lei do Retorno, neste caso, foi jogada para escanteio, cobrado na cabeça do craque artilheiro. E está aqui a maneira de enxergamos a vitória portuguesa com olhos de merecimento por contexto. Um Yin-Yang torto, em que um lado alcançava 4 pontos mesmo merecendo ter zero, enquanto o outro dava adeus ao torneio com 0 ponto, merecendo 6. No panteão da história, a bola na rede conta, e conta muito. Merecimento é também, especialmente sob a óptica do futebol de resultados, aquele que executa. Que penaliza e estufa. Marrocos acabou sendo o algoz do destino, que insiste em premiar a ética de trabalho do gajo, em mais um ano iluminado. Afinal, como dizer, em sã consciência, que alguma equipe que seja Cristiano Ronaldo mais 10 não mereça a vitória?

Está, por fim, tudo em ordem no universo. E mesmo que se racionalize que alguém deveria ser sacrificado neste castelo de cartas da injustiça justiceira, materializada em fidelidade a Irã e a Espanha, favorável a Portugal e cruel a Marrocos, que este último se pergunte: “Tudo bem, entendo, mas justo eu?”

Gabriel Galo é escritor. Texto originalmente publicado no site Papo de Galo.