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Crônica do dia: O anti-jogo dos fingidores do futebol

A Inglaterra abusou para chegar às oitavas

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Galo
  • Gabriel Galo

Publicado em 3 de julho de 2018 às 21:12

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Franck Fife/AFP

No auge da fúria torcedora e do afã futebolístico, não me seguro e larga a verdade universal: a única coisa boa que a Inglaterra fez pelo futebol foi ter inventado este esporte maravilhoso. Foi criar num momento de epifania e no segundo seguinte levar as tradições de fish and chips para dentro dos gramados e para as pernas pesadas dos seus atletas. Coisa feia…

De lá para cá, os súditos da Rainha Bebete se esforçaram para angariar inimizades. Se recusaram de participar das primeiras edições de Copa porque se julgavam superiores. Foram pela primeira vez em 1950 e perderam dos EUA, que até hoje é periférico no esporte.

Em 1966 levou sua única taça relevante jogando em casa, num Wembley lotado. Contaram com a ajuda providencial da arbitragem, validando um gol que não entrou e batendo a Alemanha por 4 a 2. Se é para vencer, que se conte com o auxílio luxuoso do apito.

Esta percepção foi trazida para 2018: convoca o árbitro! E assim se fez. O assoprador de apito americano, talvez compadecido pela vergonha imposta há tanto tempo, piscou o olho em ‘xá-comigo’ e teve como função primordial enjoar o futebol dos cafeteros. E o fez com maestria!

Inverteu faltas escabrosas. Marcou um pênalti inacreditável. Distribuía cartões amarelos tal qual panfletista de empreendimento imobiliário no semáforo, sem escolher nem ver a quem. Fraco como o futebol de seu país, fora da Copa, aceitou e cedeu à pressão dos vermelhos.

E já estamos na seara das pressões e dos dramas, como não repudiar os atos de uma equipe que em vez de jogar bola preferiu inventar agressões inexistentes? O campo de jogo virou um palco de teatro, repleto de fingimento.

E para coroar, lembremos da capa do The Sun, tablóide local, que regurgitou preconceito mundo afora. Neste embate de oitavas-de-final, meus amigos, eu era Colômbia, como se nascido em Cartagena, morador de Bogotá, que passa férias em San Andrés. Comemorei o gol de Mina como a um título.

Veio, então, a disputa de pênaltis. De um lado a Inglaterra e seu histórico desmoralizante, derrotada em todas as três ocasiões em Copas. Do outro a Colômbia que era pura raiva (e um mau futebol, porque sem James Rodriguez, é uma equipe menos que comum).

E no troca-troca de chutes, veio como uma bomba a defesa de Pickford e o seguinte gol britânico. O gol da inédita classificação inglesa nos pênaltis, carimbando seu espaço na próxima fase, contra a Suécia.

Na sorte que desequilibrou os dois caminhos à final na Rússia, a Inglaterra é o único campeão do lado mais fraco. Levarão a campo seu anti-jogo bufo e enfadonho. Seguirão sem angariar qualquer sorriso simpático. Numa época em que lugares como Jamaica, Cuba e Paquistão saem às ruas em comemoração pela classificação do Brasil, ninguém levantará bandeira pela Inglaterra. Não haverá celebração, nem comoção. Pelo contrário. Haverá tão somente o desconforto de um completo desmerecimento e a ira colombiana compartilhada e sentida por todos, que consequentemente passarão a torcer contra. Serão eles, os ingleses, contra o resto do mundo. Melhor chamar o juiz de novo, para não se sentirem tão sozinhos. Talvez assim, no artifício do desconjuro, tenham alguma chance. *Gabriel Galo é escritor. Texto originalmente publicado no site Papo de Galo.